Agentes de segurança do Metrô também estão preparados para prestar socorro médico aos usuários

Rodrigo Duarte, Alex Sandro e Daniel Costa (da esq. para a dir.): agentes de segurança do Metrô que salvaram a vida de uma criança. Foto: Marcia Alves/Metrô SP

14/05/2024 - Tempo de leitura: 6 minutos, 50 segundos

Quem passa pelas as estações do Metrô de São Paulo na correria do dia a dia não imagina que o serviço atua além da mobilidade urbana. Além das questões operacionais das plataformas e da segurança dos usuários, os agentes da companhia recebem treinamentos anuais no Instituto do Coração (Incor) para atender eventos relacionados aos primeiros socorros e outras que envolvem o bem-estar físico da população durante seus deslocamentos.

Os funcionários já sabem que o cotidiano é de ocorrências. “Já estamos acostumados a uma rotina de imprevisibilidade”, explica Daniel Galdino da Silva, 32 anos e 12 na empresa.

Usuária em trabalho de parto

No entanto, algumas situações podem ser bem mais desafiadoras. “Em 20 de fevereiro de 2022, uma gestante não se sentia bem e procurou o funcionário da estação do monotrilho da Vila Prudente, próximo ao terminal de ônibus”, lembra.

Para dar um suporte mais especializado nesse tipo de situação, Galdino contou com o apoio do colega Vinícius Lourenço, seis anos de Metrô, equipados com o kit de primeiros socorros que inclui uma versão para partos assim que foram comunicados sobre a ocorrência.

Ambos agiram rapidamente para levar a usuária à viatura que faria o trajeto ao hospital público mais próximo, dentro do procedimento padrão. “Como ela estava morando sozinha e queria voltar para casa e buscar a bolsa de maternidade, fizemos um trabalho de acolhimento porque ela estava bastante nervosa, explicando não haver tempo para isso”, lembra o agente Galdino.

Vinícius Lourenço (à esq) e Daniel Galdino, agentes do Metrô-SP que atenderam uma gestante. Foto: Marcia Alves/Metrô SP

A central autorizou que ela fosse levada ao hospital onde ela teria o bebê, na região da Av. Paulista e, durante esse trajeto, ambos já estavam em contato com a obstetra que realizaria o parto. “Essa ocorrência foi muito especial. Me senti tranquilo, pois já tinha também acompanhado o parto dos meus dois filhos”, acrescenta Galdino.

Lourenço, porém, se lembra da tensão desse dia, pela fragilidade da usuária e, mais ainda, pela grande responsabilidade pela chegada de uma nova vida. “O treinamento nos oferece, além de competências técnicas para atender de paradas cardíacas a partos, as capacidades socioemocionais para lidar com pessoas em situação-limite”, explica.

“Além disso, temos a segurança e a confiança de saber que nosso colega recebe esse mesmo treinamento, formando uma cadeia responsável para assegurar o bom atendimento a todo o passageiro do Metrô”, finaliza o agente.

Em caso de necessidade

O coordenador técnico Jairo José de Souza explica que todos os funcionários do Metrô recebem mais de 700 horas de treinamento amplo desde que passa a integrar a companhia (cerca de 45 dias) além dos anuais para reciclagem das práticas relativas à segurança pública e a primeiros socorros. 

São mais de mil seguranças divididos em grupos de 150, estrategicamente posicionados por áreas e com protocolos personalizados para cada uma dessas estações, nos três turnos, em parceria integrada também com a CPTM.

Embora a operação seja até meia-noite, o Metrô está à disposição 24 horas. “Para atender de mal súbitos a situações mais complexas, com o auxílio de um sistema composto por 14 viaturas adaptadas como uma ambulância para poder prestar o mais rápido atendimento”, revela Souza.

“Além disso, incluímos também o treinamento especializado para o atendimento a pessoas com transtorno do espectro autista (TEA), com o apoio da área médica do Metrô e de outros hospitais especializados”, acrescenta.

Coordenador Jairo José de Souza: “Funcionários do Metrô recebem mais de 700 horas de treinamento.” Foto: Marcia Alves/Metrô SP

A estação Tatuapé ainda possui uma sala adaptada para que usuários com a condição possam baixar o estresse causado pelo barulho e há planos de expansão desses espaços para outras estações, com pessoal capacitado para lidar com esses eventos.

