A oferta de transporte público diversificado, ciclovias e a tecnologia como aliada contribuem para a formação das chamadas cidades inteligentes, mas esta é só uma parte do conceito, que surgiu há mais de uma década e foi se transformando, como conta Willian Rigon, diretor de Marketing da consultoria Urban Systems.
“Por volta de 2010 começaram discussões sobre cidades inteligentes, mas do ponto de vista tecnológico”, afirma Rigon, referindo-se a diferentes recursos operando online, de forma integrada, entre eles semáforos inteligentes. “Nos anos mais recentes esse conceito está voltado à qualidade de vida que elas trazem para as pessoas”, afirma Rigon, que também é responsável pela elaboração do Ranking Connected Smart Cities, estudo que mapeou quase 700 municípios brasileiros com mais de 50 mil habitantes e apontou os 100 mais inteligentes e conectados. “A primeira versão foi lançada em 2015. As cidades são avaliadas em 75 indicadores”, afirma Rigon.
Entre esses indicadores há alguns voltados à mobilidade, como a proporção de carros por habitante e a de ônibus por automóvel, idade média da frota, presença de ciclovias, proximidade com aeroportos, a variedade no transporte coletivo e a possibilidade de pagamento com bilhete eletrônico.
Rigon ressalta que as cidades precisam trabalhar muito em planejamento urbano, pensando sempre na redução da quantidade e tamanho dos deslocamentos e também no aumento da mobilidade ativa, a pé ou sobre bicicletas.
As cinco primeiras colocadas de 2021 no Connected Smart Cities foram capitais: São Paulo, Florianópolis, Curitiba, Brasília e Vitória, nesta ordem, mas Rigon garante que é possível adaptar o conceito de cidade inteligente a municípios menores.
“O primeiro ponto é a cidade fazer o diagnóstico: mapear os problemas e a partir daí buscar as soluções com empresas de tecnologia e usando o exemplo de municípios semelhantes que colheram bons resultados”, diz o diretor da consultoria. A Urban Systems é especializada em estudos de planejamento urbano e imobiliário.
Em Foz do Iguaçu, o Parque Tecnológico de Itaipu (PTI), criou a chamada Vila A, um bairro de 4 quilômetros quadrados e 11 mil moradores, que conta com semáforos inteligentes, câmeras do tipo LPR (capazes de reconhecer placas de veículos) e paradas de ônibus com wi-fi, possibilidade de recarga de celular e painéis que informam o momento em que o ônibus passará.
“Para o usuário de transporte isso faz toda a diferença”, afirma Rodrigo Regis, diretor de Negócios e Inovação do PTI. De acordo com o executivo, qualquer empresa pode enviar propostas ao parque tecnológico a fim de testar e validar esse tipo de equipamento.
“Também recebemos aqui muitos prefeitos e secretários interessados em implantar estas soluções em suas cidades. E ensinamos os municípios a captar recursos a partir da apresentação de projetos”, recorda Regis.
Também há um estudo para implantação na Vila A de estacionamentos inteligentes. Quem mora ou frequenta o local poderá ver saber se existem vagas disponíveis em um aplicativo. O bairro também conta com carros elétricos compartilhados.
No ranking de 2021 do Connected Smart Cities, Salvador (BA) ocupa o décimo lugar geral e o primeiro na Região Nordeste. Fabrizzio Martinez, atual secretário de Mobilidade, relata as mudanças implantadas a partir da década passada. Entre 2013 e 2020 ele foi superintendente de Trânsito do município.
Naquele período, segundo ele, o sistema cicloviário passou de 30 para 300 quilômetros. Em 2015, a frota de ônibus recebeu equipamentos de GPS e os coletivos passaram a gerar dados como trajeto, paradas e grade horária a partir da linguagem GTFS, desenvolvida para informações sobre transporte. Os dados estão disponíveis para os aplicativos de mobilidade.
Também em 2015 foram implantados os primeiros corredores de semáforos inteligentes em Salvador. “Viajamos à Espanha e trouxemos a tecnologia utilizada em Madri. Percebemos um grande ganho nos tempos de deslocamento”, garante Martinez.
Em setembro de 2022 deve entrar em operação o primeiro de três trechos de um corredor de ônibus BRT em Salvador. Com 4,5 quilômetros, estará integrado ao metrô. Parte da frota terá veículos elétricos.
Salvador também conta com um centro de operações de tráfego e um aplicativo que recebe, de qualquer cidadão, informações sobre ocorrências. Também foi criado no meio da década passada. Se o problema for gerado por uma queda de árvore, por exemplo, o departamento responsável já é acionado no mesmo instante.
Martinez afirma que os carnavais ajudaram na construção da inteligência de tráfego de Salvador. “A partir de 2014 criamos restrições de acesso ao tráfego [na área em que se concentravam os foliões] utilizando barreiras inteligentes. Os moradores que precisam acessar a área recebem tags e informações sobre os locais em que podem passar com seus veículos. Foi uma ação disruptiva”, diz.
O departamento de trânsito também percebeu que as informações geradas durante o carnaval poderiam ser usadas no dia a dia. Martinez recorda que a inteligência de tráfego adotada em Salvador se baseia em um sistema de roteirização criado a partir de dados abertos, fornecidos por Waze e Google.