A paulistana Ana Pimenta, 52 anos, quer terminar seus dias em cima de uma moto. “Nem que seja em um side car”, brinca. Faz sentido. Desde que teve sua primeira Yamaha RX 125 cc, aos 15 anos, jamais deixou de possuir uma ou mais motos. A primeira lembrança de seu objeto de veneração é aos 4 anos, sobre o tanque da Honda 400 Four amarela do pai. Na família, seus dois filhos são motociclistas. Seu marido Antonio, lojista e mecânico de motos, tem também seus próprios modelos.
Formada em Administração, sua paixão acabou guiando a vida profissional. Ana trabalhou na Izzo, representante Harley-Davidson no Brasil, e hoje, com Antônio, mantém um minicluster de serviços motociclísticos na Vila Guilherme. Há a loja e oficina PHD Pimenta e a Let’s Ride, agência especializada em viagens sobre duas rodas. Nelas, ela e sua xará, a carioca Ana Sofia de Oliveira, conduzem os grupos pelas estradas.
Aliás, as duas Anas empreenderam uma “trip” de 115 dias ano passado pelo Brasil e pelos Estados Unidos para celebrar os 115 anos da Harley-Davidson. Com motos novas fornecidas pela marca para a “perna” brasileira, partiram de Porto Alegre rumo Belém, sempre passando por cidades onde houvesse concessionárias Harley. De Belém subiram de barco o Amazonas para chegar a Manaus, sede da fábrica brasileira da marca. A ideia a partir daí era embarcar as motos para Miami, mas houve dificuldades alfandegárias. Viajaram sem as companheiras de asfalto, mas na Flórida pegaram outras Harley emprestadas para atacar os cerca de 20 mil quilômetros que ainda restavam da aventura.
Cruzaram quase todo o país, primeiro da costa leste para oeste, então da Califórnia para o Idaho, e de Montana para Chicago. Chegaram à fronteira canadense, estiveram na matriz da Harley, em Milwaukee, tomaram estradas míticas como a Rota 66 e o “Rabo do Dragão”, o trecho de menos de 20 quilômetros e mais de 300 curvas da US-129, no Tennessee.
“Antes, era difícil para as mulheres andarem de moto.” Ana Pimenta
As duas enfrentaram sol de 40 graus nos desertos americanos, chuva, direção mais exigente à noite e a greve dos caminhoneiros no Brasil. Mas não viveram situações de grande risco.
Em Goiás, quase na divisa com Tocantins, assustaram-se com uma blitz policial no mais completo breu. Em Indiana, nos Estados Unidos, Ana Pimenta não conseguiu se desviar a tempo de uma panela de freio que se desprendeu de um caminhão. A moto precisou ir para a oficina, com o chassis entortado, mas miraculosamente a piloto não caiu. Também houve a bomba de óleo que parou de funcionar em Las Vegas, causando danos ao motor. “Por conta do machismo, era muito mais difícil para as mulheres andarem de moto nos anos 1980 e 1990. Eu e a Ana não sentimos nada disso nesta viagem”, diz Ana Pimenta.
Na sua vida motociclística, até chegar à Harley, Ana passou também pela CG-125, best seller da Honda que marcou algumas gerações de “rookies” brasileiros das duas rodas. A Harley Street Glide “velhinha” que hoje mantém na garagem serve para fazer algumas viagens de bate e volta aos domingos, na sua folga semanal. A moto é estradeira por excelência, mas quando precisa pegar terra, não nega fogo. “A moto tem mais de 350 quilos, é pesada e estável, se comporta bem”. Nos corres do dia a dia em São Paulo, Ana e Antonio preferem uma Dafra Citycom 300i. Colocar as Harley para rodar nessas situações seria quase ostentação.