País desenvolvido não é aquele em que os pobres andam de carro, e sim aquele em que os ricos usam transporte público. A clássica frase é uma boa síntese da visão apresentada pelos participantes do MeetPoint “Expansão da mobilidade urbana sobre trilhos”, promovido pelo Estadão Blue Studio em parceria com a CCR Mobilidade.
Sob a mediação da jornalista Michelle Trombelli, os convidados analisaram o momento atual e as perspectivas do modal metroferroviário no Brasil, em especial o transporte sobre trilhos nas grandes cidades. Trata-se de um tema essencial quando se fala em sustentabilidade, já que a mobilidade urbana é um aspecto crucial tanto no que diz respeito às emissões de poluentes quanto à qualidade de vida da população.
Sergio Avelleda, coordenador do Núcleo de Mobilidade Urbana do Centro de Estudos das Cidades – Laboratório Arq.Futuro, lembrou que o transporte sobre trilhos se destaca pela capacidade de atender um grande número de pessoas, adaptando-se perfeitamente a um país como o Brasil, em que 85% da população vive em zonas urbanas. Ele lamentou, no entanto, que a evolução do modal no País tem sido bem mais lenta do que o desejado. “A cidade de São Paulo até pode ser considerada uma exceção, pois nela sempre havia alguma linha de metrô em obras ao longo das últimas duas décadas. No resto do País, a velocidade da expansão está claramente distante do ideal.”
A maior dificuldade são os altos investimentos – que, para Avelleda, só podem ser viabilizados no volume e no ritmo necessários com a soma de esforços empreendidos pelo poder público e o capital privado. Ele ressaltou que, considerando-se todos os ganhos envolvidos na construção de uma linha de metrô, o retorno é rápido. “Em cinco ou seis anos a sociedade consegue recuperar o valor investido, porque uma linha de metrô tem a capacidade de mudar a cara da cidade”, avaliou Avelleda. Ele citou, como exemplos, a transformação ocorrida em torno das estações Fradique Coutinho e Corinthians-Itaquera, em São Paulo. “Quem lembra como essas regiões eram antes do metrô percebe uma diferença brutal. Elas floresceram, se desenvolveram.”
Marcio Hannas, CEO da CCR Mobilidade, destacou o grande potencial de expansão dos trilhos urbanos no Brasil. “Tanto em São Paulo quanto no Rio, a média atual gira em torno de 5 km de metrô por milhão de habitantes, patamar ainda bem abaixo do apresentado por várias outras metrópoles do mundo”, ele comparou. O executivo descreveu as iniciativas em andamento para extensão das linhas em que a CCR Mobilidade já atua no País, além das perspectivas de novas operações.
Hannas enfatizou que, do ponto de vista de atualização tecnológica, a operação metroferroviária do Brasil não deixa a desejar na comparação com nenhum outro país. Exemplificou com o pioneirismo da Linha 4 do Metrô de São Paulo (atualmente operada pela CCR Mobilidade), primeira da América Latina a dispensar a necessidade de condutor, por ser totalmente automatizada. Citou, também, uma série de iniciativas inovadoras da empresa, como a automatização de bicicletários, a aquisição de robôs que fazem a limpeza das estações, a instalação de sensores de fadiga para os operadores e o uso de realidade virtual no treinamento das equipes de manutenção.
Outro aspecto ressaltado pelo CEO da CCR Mobilidade durante o encontro é a necessidade de aumentar a segurança jurídica para investidores privados no setor de mobilidade no Brasil. “Este é um ponto que vem evoluindo, mas permanece aquém do necessário para atrair grandes volumes de investimento”, avaliou.
A CCR Mobilidade é a sétima maior operadora de trilhos privados do mundo, com cerca de três milhões de clientes atendidos por dia em suas operações. Em São Paulo, a empresa atua nas linhas 4 e 5 de metrô e 8 e 9 de trem, além de duas linhas de metrô em Salvador e quatro linhas de Veículo Leves sobre Trilhos (VLT) no Rio de Janeiro.