As exportações feitas por terra sempre enfrentam dificuldades, tanto pelas distâncias como pela burocracia, mas ganham um desafio extranos meses mais frios. Um problema recente ocorrido na Cordilheira dos Andes mostra que a rapidez de resposta das autoridades e a oferta de infraestrutura são essenciais para a segurança dos motoristas.
Danilo Guedes, CEO da ABC Cargas, relata uma forte nevasca que ocorreu no fim de julho na cordilheira, em que se registrou o acúmulo de 1,5 metro de neve na pista. “Fazia alguns anos que não ocorria com tanta intensidade. Além da grande quantidade de neve, ocorreu um acidente em um dos túneis dos Caracoles [trecho em zigue-zague pela cadeia de montanhas] e isso foi determinante para que mais de 300 caminhões ficassem parados na rota”, diz o executivo. Os veículos da ABC Cargas podem percorrer mais de 3 mil quilômetros até o destino, como ocorre no trajeto entre a sede da transportadora (em São Bernardo do Campo, SP) e Los Andes (Chile).
“Temos de ressaltar que o governo chileno agiu muito rápido, providenciando abrigos e dando assistência aos motoristas que estavam presos na cordilheira.” Segundo a transportadora, a temperatura na região atingiu -18 graus Celsius. “Transitar pela América do Sul é desafiador do ponto de vista logístico, principalmente por causa das condições climáticas e pela grande altitude, sobretudo para quem transporta mercadorias ao norte do Chile e Peru.”
Segundo a ABC Cargas, a orientação aos motoristas em situações desse tipo é que permaneçam nos caminhões até a abertura parcial ou total da estrada. A empresa recorda ainda que é obrigatória a utilização de correntes nos pneus tanto para subir como para descer a cordilheira. Em regra, cada caminhão segue com apenas um motorista, que cumpre os períodos de descanso determinados por lei.
Luiz Carlos Lopes, diretor de operações da Braspress, afirma que a maioria dos profissionais do eixo internacional é contratada nas regiões de fronteira: “Eles carregam naturalmente uma facilidade na fluência [idioma espanhol]. Os demais recebem instruções básicas e, sempre que precisam, são apoiados por nossas equipes de suporte, tanto no Brasil como nos países do Mercosul.”
Outro problema relatado pela ABC Cargas é a falta de agentes fiscais nas aduanas. “E a burocracia, caso a carga tenha de passar por uma análise física mais criteriosa, está levando até 60 dias”, lamenta Guedes. Ele também afirma que poderia haver mais segurança nas estradas e em diferentes etapas da operação. “Uma questão que preocupa tanto os motoristas quanto a empresa é o roubo de cargas na América do Sul. O índice de furtos em aduanas e postos tem subido nos últimos anos. Isso se deve à demora frequente nas aduanas.” Ele informa ainda que esses locais não oferecem infraestrutura adequada aos motoristas.
Para Lopes, da Braspress, esse é um problema que atinge todos os transportadores. “A infraestrutura existente nos eixos que interligam as principais rodovias desses países precisa de melhores condições.”
Lopes recorda também que é preciso sempre considerar os trâmites fiscais que envolvem o comércio de um país a outro. “Isso exige muita preparação de nossos agentes para que evitem o prolongamento das paradas em fronteiras e o aumento nos custos.”
As operações de comércio exterior feitas pela Braspress incluem indústrias do setor automotivo, de calçados e cosméticos. A Argentina é um destino frequente, e os caminhões percorrem cerca de 3 mil quilômetros até descarregar os produtos.
O Brasil é um importante exportador de ônibus, e parte deles vai rodando até o comprador. Em regra, os veículos adquiridos por países próximos e que são dirigidos até o destino são do tipo rodoviário, porque têm a relação de transmissão mais longa que a dos ônibus urbanos. Isso significa que conseguem desenvolver velocidades compatíveis com a estrada.
“O destino mais distante por rodovia é o Equador”, afirma Gustavo Marramarco, consultor de operações comerciais da Marcopolo. Da fábrica de Caxias do Sul até lá são 8.500 quilômetros, percorridos em 15 a 17 dias de viagem.
“Na América do Sul até o Peru, normalmente, os veículos vão rodando, com motoristas das empresas transportadoras contratadas. A partir da Venezuela e na América Central, a exportação é por via marítima. Para o Uruguai, o cliente envia motoristas próprios para dirigir os ônibus até o destino”, garante o consultor de operações comerciais.
Marramarco informa que os principais desafios das exportações por terra são os riscos típicos de estradas nem sempre bem cuidadas e de condições climáticas adversas, além da burocracia alfandegária. “Para resolver esses pontos, seria necessário que cada país vizinho investisse em sua infraestrutura.”