Aumenta adesão de empresas de logística aos veículos elétricos

As motoristas Fernanda Gomes, Katia Picolo e Rosely Pinheiro (da esq. para a dir.) fazem parte do programa Rainhas do Volante e assumiram o comando dos três primeiros caminhões elétricos JAC iEV350T entregues à Braspress. Foto: Marco Ankosqui

15/09/2021 - Tempo de leitura: 8 minutos, 4 segundos

Os veículos elétricos já se tornaram um aliado importante nas operações logísticas de muitas empresas. O compromisso com o meio ambiente na direção da neutralidade de carbono, o investimento em tecnologias de ponta e a redução dos custos de médio e longo prazos estão motivando as companhias a reforçar suas frotas com modelos movidos a bateria.

A Braspress, empresa de transporte de encomendas, tem 3 mil veículos em sua frota e, em julho, adquiriu dez caminhões 100% elétricos JAC iEV350T.

Três já estão em operação, outros três serão entregues neste mês e mais quatro chegarão em outubro. “A nossa atividade, de fazer entregas com veículos movidos a diesel, é muito poluidora”, admite Urubatan Helou, diretor-presidente da Braspress. “Então, iniciamos uma disrupção em prol da energia elétrica. Vamos mexer na motorização sem alterar o nosso negócio, que é o transporte.”

Para Helou, a iniciativa de adquirir dez caminhões elétricos é um passo para o futuro da logística de distribuição. Com sede em Guarulhos (SP), a Braspress quer se envolver no engajamento mundial de melhorar a mobilidade urbana, reduzir as emissões de poluentes e gases de efeito estufa. “A sustentabilidade foi o principal motivo para nossa decisão de compra. Do jeito que a coisa vai, morreremos sufocados pelo aquecimento global”, alardeia.

Aumento gradativo da frota de elétricos

Antes de fechar negócio com a marca chinesa, a Braspress testou os veículos durante três meses para avaliar a viabilidade nas operações logísticas. O iEV350T foi aprovado e, como parte do programa Rainhas do Volante da empresa, apenas mulheres assumirão o comando dos modelos.

Os pequenos caminhões da JAC Motors têm autonomia de 200 quilômetros e podem transportar até 4 toneladas de carga. Serão destinados às operações que saem do centro de apoio da Braspress para abastecer a capital paulista e seus bairros. “No começo, um gerador a diesel fornecerá energia para realimentar as baterias dos dez caminhões. Com a ampliação gradativa da frota elétrica, instalaremos placas fotovoltaicas para realizar a recarga com luz solar. Assim, iremos promover o ciclo completo da sustentabilidade”, revela Helou.

Dos 3 mil caminhões da Braspress, 35% são de transporte pesado. Ele estima que, de 10 a 15 anos, a Braspress terá 90% da frota composta por veículos elétricos e híbridos (que trabalham com motores a combustão e elétricos). “Precisamos construir um histórico com esse tipo de transporte, levando em conta aspectos como manutenção e vida útil das baterias”, explica o executivo. “Em 2022, seguiremos com os investimentos e, em 2023, vamos analisar a conjuntura para tomar novas decisões.”

Parcerias acontecem no segmento de entregas e segurança máxima

Além de reduzir emissão de poluentes,veículos com propulsão elétrica trazem outras vantagens, como menor geração de ruído e liberação de circular sem restrição do rodízio. Foto: Divulgação DHL

Uma empresa, por si só, já revela um olhar no futuro da sustentabilidade ao adquirir veículos elétricos. Imagine, então, quando ela tem a parceria de outra potência em seu ramo de negócios. A DHL Supply Chain, líder mundial em armazenagem e distribuição, está colocando vans e veículos urbanos de carga (VUCs) elétricos a serviço do Grupo Boticário para as entregas nas suas lojas de cosméticos e perfumes na cidade de São Paulo.

Além de trazer mais agilidade aos negócios, a iniciativa pretende zerar as emissões das entregas da varejista de beleza. Com o projeto, iniciado em janeiro passado, o Boticário quer que 100% das entregas nas capitais sejam feitas por veículos elétricos até 2025. O objetivo da DHL é mais de longo prazo: zerar as emissões até 2050. A parceria evitará que 48 toneladas de gases, por ano, sejam despejadas na atmosfera a partir de 2022.

“Primeiramente, realizamos as entregas com vans elétricas e, em agosto, colocamos nas ruas os VUCs para atender a 40% das lojas da cidade de São Paulo”, afirma Gabriela Guimarães, vice-presidente de retail, e-commerce e services logistics da DHL Supply Chain.

Trabalho no pilar ambiental

A DHL leva os produtos do Boticário de um Centro de Distribuição, em São Gonçalo dos Campos (BA), para seu hub de transportes, na Grande São Paulo. De lá, 14 veículos elétricos fazem as entregas a 280 lojas, em quase todos os bairros da capital paulista.

