Acalmamento do tráfego e seu impacto na segurança

Área Calma na Rua Salete, em Santana: local de grande circulação em lojas e restaurantes na zona norte da cidade. Foto: Cris Pino

17/08/2022 - Tempo de leitura: 4 minutos, 14 segundos

Especialistas em mobilidade são unânimes em relacionar a diminuição nas velocidades das vias brasileiras com a redução no número de mortes e de feridos no trânsito. De acordo com Danielle Hope, gerente de mobilidade ativa do Instituto de Políticas de Transporte & Desenvolvimento, ITDP Brasil, as chances de uma pessoa vir a falecer em um acidente a 50 km/h é de 85%. “Já trafegando a 30 km/h, essa probabilidade baixa para 15%, revelando uma diferença muito grande na mortalidade e, também, na gravidade desses sinistros”, afirma.

Para priorizar os modos ativos de transporte, como pedestres e ciclistas, com foco em sua segurança, a cidade de São Paulo finalizou, em maio de 2021, o projeto de entrega das que ficaram conhecidas como “Áreas Calmas”, ou locais em que a velocidade máxima passou de 40 km/h para 30 km/hora.

De acordo com a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), essas regiões são parte do conjunto de ações e políticas públicas contidas no Plano de Segurança Viária (Vida Segura), lançado pela prefeitura em 2019 e que integra o esforço global para o aumento da segurança nas ruas. A implantação da velocidade limite é a última etapa de uma série de transformações feita na geometria das ruas, no tamanho e no avanço das calçadas, nas travessias e na sinalização.

Mudanças na prática

Três regiões contam, atualmente, com essa nova realidade na cidade de São Paulo desde o ano passado: Áreas Calmas da Lapa de Cima e da Lapa de Baixo, ambas localizadas na zona oeste, e Área Calma de Santana, na zona norte (confira detalhes no quadro ao lado).

Em comum, todas possuem elevado fluxo de pedestres, alta concentração de polos comerciais e de equipamentos públicos, integração com sistemas de transporte público de média e alta capacidades, e, entre 2015 e 2010, possuíam elevado número de atropelamentos.

“Essas áreas criam células dentro das cidades em que as pessoas, os pedestres e ciclistas são prioridade, e não os carros. Ao direcionar o fluxo de veículos e sua velocidade, se oferece maior tranquilidade e qualidade de vida. Outro aspecto importante é que essas zonas fortalecem o sentimento de pertencimento, além da convivência no ambiente urbano”, explica Danielle.

São Miguel Paulista, na zona leste do município de São Paulo, será a próxima Área Calma a ser finalizada. De acordo com nota da CET, “já foram implantados todos os projetos do trecho da Av. Nordestina, e, atualmente, está em fase de licitação a implantação de obras pela SPTrans/Secretaria Municipal dos Transportes (SMT) e a licitação da CET para a os projetos semafóricos”.

Além da redução das velocidades para 30 km/h, as Áreas Calmas englobam mudanças também estruturais das vias (veja quadro). Como são recentes, a CET afirma que ainda não é possível avaliar os resultados. “Também chamadas de ‘zonas 30’, elas são fundamentais e deveriam ter implementação sistemática, se estendendo por toda a cidade. Mas, infelizmente, o ritmo dessas medidas diminuiu muito no último ano, e os locais em que elas operam, hoje, são isolados, e, na prática, não estão coibindo os motoristas a reduzirem a velocidade. Essas áreas deveriam fazer parte de um projeto bem maior”, diz Renata Falzoni, jornalista, fotógrafa e cicloativista.

Entenda as mudanças no desenho viário feitas em uma Área Calma

Ampliação e requalificação de calçadas com acessibilidade (rebaixamento dos locais de travessia),com aumento na largura das calçadas
Implantação de travessia elevada, lombadas e rotatórias (que obrigam os carros a reduzirem a velocidade), com aumento no tempo de semáforo e no de travessia para pedestres padronizado para não ultrapassar 1 m/s
Reposicionamento e elevação de faixas de travessia e melhorias na iluminação, além da sinalização característica nas faixas elevadas

Conheça um pouco mais sobre as Áreas Calmas de São Paulo

Lapa de Cima

Trecho delimitado: ruas 12 de Outubro, George Smith, John Harrison, Aurélia e Faustolo
Intervenções: alargamento de calçadas, implementação de faixas de travessia elevadas, sinalização horizontal e mais de 150 novas placas
Acidentes: 47 atropelamentos, sendo 3 deles fatais, entre 2015 e 2020

Lapa de Baixo

Trecho delimitado: ruas William Speers e Heliodoro Ébano Pereira e Av. Ermano Marchetti
Intervenções: avanços dos passeios nas esquinas, rebaixamento de guias e faixas de travessia elevadas, requalificação do calçamento, rampas de acessibilidade e avanços de travessia, sinalização horizontal e mais de 150 placas de advertência
Acidentes: 10 atropelamentos, sendo 1 deles fatal

Santana

Trecho delimitado: ruas Dr. Zuquim, Alferes Magalhães, Av. Braz Leme, ruas Fernando Sandreschi, Salete, Amaral Gama, Nunes Garcia e Bem-Vinda de Aparecida
Intervenções: travessias elevadas, avanços de calçadas em cruzamentos e adequações de cruzamentos, sinalização horizontal e mais de 150 placas de advertência
Acidentes: 71 atropelamentos, 9 deles fatais