Com 2022 próximo ao fim e a perspectiva de cerca de 128 mil caminhões emplacados até dezembro, buscamos a opinião de especialistas para saber o que ocorrerá em 2023, já que as vendas nesse segmento são muito dependentes do crescimento do produto interno bruto (PIB), cujas projeções estão próximas a 0,5% de alta, apenas.
Para Carlos Briganti, diretor da consultoria Power Systems, as vendas vão recuar no ano que vem: “Trabalhamos com uma pequena queda de 6%. O ano começará com os caminhões custando cerca de 20% a mais por causa da entrada no sistema de controle de emissões Euro 6. Por isso, no primeiro trimestre, ocorrerá uma queda na produção e na oferta. E não se conseguirá retomar o mesmo ritmo até o fim do ano, porque esse sistema de tratamento de emissões é mais complexo e mais dependente de componentes eletrônicos, cuja escassez prejudicou a produção em 2022”.
A venda de caminhões, no Brasil, se concentra no escoamento da produção agrícola, e os setores de mineração e construção civil, também, movimentam esse mercado, especialmente os caminhões de grande porte. Briganti estima que esse cenário se mantenha. E acredita em crescimento nos modelos pequenos por causa do comércio eletrônico.
“O agronegócio continuará como grande puxador das vendas de caminhões pesados e semipesados. Alcançamos, no ano passado, uma safra que era prevista apenas para 2030. A próxima será de 312 milhões de toneladas de grãos. Se mantivermos esse ritmo de crescimento, chegaremos a 400 milhões de toneladas em 2025. E o mundo está precisando disso. Mas também é verdade que as taxas de juros vão atrapalhar”, recorda Briganti. “A venda de caminhões abaixo de 6 toneladas está crescendo [por causa do comércio eletrônico] e, aqui, há espaço para os modelos elétricos, apesar do preço elevado.”
O diretor da Power Systems acredita, ainda, que 2023 será um ano difícil, marcado por incertezas políticas e econômicas. “O mercado está muito ligado ao setor agrícola. E, se a média de crescimento do PIB for de 0,5%, é certo que haverá outros setores, que não o agronegócio, terminando o ano em queda.”
Briganti também acredita em espaço para crescimento das tecnologias de propulsão alternativa, sobretudo o gás: “É uma opção interessante, com usinas de cana-de-açúcar produzindo biogás e muitos projetos de usinas de compostagem para transformação de resíduos, também, em biogás, o que resolve o problema dos aterros sanitários. Vejo muita possibilidade de crescimento, mas ainda com a predominância dos motores a diesel.”
Sobre os elétricos, o executivo acredita no domínio das marcas europeias, mas recorda que a falta de semicondutores atinge ainda mais os veículos elétricos, e ressalta que o preço do lítio utilizado nas baterias teve alta expressiva (60% entre o fim de 2021 e abril deste ano). Para 2024, a expectativa de Briganti é de pequena recuperação, com vendas muito parecidas com as de 2022.
Durante a Fenatran, o Guia do Frotista ouviu Gustavo Bonini, vice-presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Ele ressalta que a associação, ainda, não tem uma projeção fechada para 2023. “A ideia é continuar pujante. Acho que a distribuição entre os segmentos [pesados, semipesados e outros] continuará estável, porque não há nenhum fator novo ou relevante.” No acumulado de 2022, os caminhões semipesados e pesados responderam, juntos, por 80% nas vendas de caminhões. Os semi têm capacidade de tração abaixo de 45 toneladas, e os pesados vão acima disso.
Sobre as tecnologias alternativas de motorização, Bonini recorda que os dados da Anfavea indicam cerca de mil unidades até o fim de 2022, na soma de caminhões elétricos e a gás emplacados, no País. “Existem mais montadoras entregando tecnologias de descarbonização. Há, sim, uma tendência de crescimento, e é muito provável que as vendas ultrapassem as 2 mil unidades em 2023.”
Bonini também acredita que o setor de mineração continuará movimentando a venda de caminhões pesados. “O que vemos é que esse setor da economia vem contribuindo e até ajudou na recuperação das vendas no pior período da pandemia de covid-19.” Assim como a construção civil e o agronegócio, a mineração favorece a venda de caminhões fora de estrada pesados.