O aumento da infraestrutura cicloviária permanente, a existência de ciclofaixas de lazer que funcionam aos domingos e as reformas nas ciclovias na Marginal do Rio Pinheiros têm atraído pais e mães paulistanas a usar a bicicleta para transportar crianças pequenas em cadeirinhas instaladas na frente ou na garupa.
Se não fosse essa separação de carros, o analista de dados Sergio Seabra, 51 anos, não teria a rotina diária de levar sua filha Flora, de dois anos, para a creche. “Se não tivesse a ciclovia, não iria encarar o trânsito da Avenida Paulista para buscá-la. Também, só vou para o trabalho de bicicleta porque tem ciclovia em 80% do trajeto”, admite.
São Paulo deve fechar o ano com 716,9 quilômetros de infraestrutura cicloviária. A cidade ganhará 21 km neste ano — as obras de 17 km desse total devem terminar agora em outubro. Sergio mora em um apartamento na Rua Haddock Lobo, nos Jardins, e vai e volta com a filha até a escola na Vila Mariana, percurso de aproximadamente cinco quilômetros de distância.
Ele conta que não enfrentou grandes dificuldades para começar as pedaladas com a Flora. De capacete, ela é transportada em uma cadeirinha presa no cano superior da bicicleta, que também garante a proteção pelos braços do pai, que seguram o guidão. “Tomei os cuidados necessários para levar um bebê. É aquela atenção redobrada que a gente tem que ter independentemente de estar com a criança. É ir devagar, respeitando o seu espaço, sabendo que você é o mais frágil na rua”, informa.
A gestora de projetos Fernanda de Andrade, 34 anos, decidiu sair para pedalar com a Laura no fim de 2020 como válvula de escape na pandemia. Outra motivação foi ter acesso privilegiado à recém-reformada ciclovia do Rio Pinheiros. Ela acessa o local pela ciclopassarela do Parque do Povo, no Itaim Bibi, e pedala cerca de 12 quilômetros até a Ponte Estaiada.
Ainda que a pista seja muito usada por pelotões de ciclistas em treinamento, ela recomenda o local para passeios com crianças. “Nunca me senti insegura ou presenciei nada que desse medo de voltar lá. O pessoal da ciclovia sempre me apoiou muito”, agradece.
“Fiquei dez anos levando a Nina para a escola sem ciclovia”, diz a editora de vídeos Silvia Ballan, de 52 anos, se referindo à inexistência de infraestrutura para ciclistas no trajeto onde morava, no Itaim Bibi, até a Vila Olímpia, entre os anos de 2001 e 2011. Isso nunca a impediu de dividir as ruas com os carros.
“Quando você está com uma criança na garupa, você é vista de forma diferente pelos motoristas”, lembra.
Como forma de documentar toda a experiência que obteve transportando as filhas Nina e Bia, ela criou o blog www.silviaenina.org. Outros sites que podem ser consultados antes de iniciar as pedaladas é o www.criancasegura.org.br, que mostra todas as opções de cadeiras disponíveis, e o www.kalf.com.br, onde existe uma coletânea de vídeos explicativos muito úteis para serem vistos antes de tomar qualquer decisão.
DICAS PARA COMEÇAR A LEVAR CRIANÇAS NA GARUPA
1 – IDADE MÍNIMA
Segundo a Associação de Pediatras dos Estados Unidos, a idade mínima para começar a levar crianças é de um ano, quando já possuem a força do pescoço necessária para suportar o peso de um capacete e evitar que a cabeça balance ao passar por solavancos. Antes disso, é recomendável pedir a opinião de um pediatra.
2 – CADEIRAS FRONTAIS
Para crianças de até 15 quilos, o ideal são as cadeiras frontais com cinto de três pontos e suporte para
acomodar as pernas.
Recomenda-se ter um pequeno travesseiro à mão para acomodar a cabeça no caso de ela dormir.
3 – CAPACETE OBRIGATÓRIO
Precisam ter tamanho adequado à cabeça da criança e estar devidamente ajustados e afivelados.
4 – PESQUISAR, TREINAR E TESTAR
Transportar crianças na bicicleta exige atenção e habilidades adicionais. Antes de comprar, tenha certeza de que sua bicicleta é adequada à cadeirinha e ao peso da criança. Em alguns parques, é possível alugar o conjunto completo. Para praticar, procure ruas calmas e praças.
5 – OCUPE 1/3 DA FAIXA NA RUA
Procure ocupar um terço da via para ter margem de manobra para desviar de buracos. Lembre-se: o Código de Trânsito Brasileiro considera a bicicleta um veículo e ainda obriga que os automotores mantenham distância mínima de 1,5 metro para ultrapassar ciclistas.
6 – ENCOSTO DE CABEÇA
Nas cadeiras traseiras, prefira aquelas em que a criança pode descansar a cabeça e tenha proteção ou suporte para as pernas e os pés.
7 – VER E SER VISTO
Utilize roupas com cores chamativas durante o dia e acenda faróis e lanternas durante a noite. Tenha buzinas ou apito para chamar a atenção de motoristas e use espelho retrovisor.