“As duas empresas têm valores parecidos”, destaca Guimarães. “Sustentabilidade, diversidade, excelência e inovação são alguns deles.” E completa dizendo que, além das emissões, os veículos com propulsão elétrica trazem outras vantagens, como menor geração de ruído e liberação de circular sem restrição do rodízio.

“Esse movimento é um passo importante que reforça o trabalho no pilar ambiental. Avançamos nessa agenda, mas sabemos que ainda há muito a ser feito para a preservação dos recursos naturais”, afirma Fernando Modé, CEO do Grupo Boticário.

Em abril, a companhia assumiu 16 compromissos socioambientais, agrupados na plataforma Uma Beleza de Futuro, que inclui metas como neutralizar o impacto ambiental das emissões de gases de efeito estufa (GEE). A exemplo da Braspress, a DHL apoia a diversidade, na união com o Grupo Boticário, graças ao programa de formação de motoristas femininas para realizar as entregas, proporcionando uma visão diferente no universo ainda predominantemente masculino.

Carro-forte 100% elétrico

Ao lado, a WEG desenvolveu todo o powertrain elétrico para o primeiro carro-forte da Protege. Foto: Divulgação WEG

Automóveis, caminhões, vans, ônibus… Ao que parece, não há mais como a motorização elétrica crescer nos veículos, certo? Nem tanto. Ainda há campo para o desenvolvimento de carros de segurança máxima. É o caso da WEG, empresa de equipamentos eletroeletrônicos que atua no setor de bens de capital, com soluções em máquinas elétricas e automação, por exemplo. Ela fornece o powertrain para o primeiro carro-forte 100% elétrico do mundo.

O protótipo desenvolvido pelo Grupo Protege, empresa de proteção de transporte de valores, em parceria com a Eletra Industrial e a MIB Blindados, vem equipado com motor elétrico de 330 kW de potência e trabalha sem emissão de poluentes. Sua autonomia é de 75 quilômetros e a bateria leva 2h30 para ser totalmente recarregada. O sistema de frenagem regenerativa ajuda a realimentar a bateria e aumenta a autonomia do veículo.

Segundo a WEG, a redução média na emissão de dióxido de carbono será de 1,4 tonelada por mês. A substituição do diesel por tração puramente elétrica também derrubará os custos operacionais. O Grupo Protege estima economia de 65% no valor do quilômetro rodado e menor tempo de parada para manutenções.

Durante 18 meses, Protege e Eletra investiram mais de R$ 1 milhão no desenvolvimento do veículo blindado elétrico. “O projeto foi concebido para valorizar a sustentabilidade e ser uma alternativa para os próximos anos”, afirma Manfred Peter Johann, diretor superintendente da WEG Automação.

Dessa forma, com histórico de fornecimento de powertrain elétrico para caminhões, ônibus, trólebus, trens e navios, a WEG acrescenta, em seu portfólio, mais um importante projeto de mobilidade elétrica.

“Trata-se de um projeto com vistas para o futuro, alinhado com uma tendência mundial de pensar em soluções de menor impacto ambiental”, acrescenta Marcelo Baptista de Oliveira, presidente do Grupo Protege. “Além da emissão zero e de investimento em tecnologia 100% nacional, fizemos o retrofit de um chassi desmobilizado e encaminhamos o motor diesel e o sistema de transmissão anteriores para reciclagem.”

Kátia Picolo: “No começo, estranhei a ausência de barulho e o freio mais eficiente”. Foto: Marco Ankosqui

Desde 1996, a Braspress abre espaço para as motoristas mulheres dirigirem os veículos de transporte de carga, quebrando o paradigma de uma atividade dominada pelos homens. Sob o lema “Competência não tem sexo”, a empresa mantém o programa Rainhas do Volante, ação pioneira de contratação de motoristas mulheres.

Os dez caminhões JAC iEV350T comprados, recentemente, serão comandados por mulheres, mas, por enquanto, somente três estão em operação nas entregas do dia a dia. “É uma experiência diferente. No começo, estranhei a ausência de barulho, o freio mais eficiente e a resposta imediata nas acelerações”, afirma Kátia Picolo, que, ao lado das colegas Fernanda Gomes Flor e Rosely Pinheiro, forma o trio de motoristas dos primeiros veículos movidos a bateria.

Antes de assumir o volante, elas passaram por treinamento no simulador da Braspress, a fim de conhecer as particularidades de um carro elétrico. Durante sua jornada de trabalho na cidade de São Paulo, Katia dirige cerca de 70 quilômetros por dia e não precisa se preocupar com a autonomia da bateria. “No fim do expediente, ao chegar à empresa, eu mesmo coloco o caminhão na tomada para carregar.

Kátia trabalha na Braspress há um ano e, antes, era motorista de van escolar. Com a explosão da covid-19, porém, sua atividade parou. “Adoro dirigir e sempre fui apaixonada por caminhões. Com a pandemia, bati na porta da Braspress e tudo deu certo. Agora, dirigir um caminhão elétrico é uma satisfação extra”, comemora.