A interface entre mobilidade elétrica e 5G

C-V2X é uma das soluções que a tecnologia 5G permitirá implementar para conectar o carro ao sistema de tráfego. Foto: Getty Images

03/08/2022 - Tempo de leitura: 3 minutos, 51 segundos

A mobilidade que se projeta para o futuro compreende veículos que serão cada vez mais conectados, autônomos, compartilhados (shared) e elétricos, características resumidas na expressão CASE. O lado desafiador é que avançar nesse cenário não depende apenas de escolhas circunscritas à indústria automobilística. Antes, é necessário promover e fortalecer as interfaces com diversos outros setores – sobretudo com provedores de tecnologias de informação e comunicação.

Uma das soluções em curso abrangem os módulos de comunicação C-V2X (celular vehicle to everything), que interconecta os veículos com os artefatos por meio da tecnologia 5G, utilizando plataformas de ligação intermodal.

Trata-se de manter o carro conectado de forma a gerenciar tráfego, semáforo inteligente, segurança nas rodovias, mapeamento de pedestres, artefatos multimídia, localização de eletropostos para veículos elétricos, entre outras funcionalidades. São inúmeras possibilidades que ganham forma e imaginação, possibilitando prover soluções de ponta a ponta para futuros serviços de mobilidade e transporte que se efetivam por meio da conectividade.

Conectar tudo e todos

Entretanto, são ainda muitos os desafios para que o Brasil possa ter êxito. O maior gargalo reside na disseminação da internet de quinta geração, ou 5G. Entendida como uma tecnologia de banda larga ultrarrápida e de baixa latência, a 5G combina tecnologias de inteligência artificial (IA), big data, cloud e edge computing, machine learning e internet das coisas (IoT). Por ser o meio através do qual os hardwaresfuncionarão por ondas de rádio, seu uso vai muito além dos smartphones, já que promete conectar tudo e todos.

Considere que o compartilhamento de sensores de alto rendimento requer uma portabilidade de ondas milimétricas de banda larga, que permite que os aparelhos celulares sejam conectados de forma ultrarrápida e com estabilidade para que trilhões de dispositivos possam estar conectados à internet ao mesmo tempo.

A condição para isso ocorrer parece ser simples: deve-se evitar problemas como a falta de acesso à banda larga por parte do cidadão. E é aí que reside o grande problema: sem esse acesso, não há como conectar os milhares de dispositivos, gerando sérios problemas técnicos e, principalmente, sociais e econômicos.

A viabilidade da 5G envolve a disponibilidade de pacotes acessíveis de banda larga ultrarrápida que garantam a internet fixa para todos. Os pacotes são muito caros, e a internet de qualidade não chega à população de baixa renda, que, em sua maioria, acessa a internet, exclusivamente, pelo celular, com planos com controle de dados.

Há quem discuta que a 5G é uma coevolução das gerações anteriores. E, como um sistema, não pode haver gaps técnicos na passagem de uma geração para outra. No entanto, esses gaps estiveram presentes, no Brasil, na passagem da 3G para a 4G – o que gerou déficits econômicos e estruturais, agora, na introdução da 5G no Brasil.

A solução para esse problema passa pelas políticas públicas. A reelaboração do Plano de Universalização da Banda Larga deve ser um primeiro passo, visando a universalização desse acesso. Outras ações incluem estímulos por meio de políticas de incentivo que diversifiquem o ambiente competitivo, favorecendo a inclusão. Caso contrário, reforçaremos a exclusão, e isso interferirá em todo o projeto de transformação da 5G, no território brasileiro.

É necessário evitar os problemas já vivenciados (como o da passagem da 3G para a 4G); se não houver um ajuste político imediato de correção dessa rota, a 5G será privilégio de uma pequena parcela da população, o que reforçaria a exclusão digital e social. É urgente ao país encaminhar, em nível nacional, uma reformulação da política industrial, de inovação e de telecomunicações.

Só por meio de uma ação coordenada e bem planejada, será possível que as promessas de revolução da 5G se tornem reais. Não há dúvida de que o C-V2X abre caminho a novas oportunidades, experiências e vivências, mas, para isso, é necessário que toda a arquitetura da 5G tenha as condições necessárias de resposta às demandas colocadas.

Flávia Consoni, curadora do Planeta Elétrico, professora e coordenadora do Laboratório de Estudos do Veículo Elétrico (Leve), da Unicamp

Marina Martinelli, doutoranda em política científica e tecnológica do Instituto de Geociências, da Unicamp