O lançamento de veículos eletrificados, a oferta de serviços como carsharing e a digitalização de operações da cadeia automotiva estão mudando a percepção das pessoas a respeito da mobilidade. É o que mostra a segunda edição da Pesquisa Mobilidade, uma iniciativa da SAE Brasil, da consultoria KPMG e da Agência Autodata.
Nos meses de maio e junho, o estudo entrevistou 942 consumidores e executivos da indústria automotiva de todas as regiões do País, abordando temas como modelos de negócio, experiência de compra, inovações e veículos elétricos. O perfil dos participantes é variado, mas 81% possuem automóvel e a maioria (30,3%) dirige de 5 a 15 quilômetros por dia.
A primeira Pesquisa Mobilidade aconteceu em 2019, antes da pandemia da covid-19, que forçou a indústria a se reinventar em muitos aspectos, mudando também a visão dos usuários de como será o futuro do transporte das pessoas. Veja os resultados dos pontos mais relevantes do levantamento.
Elas seguirão com papel importante no futuro da mobilidade, mas terão de repensar seu modelo de negócio para atender ao mercado com agilidade. Segundo a pesquisa, os revendedores serão um dos elos da cadeia mais atingidos por mudanças profundas. Os próprios concessionários admitem que o tamanho da rede sofrerá redução drástica, trabalhando com estruturas mais enxutas e, espera-se, eficientes.
Hoje, o Brasil tem 4.052 lojas, mas 29% dos entrevistados acreditam que, nos próximos dez anos, entre 20% e 30% delas fecharão as portas. Já 21% preveem impacto maior, com o encerramento das atividades de 40% a 50% dos estabelecimentos.
Na pesquisa, 68% dos entrevistados acreditam que as vendas diretas continuarão nos mesmos patamares, embora essa modalidade de negócio já não desfrute da mesma força de dois anos atrás. Mesmo assim, ela ainda mantém bom fôlego na medida em que as empresas de carsharing e locadoras tentam ampliar suas frotas.
A digitalização dos processos não deixa dúvida de que a indústria automotiva, se quiser ganhar musculatura para sobreviver, deve aprimorar as vendas pela internet. Cabe às montadoras e às concessionárias, de forma conjunta, conduzir esse processo, na opinião de quase 90% entrevistados.
Nesse cenário, 78,6% dos usuários disseram que as montadoras precisam se responsabilizar pelas fases online de vendas, deixando para as concessionárias as etapas físicas da negociação. “O universo virtual e os novos hábitos de consumo exigem que o modelo de distribuição se adeque à nova realidade”, salienta Mauro Correa, presidente da CAOA Montadora.
A Pesquisa Mobilidade avaliou, também, a experiência de compra do consumidor. De 2019 para cá, o índice de interessados na aquisição de um automóvel zero-km caiu de 50% para 44,3%, ao passo que a busca por um usado subiu de 36% para 40%. Fatores como desemprego, falta de confiança na economia brasileira e preços dos automóveis explicam a retração.
Quem pretende adquirir um veículo não o fará rapidamente. Apenas 14% abrirão a carteira ainda em 2021, enquanto 75,7% tomarão a decisão em um período que varia de dois a quatro anos. “É preciso repensar nossa atuação junto ao cliente, a fim de criar soluções em produtos e serviços”, apregoa Antonio Filosa, presidente da Stellantis para a América do Sul.
Os aspectos que mexem no bolso do consumidor são capazes de determinar a compra. Cada entrevistado pôde selecionar cinco respostas, e o resultado apontou que 76% levam em conta o consumo, na hora da escolha do carro. O custo total de propriedade (composto por compra, seguro, IPVA e manutenção) ficou com 75,4%. Tipo de motor, qualidade dos serviços de pós-venda e rede de assistência técnica vieram em seguida.
Já entre os equipamentos, os preferidos do consumidor quando vai comprar um veículo são sensor de ré (70,5%), integração com smartphone (67,9%), câmbio automático (65,5%), ar-condicionado dual zone (53,9%) e painel digital (45,2%). O até então queridinho GPS caiu para a sétima posição.
Os consumidores mostram-se bastante receptivos diante das inovações da indústria automotiva e na oferta de serviços. Hoje, 18,3% dos entrevistados aceitariam alugar um carro de uma empresa de tecnologia, 17,3% usariam essa modalidade oferecida pela própria montadora e 16,7% recorreriam às locadoras tradicionais. “É claro que existem consumidores querendo comprar um carro, mas há muita gente optando por serviços de mobilidade”, atesta Rafael Chang, presidente da Toyota do Brasil.
Diante da questão se trocariam a posse do veículo por serviços de mobilidade, 42% responderam que essa cultura tende a amadurecer cada vez mais, dependendo da oferta de alternativas na região em que moram. “Quanto menor a oferta, menor é a chance de o brasileiro abrir mão do carro próprio”, ressalta a pesquisa. Para complementar, 53% revelaram que podem aderir ao novo serviço de carro por assinatura.
A mobilidade está diretamente relacionada aos provedores que se apresentam no mercado. Para 35,8% dos consumidores, o elemento-chave para escolher esse provedor tem a ver com a disponibilidade do veículo em qualquer lugar e a qualquer hora, enquanto 31,5% escolheriam uma marca confiável. Quase 24,5% levariam em conta o custo e 8,3%, simplesmente, não usam serviços de mobilidade.
Não dá para falar em mobilidade sem mencionar os veículos eletrificados. Os carros com motor a combustão ainda são os preferidos do consumidor para a compra nos próximos cinco anos (57%), mas as propulsões híbrida (43%) e elétrica (23%) vêm ganhando espaço.
Isso é confirmado na questão seguinte, em que 89,7% dos entrevistados gostariam de ter veículos elétricos acessíveis para compra, no Brasil. Como resolver, então, o entrave do custo alto? Para 77,3%, políticas de incentivo para a redução dos preços são o caminho para o avanço dos automóveis movidos a bateria, no mercado brasileiro. A ampliação dos pontos de recarga foi citada por 60% das repostas e políticas para apoiar a produção local ficaram com 52,5%.
Ao se colocar uma lupa sobre a possibilidade da produção de veículos elétricos no Brasil, 42,9% dos executivos das montadoras consideram parcialmente viável, 29,5% plenamente viável e 17% parcialmente inviável.
Quando instados a falar sobre mobilidade sustentável, 64,2% dos consumidores definem o conceito como veículos com emissão zero, movidos com combustível a partir de fontes renováveis de energia e fabricados com matérias-primas renováveis.
Já 22,9% remetem aos veículos que funcionam com combustível desenvolvido por fontes renováveis de energia, 10,9% aliam o conceito ao carro com emissão zero e 1,9% citam veículos fabricados com matérias-primas renováveis.
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