19 de agosto: Dia do Ciclista

Luiz Thunderbird, músico, apresentador, Youtuber e podcaster, pedala pelo menos três vezes por semana nas ciclovias de São Paulo. Foto: Marco Ankosqui/Estadão

18/08/2021 - Tempo de leitura: 5 minutos, 35 segundos

Quinta-feira (19/08) é o Dia Nacional do Ciclista, uma data que, se não merece comemoração, pede uma reflexão de toda a sociedade. Ela foi sancionada em novembro de 2017, quando foi publicada no Diário Oficial da União a lei 13.508/2017, e foi escolhida em memória a Pedro Davison, biólogo e ciclista brasiliense vítima de um acidente fatal em 2006, quando ele tinha apenas 25 anos de idade e pedalava no Eixo Sul, em Brasília (DF).

O que aconteceu com Davison em Brasília não se trata de um caso isolado. De acordo com levantamento feito pela Associação Brasileira de Medicina do Tráfego (Abramet), quase 13 mil internações hospitalares causadas por atropelamento de ciclistas em todo o Brasil foram registradas no Sistema Único de Saúde (SUS), entre 2010 e 2020, com gasto de R$ 15 milhões todos os anos para tratar ciclistas traumatizados em colisão com motocicletas, automóveis, ônibus, caminhões e outros veículos de transporte. Além disso, na última década, 13.718 ciclistas morreram no trânsito brasileiro após se envolverem em algum acidente, 60% deles em atropelamentos.

Desde 2017, quando foi oficializada, a data se tornou importante para reflexões, discussões principalmente sobre a segurança dos ciclistas e o papel de todos os agentes do trânsito para que as bikes sejam vistas e respeitadas como um modal, como todos os demais. Para falar de suas necessidades, reivindicações e, principalmente, sobre a importância do Dia Nacional do Ciclista, o Mobilidade Estadão conversou com pessoas que adotaram as bikes em suas vidas e inspiram, lutam e ajudam outros a fazerem o mesmo. Confira a seguir.

Renata Falzoni, é arquiteta e jornalista. Uma das mais conhecidas cicloativistas do País, adotou bicicleta como transporte há mais de 40 anos. É vereadora suplente em São Paulo pelo PV.

O Dia Nacional do Ciclista é um convite para que a sociedade veja e perceba o ciclista e, a partir daí, promova e adote uma conduta cidadã, no sentido de guardar respeito, dar atenção e, principalmente, ter admiração aos que pedalam. Digo por experiência própria, não é fácil ser ciclista nesse País e, de fato, não sei de onde vem tanta resiliência daqueles que, como eu, não desistem de exercer esse direito. Portanto, nesse Dia Nacional do Ciclista, nos cairia muito bem um maior entendimento da população, em especial daqueles que rodam em carros, do quanto optar pela bicicleta como meio de transporte, esporte e lazer faz bem a todos, independentemente de a pessoa pedalar ou não.” Renata Falzoni

Luiz Thunderbird, Músico, apresentador, Youtuber e podcaster, tem um programa chamado Garupa Podcast. Foto: Marco Anquoski/Estadão

O Dia Nacional do Ciclista é importante por trazer o tema da mobilidade urbana para a discussão entre a população. Eu adoro pedalar! A bicicleta é um instrumento de sobrevivência pra mim. Ela me ajuda na minha saúde mental, espiritual e física. Já trouxe muitas amigas e amigos para o pedal. Viva a bicicleta! Salve o ciclista de todo o dia!.” Luiz Thunderbird

Vivi Mendonça é professora, ciclista e fundadora das redes sociais VouDeBikeeSaltoAlto, incentivando, desde 2011, mulheres a pedalar. Há 15 anos ela pratica cicloturismo e usa a bicicleta como meio de transporte.

“A data é um convite para uma reflexão sobre as nossas atitudes no trânsito. No Paraná, eu e outros ciclistas estamos envolvidos na campanha #maispedalmenospedágio pela criação de ciclovias em rodovias que ligam as maiores cidades do Estado, onde as pessoas trabalham, mas não vivem, facilitando assim o vai e vem nas rodovias entre as cidades grandes e os municípios que são dormitório da população. A ideia é que as ciclovias sejam incluídas nos contratos de concessão das rodovias, que serão renovados em novembro. O Dia Nacional do Ciclista também é importante para promover o uso da bicicleta como modal sustentável, como forma de ir ao trabalho, de entretenimento, de lazer e mudança de hábito e de vida para cada um que escolher a bike como sua companheira.” Vivi Mendonça

Nestor Freire é engenheiro mecânico, ciclista de viagem, idealizador do Projeto Giraventura, uma jornada de expedições anuais de viagens de bicicleta, composta de 15 etapas em 15 anos (de 2013 a 2027).

“Comemorado todo ano, poucos sabem que o Dia Nacional do Ciclista decorre de mais um episódio trágico pelas ruas do Brasil, ou seja, a morte do ciclista Pedro Davison em Brasília, corrida no dia 19 de agosto de 2006. Infelizmente, há outros ‘dias dos ciclistas’: 19 de janeiro, quando Marcia Prado foi atropelada por um ônibus enquanto pedalava pela Avenida Paulista; 8 de novembro, quando Marina Harkot foi atropelada e assassinada em sua bicicleta e 18 de julho, quando o cicloturista Rafael Tofoli foi atropelado na Rodovia dos Imigrantes em São Paulo. Antes que tenhamos 365 dias de luto pelos ciclistas em nosso calendário, vale uma reflexão pela paz no trânsito e a consciência da importância do uso diário da bicicleta como instrumento de desenvolvimento social e humano.” Nestor Freire

Henrique Beckmann, especialista em fluidez segura e criador do projeto Você Ciclista, que inclui treinamentos, consultoria para a escolha do melhor modelo de bike e até a publicação de guias informativos

“O Dia Nacional do Ciclista é importante porque quem pedala tem o direito de usar as vias, de escolher a bike como seu modal e de se manter vivo e ser respeitado como todos os demais cidadãos, se deslocando em segurança. Esse é um dia marcante para reforçar nossos direitos e deveres como ciclistas, e para conscientizar quem divide as vias conosco, como motoristas e motociclistas, sobre a importância de cuidarmos uns dos outros. E para os ciclistas, é fundamental que se lembrem de seus deveres, também, principalmente o cuidado com os pedestres, que são os mais frágeis no trânsito.” Henrique Beckman

Daniela Saragiotto, jornalista e iniciante no pedal, com seus filhos Theo (12 anos) e Julia (8 anos) e o marido, Fabio Barreto (fotografando a família). Foto: Acervo Pessoal

“Voltei a pedalar com a pandemia e a necessidade de fazer algum tipo de exercício. Meus filhos já pedalavam com meu marido e me juntei a eles. É uma atividade muito prazerosa: ver a cidade de outros ângulos, conhecer as ciclovias. Para as crianças é uma experiência super positiva: eles observam os demais ciclistas, seguem as regras e criticam o comportamento de alguns motoristas de carro e motocicletas. Estou certa de que – se optarem por ter carro – serão mais conscientes por conta da influência da bike.” Daniela Saragiotto