O grande questionamento para viabilizar a mobilidade sustentável elétrica no Brasil é a falta de uma infraestrutura instalada. Isso me faz lembrar um ditado mineiro: ‘Primeiro, vem o trilho. Depois, o trem’. Na eletromobilidade, essa lógica vem de forma diferente, entre o uso urbano e o rodoviário, e novamente disruptivo, como quase tudo relacionado a veículos elétricos.
O carro elétrico atual ressurge, no século 21, com enorme infraestrutura pronta e adaptada, pois o usuário, em sua maioria, recarrega em sua residência e, como aprendi na prática, uma simples tomada de três pinos em sua vaga de garagem resolve o grande problema de recarga no meio urbano. Sim, grande parte das pessoas não sabe que uma tomada pode abastecer um carro elétrico. E que não precisamos ficar esperando ao lado do carro durante a recarga, que, em geral, é feita à noite, enquanto dormimos.
No meio urbano, seu hábitat natural, o veículo elétrico sobressai, em todas as comparações, em relação aos modelos a combustão. Atualmente, com a instalação de vários carregadores em pontos estratégicos das cidades, somada ao benefício de zero emissão de CO2 e baixa poluição sonora e aliada à sua boa aceleração e ao torque imediato, o torna o carro urbano ideal.
Voltando ao ditado mineiro, no uso rodoviário, precisamos urgentemente dos trilhos. Não conseguimos comparar a recente mobilidade elétrica com décadas de infraestrutura de postos de abastecimento. Os atuais veículos elétricos, com sua autonomia variando entre 150 e 450 quilômetros, não podem ficar reféns de pequenos percursos, e sim possibilitar viagens para não correr o risco de serem desconsiderados em uma compra ou servirem apenas como segundo carro da família.
A infraestrutura de recarga rodoviária que está sendo criada no Brasil é baseada em programas de pesquisa e desenvolvimento de distribuidoras de energia e montadoras de veículos. Em resumo, liderada pela iniciativa privada.
Está claro que a mobilidade elétrica não pode depender, exclusivamente, de políticas públicas, e não podemos esperar eternamente por decisões do governo. Ao mesmo tempo, ficar parado também não resolve enquanto vários países já optaram por eletrificar suas frotas. E mais: não podemos ficar vendo nossas cidades poluídas e doentes.
A Associação Brasileira dos Proprietários de Veículos Elétricos Inovadores (Abravei) tem como objetivo criar centenas de pontos de recarga de veículos elétricos de maneira rápida e abrangente por meio de duas iniciativas: ‘Tomadas para o Futuro’ e ‘Eletrovias ChargeNow’.
A primeira é um projeto baseado na atuação voluntária dos associados em selecionar estabelecimentos parceiros para a instalação de tomadas tipo Commando, que se tornou o padrão, no Brasil, para uso de carregadores de 7 kWh portáteis de veículos elétricos. Os estabelecimentos selecionados, alinhados com a Abravei em atitudes socioambientais positivas, arcam com custos de instalação, manutenção e despesas de energia elétrica. A Abravei, em parceria com a ABB, cedem tomadas tipo Commando, placas de identificação, orientações técnicas, mapeamento em aplicativos e divulgação da instalação aos associados e à sociedade.
A segunda, Eletrovias ChargeNow, uma iniciativa ousada, consiste em instalar carregadores veiculares, doados pela BMW do Brasil, em rodovias previamente mapeadas, sem infraestrutura e em corredores de ligação entre grandes centros urbanos.
Com essas diretrizes, em abril, foi inaugurada, na BR-050 Brasília–Goiânia, a primeira eletrovia do Centro-Oeste do Brasil, com 220 quilômetros de extensão. Os dois eletropostos, instalados no restaurante Jerivá, em Abadiânia (GO), um em cada sentido da rodovia, permitem a ligação entre as duas capitais de modo 100% elétrico, sem emissão de CO2.
Acreditamos que a sociedade civil organizada, em parceria com empresas privadas, pode vencer grandes desafio e viabilizar a mobilidade elétrica de maneira sustentável, mesmo em um País carente de infraestrutura de recarga, mas com uma população ansiosa por novas tecnologias e qualidade de vida.