Com repertório diversificado, que vai de músicas eletrônicas a Frank Sinatra, o DJ Bruno Martini teve uma experiência diferente no evento Electric Experience, realizado em Tuiuti (SP). Sua parafernália eletrônica não estava ligada em uma tomada comum, mas sim em um automóvel, o Nissan Leaf. Ou seja, toda a energia necessária para Bruno manejar sua mesa de som vinha da bateria de íon-lítio de 40 kWh do modelo 100% elétrico da marca japonesa.
Isso foi possível porque o Leaf possui as tecnologias V2G (vehicle to grid, ou veículo para a rede) e V2X (vehicle to load, ou veículo para outros aparelhos). Assim, a energia elétrica do carro pode ser enviada a uma série de equipamentos, como os usados por Martini.
Tal funcionalidade reforça a ideia de que o veículo elétrico não é somente um meio de locomoção de um lugar a outro. “Ele trabalha como power bank sobre rodas. Armazena a energia para jogá-la, em seguida, para outros dispositivos”, define Humberto Gomez, diretor de marketing da Nissan. “Bruno Martini teria carga suficiente para de seis a oito horas de som.”
Para transferir a energia elétrica do carro a outro equipamento, como a mesa de som do DJ, houve a necessidade de utilizar o conversor bidirecional Quasar de 7,4 kW, fornecido pela empresa Electric Mobility. “Esse recarregador inovador vai revolucionar o futuro da eletromobilidade e dos sistemas de energia”, aposta Eduardo Sousa, CEO da Electric Mobility. “Ele permite ao usuário tirar energia do veículo para injetar na casa dele, por exemplo.”
No entender de Sousa, o carregador bidirecional apresenta várias vantagens em relação ao convencional, como a possibilidade de suprir picos de consumo de energia e de transformar o veículo em backup em situações de queda de fornecimento.
Ele destaca que, futuramente, o automóvel também poderá se tornar uma fonte de receita para o proprietário, desde que a legislação brasileira permita a implantação da tecnologia V2G, ou seja, jogar a energia de volta à rede. “O usuário terá a possibilidade de carregar a bateria à noite, quando a tarifa é mais barata, e vender a energia a indústrias e comércios durante o dia, período em que o valor é mais elevado”, afirma.
“O sistema V2G é uma possibilidade real e segura de ser executada no Brasil, e só necessita da regulamentação do governo”, diz Humberto Gomez. “Precisamos olhar com mais atenção para essas tecnologias e nos acostumar com elas.”
Atualmente, apenas o Nissan Leaf dispõe da tecnologia do sistema bidirecional no mercado brasileiro. Mas a tendência é que, em breve, outras montadoras a ofereça em seus modelos, como Volvo, Audi, BMW e General Motors. “Não é uma transformação complicada, basta mudar o software do equipamento de recarga”, revela Eduardo Sousa.
Com cinco anos de atuação, a Electric Mobility oferece portfólio de carregadores de carga normal, rápida e ultrarrápida para aplicações em residência, comércio, locais públicos e rodovias. No Brasil, ela representa a empresa espanhola Wallbox, fabricante do conversor Qasar. No entanto, o dispositivo ainda esbarra no preço, entre R$ 80 mil e R$ 90 mil. Até por isso, destina-se, principalmente, a frotistas e estabelecimentos comerciais.
O CEO da Electric Mobility acredita que as empresas voltadas à infraestrutura da eletromobilidade precisam ficar atentas às novas tendências sustentáveis do mercado. “A discussão sempre gira em torno da obrigatoriedade de oferecer uma energia 100% limpa. Daí, segue a pergunta: de onde vem essa energia?”, indaga Sousa.
Segundo o executivo, a Wallbox já desenvolveu um equipamento – que será mais difundido em 2022 – capaz de ser interligado ao sistema fotovoltaico, carregando os automóveis com propulsão elétrica por meio de energia solar. “A central de gerenciamento do veículo controlará o carregamento da bateria, desde que o sistema fotovoltaico esteja trabalhando em condições ideais”, completa.