A pandemia está impactando praticamente todos os setores da economia global. Com a adoção da política de isolamento social como principal estratégia para enfrentamento ao coronavírus, a mobilidade, em todas as suas formas e modais, tem sentido fortemente os efeitos das cidades em lockdown. A indústria automobilística é um exemplo desse fato: um estudo recente da consultoria Bain & Company sobre esse mercado prevê que a pandemia pode derrubar as vendas mundiais de veículos leves em 29% neste ano, com impacto ainda maior durante alguns meses mais críticos.
A análise leva em conta diversos fatores, como a configuração do mercado em cada localidade no primeiro trimestre deste ano, as avaliações de especialistas em várias regiões do mundo, o desenvolvimento esperado do cenário econômico e as medidas para enfrentar a covid-19.
“Um ponto importante é que, dependendo da data de início do isolamento e do seu rigor, há diferenças no potencial de retomada em cada mercado. A Itália, por exemplo, que está em lockdown há mais tempo, mas começou depois, está sendo impactada em grau maior que outros países que tomaram medidas mais cedo”, explica Carlos Libera, sócio e líder do setor automotivo na América do Sul da Bain & Company.
Globalmente, em caso de desaceleração prolongada, o estudo indica que as vendas podem cair mais de 60% no consolidado dos meses de abril e maio, considerado de pico. “Essa é a média global, que já considera o impacto da retomada na China. Países da Europa e os Estados Unidos, que ainda deverão sentir um impacto mais agudo em breve, podem chegar a quedas de até 80%”, explica Libera.
No Brasil, a indústria automotiva representa em torno de 22% do Produto Interno Bruto (PIB) industrial do País. “Estamos na média global, mas esse índice pode ser maior a depender da duração do isolamento. Estimamos 8% de queda a cada mês de lockdown”, diz Libera. De acordo com ele, os impactos do aumento do dólar e as vendas represadas também podem influenciar nessa projeção.
Enquanto a China iniciou sua recuperação em abril, outros países, sobretudo da Europa e os Estados Unidos, ainda deverão sentir o impacto mais agudo, podendo registrar queda de até 80% ainda neste mês de maio.
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“Como a China representa uma grande parcela das vendas, o país acaba puxando a média para cima. Mas é bom sempre avaliar os dados deles com cautela, porque pode haver incentivos do governo para que as pessoas voltem a consumir”, diz o executivo.
O cenário de desaquecimento nessa que é uma das maiores indústrias do mundo inclui demissões, readequações nas linhas de montagem e outros impactos que já estão em curso. O estudo da consultoria mostra que um dos caminhos para o setor ganhe força pode ser via fusões, aquisições ou mesmo parcerias.
“Imagino que vão ocorrer muitas fusões nessa indústria. As montadoras precisam se concentrar nos mercados em que elas são mais fortes e as matrizes terão que melhorar sua habilidade em ajudar todas as pontas da operação”, diz o sócio e líder do setor automotivo na América do Sul da Bain & Company.
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