O cenário de pandemia tem acelerado importantes transformações nas cidades. A tendência de trabalho remoto e híbrido, combinada com o uso intensivo de serviços virtuais, tem impulsionado mudanças na forma de ocupação dos espaços e de mobilidade urbana, pautando uma nova forma de viver e de se locomover em grandes centros urbanos.
E isso influenciará o uso de espaços públicos, como praças e parques. Uma pesquisa realizada pela plataforma Vida no Centro, em parceria com o Observatório de Turismo e Eventos da São Paulo Turismo, identificou uma busca crescente por locais abertos para lazer e esporte. Mais do que isso, o levantamento aponta para uma reorganização da dinâmica econômica nos centros urbanos, a partir do impacto que o home office ganhou no fortalecimento dos bairros, que antes funcionavam apenas como moradia e agora passam a ter um papel maior no consumo.
O processo de uma reocupação das cidades passa pela transformação da mobilidade urbana. Um dos grandes vetores é a otimização na forma de deslocamento, em que o uso individual do automóvel gradualmente perde o protagonismo e cede espaço a uma combinação do transporte público e compartilhado.
Será possível repensar importantes questões associadas à ocupação dos espaços nas cidades. Isso porque, em média, um carro passa 95% do tempo de vida útil estacionado e, por consequência, cerca de um terço das áreas urbanas são ocupadas por estacionamentos. Ao tirar parte desses automóveis das cidades, será possível ampliar os espaços para circulação de pessoas, reduzir o tamanho das vias e aumentar calçadas e espaços ao ar livre destinados a lazer, entretenimento e esportes.
Esse conceito de cidades já começa a ser estudado em alguns centros urbanos ao redor do mundo, calcado no uso de tecnologia. O governo de Cincinnati, por exemplo, tem trabalhado em parceria com a Uber no projeto Mobility Lab. A ideia é analisar dados de deslocamento da população para saber como os recursos tecnológicos podem melhorar a mobilidade urbana, a partir de uma infraestrutura que integre o transporte público e compartilhado, com aplicativos de transporte particular e de micromobilidade (bicicletas e patinetes).
E, ao contrário do que se imagina, essa integração dos modais não reduz o uso do transporte público. Um estudo realizado pelas universidades de Toronto, Utah e Brigham Young em 196 regiões dos Estados Unidos identificou que os aplicativos de transporte privado elevaram, na média, em 5% o volume de passageiros no ônibus, trem e metrô, trazendo benefícios para os cofres públicos.
As plataformas digitais montam, de forma automatizada, rotas personalizadas para o usuário, a partir da combinação e integração do transporte público e compartilhado. Por meio da análise de tráfego e de opções de modais, informam quais as melhores alternativas para otimizar tempo e investimento de forma individualizada, sem utilizar um veículo particular.
Se a pandemia acelerou a transformação da mobilidade e da ocupação urbana, ela também nos convida a participar de forma mais ativa dessa reinvenção das cidades. Se queremos um lugar melhor para viver, precisamos refletir sobre o que podemos começar a fazer hoje para, com as tecnologias e as ferramentas que já estão ao nosso alcance, contribuir para reinventar esse futuro e criar locais melhores para viver, trabalhar e se divertir.