Quem acompanha a enxurrada de veículos eletrificados no Brasil nos últimos dois anos dificilmente imagina que esse tipo de automóvel já era objeto de experimentos na Europa e nos Estados Unidos há mais de cem anos. Não dá para atribuir, com absoluta certeza, a paternidade do carro elétrico. Mas o trabalho de engenheiros e inventores do passado deixou um legado para o aprimoramento da tecnologia atual.
Há registros de que o primeiro veículo elétrico a aparecer nos Estados Unidos tenha sido obra do químico William Morrison, em 1890. Ele se ocupava aos estudos de armazenamento de energia em baterias e desenvolveu um vagão eletrificado, com capacidade para seis pessoas e que chegava a 14 quilômetros por hora.
Morrison, porém, não foi pioneiro. Do outro lado do oceano, o engenheiro eletricista Thomas Parker, especialista em baterias de chumbo ácido, esboçou o primeiro meio de transporte elétrico na Inglaterra, seis anos antes de Morrison.
“A Alemanha deu uma resposta em 1888, com o veículo de Andreas Floken. O Elehtrowagen era uma charrete de quatro rodas, com bateria de 100 quilos e capaz de alcançar 15 km/h”, diz Diogo Seixas CEO da EVPV Power e entusiasta dos primórdios dos carros movidos a bateria.
Seixas relata que os experimentos foram adiante e chamaram atenção de nomes que, mais tarde, se converteram em lendas na indústria automotiva mundial. Um deles era Ferdinand Porsche, que, muito antes de criar o Fusca, fez o Egger Lohner-C2 Phaetonem – também conhecido como P1 –, em 1898.
Era um automóvel para quatro pessoas, com bateria de chumbo ácido que podia rodar 80 quilômetros. Passados três anos, Porsche foi além e desenvolveu o Lohner-Porsche Mixte Hybrid, com motor Daimler e bateria de chumbo ácido.
Nomes importantes
Para o diretor da TB Green, Carlos Roma, Tesla, BYD e todas as fabricantes que hoje investem na produção de veículos eletrificados devem muito a seus antepassados. “Essa tecnologia contou com vários personagens importantes e uma trajetória muito rica, que antecede os modelos contemporâneos”, afirma.
Ele cita figuras como o americano Robert Anderson e o escocês Robert Davidson. Anderson concebeu uma carruagem motorizada entre 1832 e 1839, mas, devido às baterias não recarregáveis, era mais uma novidade do que um meio de transporte prático. Dois anos antes, Davidson construiu um protótipo de locomotiva elétrica, seguido por uma versão melhorada em 1841. Ela percorria até seis quilômetros rebocando seis toneladas.
Outras tentativas surgiram mundo afora. Em 1828, Ányos Jedlik, físico húngaro e padre beneditino, desenvolveu um dos primeiros motores elétricos. “Algumas décadas depois, em 1881, o engenheiro francês Gustave Trouvé revelou um veículo elétrico para transportar passageiros com sua própria fonte de energia, usando um motor elétrico Siemens e uma bateria recarregável”, destaca Roma.
Se dependesse de empenho e quantidade de experimentos, o carro elétrico teria se difundido já no século 20. No início dos anos 1900, na cidade americana de Denver, Oliver Fritchle projetou o Fritchle Electric Automobile, veículo totalmente funcional que exibiu suas capacidades ao fazer uma viagem de longa distância. “Isso comprovava a busca persistente pela tecnologia de veículos elétricos, apesar das limitações”, salienta Roma.
Simbolo de luxo
Os carros elétricos, quem diria, ganharam certa popularidade por algumas razões especiais: a ausência de ruídos e emissões, a facilidade de operação e a conveniência de recarga – considerada mais prática do que abastecer com gasolina. Um exemplo icônico desse período chama-se Detroit Electric, fabricado pela Detroit Electric Car Company.
Ele transformou-se em símbolo de automóveis de luxo na época, porque primava pela qualidade de construção e pelo acabamento refinado. A produção do Detroit Electric continuou ao longo das primeiras décadas do século 20.
Apesar da ascensão dos motores a combustão na indústria, a partir de 1920, e do declínio dos elétricos, muitas montadoras nunca perderam de vista essa tecnologia que evitava o combustível fóssil. Tanto que, em 1966, a General Motors apresentou a Electrovan, movido a célula de combustível de hidrogênio.
Na mesma época, a Ford desenvolveu um compacto, batizado de Comuta, destinado ao uso urbano. Embora não tenha feito sucesso, ele ratificou o interesse contínuo da indústria em explorar veículos elétricos.
Tal interesse se manteve adormecido, até o despertar provocado, principalmente, pela fabricante Tesla, que foi seguida de perto por todas as concorrentes. Hoje, o veículo elétrico é uma realidade graças aos primeiros passos dados por tanta gente à frente de seu tempo.
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