O coordenador reforça que há um envolvimento muito grande da companhia também para combater os crimes de assédio e de abuso contra mulheres em todas as dependências.

“Todos os funcionários estão preparados para acolher as vítimas desses crimes e agimos rapidamente para identificar os autores e fazer a prisão em flagrante até o encaminhamento à autoridade policial. Há uma efetividade de identificação de 80% dos casos, contando também com o auxílio da população que ajuda na denúncia dentro dos trens.”

Salvando vidas: estações do Metrô são referência para a população na busca por espaços de atendimento

No final de tarde de 19 de setembro de 2023, entre 17h e 18h, o agente Daniel Costa, de 46 anos, que trabalha há 22 na companhia estava na estação Alto do Ipiranga (Linha Verde) com os colegas Rodrigo Duarte e Alex Sandro Feitosa quando a equipe recebeu foi avisada de que uma criança estava passando mal na área externa da estação.

“Uma mãe em um carro parou quando percebeu que a criança de 2 anos começou a convulsionar, engasgada”, recorda Costa. “Ela saiu em desespero no meio da avenida lotada em busca de socorro e as pessoas do ponto de ônibus correram para dentro da estação”, lembra.

Os três rapidamente começaram a atuar em diferentes frentes: Alex Sandro encarregou-se da viatura, que é ambulância e fica de prontidão ao lado da entrada da estação, enquanto Rodrigo isolava a população em volta e abria espaço para Daniel realizar o atendimento.

“A criança já estava roxinha, sem consciência, e começamos ali mesmo, entrando na viatura, a fazer a manobra de desengasgo”, conta Costa. “Avisamos a mãe que a levaríamos para o PS do Ipiranga e, durante o trajeto, que durou uns 5 minutos na Avenida Nazaré, continuamos com a massagem até que a criança reagiu com um choro bem fraquinho. Foi o alívio que precisávamos receber”, comemora.

Da esq. para a direita, Rodrigo Duarte, Alex Sandro e Daniel Costa, funcionários que salvaram a vida de uma criança. Foto: Marcia Alves/Metrô SP

A rapidez e a sincronia das ações foram primordiais para transformar o cenário de uma ocorrência grave em um final feliz, sem sequelas para a criança. Todo o atendimento foi registrado pela câmera corporal do agente Rodrigo Duarte, 36 anos e 14 de profissão.

“Temos o padrão de que quanto mais ágil, maiores as chances de êxito. Foi, com certeza, a situação mais tensa da minha carreira. Um minuto da nossa atuação significa muito para a vida de uma pessoa e ocorrências que envolvem crianças são muito marcantes”, acrescenta Duarte.

“Aquela mãe depositou em nós todas as esperanças. Ouvir o choro daquela criança na viatura foi como voltar ao nascimento da minha filha. Foi um alívio muito grande porque, de certa forma, ela nasceu de novo.”

O que fazer caso precise de ajuda no Metrô-SP

  • O botão de emergência dentro dos trens só deve ser acionado em casos graves (parada cardíaca, alguém prender o braço na porta etc.) e serve para sinalizar o operador sobre qual providência tomar. Quebrar a proteção sem uma urgência acarreta transtorno para as demais composições e prejudica também o seu atendimento;
  • Se estiver em condições, desça até a próxima plataforma e peça ajuda a qualquer funcionário, pois todos são aptos para prestar socorro.

Os atendimentos do Metrô

  • 8.927 atendimentos em 2022
  • 9.794 atendimentos em 2023
  • 400 mil atendimentos em primeiros socorros desde 1997
  • Em 2023, foram 17 eventos de RCP (recuperação cardiorrespiratória) sem aplicação de choque (massagem cardíaca) e 12 eventos de RCP com o uso de DEA (desfibrilador)
  • 31 partos realizados desde 1976, quando foi feito o primeiro nas dependências da empresa

Qualquer situação é acolhida pelos funcionários; é oferecido uma água e normalmente a pessoa se sente melhor e vai embora