A disseminação da internet 5G é aguardada para o segundo semestre e vai abrir espaço para uma comunicação mais rápida e eficiente entre diferentes tipos de transporte coletivo, automóveis, pessoas e o sistema viário. Essa conectividade vai melhorar a integração entre ônibus, metrô, trens e aplicativos de transporte, com potencial para redução do tempo e custo dos deslocamentos e do número de acidentes.
“Imagine que nos horários de pico será possível liberar maior quantidade de veículos [ônibus, trens] no momento exato, não antes nem depois, usando como referência os deslocamentos dos usuários em direção aos pontos e estações”, afirma Marcelo Pereira, diretor automotivo e de Desenvolvimento da Mobilidade da Ipsos.
Pereira ressalta que será possível saber a localização exata e em tempo real do veículo que se aproxima e até se está cheio ou vazio. “O 5G traz possibilidades impressionantes. O que precisamos é saber como vamos nos adaptar e evoluir dentro dele”, diz.
Ele ressalta que não haverá um grande ganho imediato porque será preciso conectar frotas, composições de trens e metrô, carros e cidades para a geração de dados dentro dessa internet capaz de integrar coisas e pessoas.
“Hoje, os aplicativos como o Waze ainda dependem muito daquilo que é reportado pelo usuário [como buracos e acidentes], mas o 5G abre a possibilidade de esses apps receberem mais informações de outras fontes e em tempo real”, diz.
Vitor Magnani, presidente da Associação Brasileira Online to Offline (ABO2O), recorda que aplicativos atuais já mostram para o usuário onde está o ônibus, mas a partir do 5G haverá um aumento da assertividade e ainda será possível escolher o melhor trajeto considerando modais públicos, privados, o menor custo e ter clareza sobre horários e disponibilidade.
“A integração dos meios de pagamento será a mola propulsora, o viabilizador desse serviço”, diz Magnani. Para ele, o desafio será integrar os diferentes transportes utilizados em um único pagamento, algo que sempre depende do poder público. Magnani considera a possibilidade futura de pagamento a partir do smartphone, por causa da praticidade. “Quando uma operação é mais fácil, ela sempre tem mais adesão.”
Diego Aguiar, diretor de Operações da Telefónica Tech (divisão da operadora Vivo), recorda que a internet 5G conseguirá automatizar mais os ambientes pela capacidade de transmissão de mais dados em menor tempo.
“Além de informar a quantidade de pessoas no veículo, será possível monitorar 100% do caminho”, diz. Ele recorda que muitas empresas privadas já se beneficiam de tecnologias de monitoramento de frota e por isso o poder público também tende a aderir a esse tipo de recurso, a fim de saber onde estão circulando os ônibus e composições de trens e metrô e o que se passa dentro deles.
José Palazzi, mentor da SAE Conectividade e diretor de Desenvolvimento de Negócios da Qualcomm, afirma que a partir do reconhecimento facial e da rapidez da comunicação em 5G será possível combater usuários desonestos: “O reconhecimento da face impedirá fraudes como aquelas praticadas pelo usuário que ingressa num transporte e em seguida cede seu bilhete a outro passageiro, já que uma única pessoa não pode estar em dois lugares diferentes ao mesmo tempo. Esse reconhecimento facial também ajudará a localizar pessoas suspeitas nos veículos e estações”, garante Palazzi.
O executivo lembra ainda que nas cidades conectadas, os semáforos poderão se abrir para a passagem de veículos com prioridade, como as ambulâncias. E com as cidades e veículos conectados será possível evitar acidentes provocados por alguém que cruza a pista ou para de maneira repentina. Essas situações vão gerar um alerta para outros carros próximos. Quanto mais conectado for o ambiente de uma via, mais apto ele estará a receber veículos autônomos.
E se a tecnologia atual já permite monitorar o comportamento de um motorista de caminhão ou ônibus que excede com frequência os limites de velocidade, com o 5G será possível alertá-lo de forma imediata sobre o erro cometido. Palazzi recorda ainda que o monitoramento dos motoristas também evitará acidentes a partir do uso de câmeras capazes de detectar sono ou cansaço a partir do movimento dos olhos desse condutor.
O sinal de 5G já é realidade, mas com acesso ainda restrito. Pela operadora Vivo, por exemplo, é possível utilizar o 5G NSA na frequência de 2,3 gigahertz em algumas regiões das cidades de São Paulo, Bragança Paulista, Guarujá, Monte Mor (SP), Rio de Janeiro, Petrópolis (RJ) e Brasília (DF). Mas a cobertura ampla dependerá de um número de antenas bem maior que o atual.
“Algumas cidades atualizaram sua legislação referente à instalação de antenas, mas a maioria dos municípios ainda precisa rever suas leis”, afirma Magnani, da ABO2O. “Vale dizer que antes havia a necessidade de antenas realmente grandes e hoje elas são melhores e menores. Existem antenas instaladas na torre Eiffel que não comprometem a aparência do monumento”, recorda.
“Além da legislação desatualizada, outro problema é que o tempo para obter licenças para instalação de novas antenas é muito longo”, lamenta Aguiar, da Telefónica Tech.
Magnani lembra ainda que será preciso criar ambientes em que os dados sejam compartilhados sem comprometer a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). Marcelo Pereira, da Ipsos, ressalta ainda a necessidade de manter esses dados protegidos contra hackers, que poderiam provocar um acidente ou mesmo organizar um sequestro a partir da observação da rotina de pessoas nesse ambiente digitalizado.