Que usar o celular enquanto dirige é perigoso – além de ilegal – todo mundo sabe. Mas a maioria desconhece que essa prática multiplica por quatro o risco de acidentes de trânsito. De acordo com a Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet), a combinação de direção com o uso de smartphones é a terceira maior causa de mortes de trânsito no Brasil, vitimando cerca de 150 motoristas por dia e 54 mil todos os anos. De acordo com Antonio Meira Júnior, diretor da Abramet e membro da Câmara Técnica do Conselho Federal de Medicina, mais de 90% dos acidentes de trânsito têm como causa o fator humano. “Então, não ocorrem por acaso. Nós conhecemos as causas e a maioria é passível de prevenção, como obedecer às normas de trânsito para uma dirigibilidade segura”, explica. Apenas para ter uma ideia da gravidade da situação, de acordo com a Abramet esse porcentual elevado é comparável ao perigo de dirigir sob o efeito do álcool.
“Ao verificar o celular, o condutor se distrai. E isso se traduz em números assombrosos: 3 segundos a 60 quilômetros por hora equivalem a percorrer 50 metros em condição de cegueira”, afirma Paulo Renato Jotz, diretor da Creare Sistemas, empresa que desenvolveu uma solução para frotas chamada Focus, que identifica condutores com hábitos perigosos e notifica seus gestores. “O risco na direção aumenta em 400% se o motorista estiver digitando, enquanto o tempo de reação dele quando usa o smartphone para qualquer fim se torna 2 vezes maior, ou seja, ele precisará do dobro do tempo para reagir a qualquer intercorrência, o que pode resultar em acidente”, completa o Jotz.
Estudo recente elaborado pelo Centro de Experimentação e Segurança Viária (Cesvi) revelou que os motoristas chegam a ficar até 5 segundos sem prestar atenção na via enquanto estão manuseando o celular. Isso é o mesmo que percorrer uma distância equivalente a 12 carros populares enfileirados com os olhos completamente fechados e trafegando a uma velocidade de 80 quilômetros por hora. De acordo com o Cesvi, o caso é ainda mais perigoso quando o condutor responde a uma mensagem, tarefa que pode levar até 23 segundos e é o mesmo que percorrer um campo de futebol com os olhos vendados.
A prática é tão perigosa quanto comum: um levantamento do Ministério da Saúde revelou que um em cada cinco brasileiros admite usar o celular enquanto dirige. O estudo ouviu mais de 52 mil pessoas durante todo o ano de 2018. Apenas nos sete primeiros meses de 2018, o número de multas de trânsito aplicadas por esse motivo cresceu 33% de acordo com o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran). Fagner Soares de Lima, assistente administrativo, foi pego cometendo essa infração de trânsito. “Outro dia eu estava enviando um áudio para um amigo e, no momento, um agente da CET viu e me multou. Fiquei chateado porque foram poucas vezes que dirigi usando o celular, mas depois disso passei a me policiar para não cometer o mesmo erro”, conta. A relações-públicas Mariana Pezzotti confessa que já usou muito o celular enquanto dirigia, mas diz que tem repensado suas atitudes. “Minha profissão exige que eu esteja sempre conectada e responda rapidamente. Já tive várias experiências ruins, até já me envolvi em pequenos acidentes. Mas, com a maturidade, percebemos que algumas coisas não valem a pena e que não dá para colocar nossa vida e a dos outros em risco”, conta Mariana.
O uso do celular ao volante é proibido pelo Código de Trânsito Brasileiro (CTB), que classifica a prática como infração gravíssima, com multa de R$ 293,47 e sete pontos no prontuário do motorista. Pelo código, o condutor deve dirigir com as duas mãos no volante, exceto nas trocas de marcha, quando acessar equipamentos do veículo ou sinalizar com os braços nas trocas de faixa e nas conversões. E um aviso importante: sistemas de viva-voz não são proibidos, mas segundo especialistas devem ser evitados, pois também desviam a atenção da direção.