A regra é bastante conhecida: quando a oferta é maior do que a procura, as empresas precisam reduzir o preço do frete para ganhar competitividade. É assim que muitas transportadoras de carga fazem há anos para vencer a corrida para conquistar o cliente.
Neste contexto, o poder de barganha fica bastante reduzido. Como equilibrar o preço do frete com tantos concorrentes ávidos para superar a concorrência? Especialmente quando o cliente em potencial é um grande embarcador com muitas opções para escolher.
Segundo levantamento recente da Associação Nacional do Transporte (NTC&Logística), com pouco mais de 7 mil transportadoras, a maior parte das empresas de transportes concedeu descontos no valor do frete no primeiro semestre de 2020. Isso resultou em um reajuste negativo médio de 4,7% no período impactado pela pandemia.
O estudo mostrou também que 52,2% das companhias concederam, em média, descontos de 10,2%, enquanto apenas 11% conseguiram reajustes para cima no período com o aumento médio de 7,8%. Em agosto, também segundo a NTC, a defasagem do frete era de 13,6%. O valor que não foi reajustado acabou sendo absorvido pelas empresas.
Assessor técnico da NTC, Lauro Valdivia explica que historicamente sempre houve pressão para jogar o valor para baixo, mas que esse cenário se acentuou mais em 2014 por causa do excesso de caminhões rodando. “Logo depois veio a recessão e o problema se aprofundou.”
Na visão de Valdivia, o setor, agora, caminha rumo ao equilíbrio. “A demanda vem crescendo bastante desde julho por causa dos pedidos represados de março e abril. De acordo com o assessor técnico, há empresas comemorando faturamentos recordes no mês de setembro. “Se continuarmos assim, o frete irá se valorizar novamente. Tem excesso de demanda e, também, falta caminhão para comprar”, comenta.
A desvalorização do frete é apenas um dos fatores que reduzem o lucro das empresas de transporte. Mesmo que haja valorização, ainda é preciso equalizar o problema da falta de uma gestão eficiente.
Para Valdivia, enquanto não houver a cultura de uma planilha de custo bem elaborada, nada irá melhorar. No Brasil, de acordo com dados da Agência Nacional dos Transportes Terrestres (ANTT), existem 150 mil empresas transportadoras, dessas 50 mil são pequenas que têm de um a cinco caminhões na frota.
“A maioria cobra menos para conseguir a carga e acaba deixando de lado os custos que devem ser calculados para não sair perdendo”, diz o assessor técnico. Ele explica ainda que uma empresa jamais quebra por falta de carga, mas sempre por falhas na gestão. “Conheço muitas que faliram com o depósito cheio de cargas para entregar. Já houve casos de transportadoras que chegaram ao ponto de não ter dinheiro para abastecer o caminhão”, comenta.
Colocar os custos na ponta do lápis é o primeiro passo para administrar melhor o frete. Mesmo se o preço ficar mais alto, se o transportador não fizer os cálculos corretos sempre ficará no prejuízo.
Segundo Lauro Valdivia, além do cálculo em cima do tipo de mercadoria que será transportada, é sempre muito importante provisionar os custos com a operação. E tudo precisa constar nesta planilha, desde o salário do motorista, total dos custos fixos mensais, manutenção, pneus, combustível e até o seguro do casco.
Com uma trajetória de mais de 50 anos, a transportadora Transita Transportes – que leva carga farmacêutica – atribuiu em seus cálculos minuciosos a sua trajetória consistente.
“Desde o início, a empresa sempre se preocupou em saber quais são exatamente os custos que devem ser levados em conta na hora de cobrar o frete”, explica Andre de Simone, membro do conselho administrativo da transportadora.
De Simone conta que, muitas vezes, a empresa negou carga porque o valor do frete estava muito abaixo do que o recomendado. “O embarcador apresentava uma tabela de outras transportadoras que jogavam muito para baixo o valor. Isso consome o fluxo de caixa.”