É senso comum que as árvores são grandes aliadas da sustentabilidade, mas nem todo mundo conhece os efeitos positivos também para a mobilidade urbana. A arborização torna a locomoção mais agradável, contribui para evitar enchentes e ajuda a preservar o pavimento, entre vários outros benefícios. Trata-se de uma das “soluções baseadas na natureza” que vêm sendo defendidas como medidas essenciais de adaptação dos grandes centros urbanos às mudanças climáticas.
Povoar as cidades de árvores é um esforço essencial para reverter os efeitos prejudiciais do planejamento urbano feito no Brasil, ressalta a professora Andréa Santos, do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ). “Centrado no modal rodoviário de transporte, esse modelo de desenvolvimento foi baseado em muito asfalto e concreto, o que trouxe um saldo negativo para as nossas cidades. A arborização é um dos caminhos para reduzir esse saldo negativo”, diz a professora.
Na capital paulista, a escolha dos locais passíveis de plantios, das espécies e do porte adequado para cada situação depende da análise feita pelos técnicos atuantes na prefeitura – engenheiros agrônomos, engenheiros florestais e biólogos –, com base nas diretrizes estabelecidas pelo Plano Municipal de Arborização Urbana, lançado em 2020. O Plano estabelece a elaboração de Planos Regionais de Arborização para as 32 Subprefeituras e o plantio com espécies preferencialmente da Mata Atlântica, como resedá e pata-de-vaca (pequeno porte), ipê-amarelo e quaresmeira (médio porte), sibipiruna e jacarandá-mimoso (grande porte).
Segundo a Secretaria Municipal das Subprefeituras (SMSUB), neste ano já foram plantadas, até o fim de agosto, mais de 4,6 mil novas árvores na cidade. O maior volume de trabalho, contudo, está voltado à manutenção e ao manejo da população que já existe. Só no primeiro semestre, foram podadas 86.130 árvores na cidade de São Paulo – média de 3,3 mil por semana.
Há diferentes programas municipais voltados à expansão das áreas verdes. Um deles é o FLOReCIDADE – que, iniciado em 2019, envolve o plantio de mudas, grama e arbustos em vias de grande circulação de veículos. Mais de 340 mil m² de áreas verdes já receberam novo paisagismo por meio do programa, incluindo as Avenidas 23 de Maio, Bandeirantes e Radial Leste. Entre as intervenções mais recentes, estão a da Marginal do Tietê, que ganhou 3,8 mil m² de áreas verdes, e a da Avenida Atlântica, em execução, que totalizará 11,4 mil m².
Outra iniciativa são os muros verdes, que vêm sendo implantados desde 2017 com a proposta de cultivo de espécies mais resistentes às condições climáticas e ambientais da Grande São Paulo, sujeita a fortes tempestades. São folhagens, suculentas, samambaias e até mesmo ervas utilizadas na culinária, como manjericão e alecrim. O mais conhecido dos muros verdes, com 10,1 mil m², está situado nas laterais da Avenida 23 de Maio.
Estética
É mais agradável passar por vias arborizadas. Essa característica contribui para reduzir o estresse no trânsito e, potencialmente, a ocorrência de discussões ou acidentes.
Conforto Térmico
A sombra proporciona frescor, aumenta a umidade do ar e reduz a temperatura, tanto para pedestres quanto para passageiros de carros e do transporte coletivo.
Menos poluição do ar
As folhas das árvores retêm parte das partículas em suspensão no ar, frequentes em cidades com grande tráfego de veículos. Assim, contribuem para evitar o agravamento de doenças respiratórias, como asma, pneumonia e alergias. Essas partículas são depois “lavadas” pela água da chuva.
Sensação de bem-estar
A combinação entre estética, conforto térmico e redução da poluição do ar é um incentivo às caminhadas. Quanto mais gente caminhando, menos carros nas ruas.
Antídoto contra enchentes
Muitos congestionamentos são provocados por ruas que se enchem de água durante as chuvas. As árvores retêm parte da água das chuvas e tornam o solo urbano mais permeável, fator que contribui para evitar enchentes.
Preservação do patrimônio
Pavimentos em áreas arborizadas sofrem menos com os fenômenos de contração e dilatação, o que reduz o nível de desgaste em comparação às áreas diretamente expostas ao sol. O mesmo raciocínio vale para componentes dos veículos, como os pneus.