Carro caro_Oficina Mobilidade
A constatação não é nova: o preço do carro no mercado brasileiro não é acessível e vem aumentando nos últimos anos. Levantamento da consultoria Bright Consulting aponta crescimento acima de 56% no tíquete médio do preço de 2019 até os dias de hoje: R$ 94.547 contra R$ 147.854.
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O trabalhador brasileiro com renda média de R$ 3.326, conforme dado do Instituto Brasileiro de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), levaria 22 meses, sem gastar com mais nada, para comprar um Citroën C3 Live por R$ 73.490, atualmente o modelo mais barato do País. Para se ter ideia, não há automóvel com câmbio automático no Brasil vendido a menos de R$ 100 mil.
A elevada carga tributária sobre o automóvel tem peso significativo nas contas. Entre os principais tributos, o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) tem alíquota que varia de 7% a 25%, dependendo do tipo do modelo e tamanho do motor.
O Imposto sobre Circulação de Mercadoria e Serviços (ICMS), variável conforme o Estado do País, representa de 12% a 18% no preço. Já o Programa de Integração Social/Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (PIS/Cofins) soma 9%.
Tem mais: há o Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA), com porcentual entre 2% e 4%. De maneira geral, de 30% a 50% do preço final de cada carro vendido no País vão para os cofres públicos.
Contudo, os impostos não são os únicos responsáveis pelos valores exorbitantes. A variação do câmbio é outro vetor que determina o preço cobrado pelas fabricantes.
Peças ou sistemas importados ficam mais caros com a desvalorização do real. Os custos da produção também são impactados pela mão de obra, burocracia, logística, energia e insumos.
Outros componentes que influenciaram na alta de preço dos últimos anos são as regulamentações cada vez mais severas, mas preponderantes na evolução tecnológica. Vale ressaltar que as margens de lucro das montadoras e das concessionárias – mantidas em absoluto sigilo – igualmente afetam o valor dos veículos.
“As exigências do Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve) e do Conselho Nacional de Trânsito (Contran) tornaram os carros menos poluentes e mais seguros. E isso não vai parar”, observa Henry Joseph Júnior, diretor de Sustentabilidade e Parcerias estratégicas e institucionais da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).
“A tendência é de menor participação dos chamados carros de entrada, que são mais baratos”, afirma.
O preço final para o consumidor fica ainda maior se ele optar pelo financiamento. O ciclo de aumentos da taxa básica de juros, iniciado pelo Banco Central em setembro de 2024, saiu de 10,5% e está em 14,25%. Na ponta do varejo, essa decisão pesa muito mais no bolso.
“Estamos vivendo a maior taxa de juros da história para financiar um veículo”, destaca Márcio de Lima Leite, ex-presidente da Anfavea. “A taxa média chegou a 29,5% ao ano, o que faz muitos consumidores desistirem da compra.”
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