Um dos planos do governo do Estado de São Paulo reduzir as emissoes de gases de efeito estufa (GEE) é substituir as balsas movidas a óleo diesel por modelos novos movidos a propulsão elétrica. O edital que vai implementar um sistema de balsas elétricas nas travessias hídricas de São Paulo deve ser publicado ainda no primeiro semestre de 2025.
Porém, até isso acontecer, o projeto pode sofrer algumas alterações, aponta o presente da Companhia Paulista de Parcerias (CPP), Edgard Benozatti. Confira tudo que sabemos sobre as balsas elétricas previstas para iniciarem a operação em 2027.
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As balsas e lanchas elétricas são a aposta do governo do Estado de São Paulo para renovação da frota e redução da emissão de GEE. Atualmente, o Estado conta com 14 travessias hídricas, movimentadas por balsas com mais de 20 anos, movidas a diesel.
Com a mudança das embarcações, a previsão do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) é de reduzir a emissão de 18 mil toneladas de CO2 por ano, somente nas travessias litorâneas.
Conforme divulgado pelo PPI, o transporte hídrico de São Paulo movimenta cerca de 10 milhões veículos por ano e aproximadamente 11 milhões de passageiros. Com o intuito de melhorar o serviço, o governo estadual prevê a compra de 44 embarcações elétricas e quatro conjuntos de balsas-empurradores movidas a combustível fóssil. Além disso, os terminais e infraestrutura terrestre devem ser reformados.
Em entrevista ao Mobilidade Estadão, Benozatti informou que as atuais embarcações terão diferentes destinos. Segundo o presidente, cada embarcações será avaliada individualmente.
“Essa avaliação depende muito se a embarcação ainda tem alguma vida útil, alguns casos que já tá numa situação um pouco mais precária elas vão simplesmente ser desativadas e em outros, eventualmente, podem ser utilizadas e ficar como ali um backup para caso de estudo”, explica ele.
Entretanto, Benozatti pontua que nem todas as embarcações são de São Paulo, mas arrendadas. Ou seja, com o novo edital, elas devem retornar aos seus proprietários originais.
De acordo com o projeto apresentado pela PPI, o edital será na modalidade concessão patrocinada. Ou seja, haverá cobrança de tarifa dos usuários. Porém, Benozatti ressalta que não haverá aumento das tarifas. “Não é um projeto que só fica de pé como aumento de tarifas”, explica ele.
Conforme o presidente, a eletrificação e atualização da infraestrutura foram planejadas com base na tarifa atual e as isenções já previstas. “A tarifa continua na mão do Estado, continua sendo uma decisão da Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística. E essa definição continua com eles, então o Estado não está terceirizando a política tarifária”, conclui Benozatti.
O projeto prevê que a operação das balsas elétricas seja colocado em prática em 14 travessias, em cinco regiões do Estado de São Paulo. Além disso, a infraestrutura de suporte será de 25 terminais e 5 estaleiros.
De acordo com o projeto divulgado nas audiências públicas realizadas nas cidades onde os moradores realizam travessias hídricas, haverá reabilitação e ampliação da estrutura de 20 novos terminais. Ademais, 9 terminais serão ampliados.
O Estado ainda prevê uma nova nova oficina de manutenção, ampliações, 64 câmeras de segurança, 32 circuitos internos de TV, 13 novas cabines automáticas e 3 Centros de Controle.
Já em relação as balsas elétricas, o projeto prevê a compra de 48 novas embarcações, de 9 modelos diferentes, sendo 5 ferryboats e 3 lanchas. Dessa forma, cada travessia receberá as balsas que contemplem melhor a particularidade daquele trecho, com diferentes tamanhos e capacidades.
Ainda em fase de desenvolvimento, a minuta do edital prevê que a concessão tenha participação tanto de empresas brasileiras quanto internacionais. O vencedor do leilão, previsto para ocorrer até julho de 2025, será responsável por todas as travessias do Estado de São Paulo. Entretanto, o projeto ressalta que não se trata de uma privatização. Pois, ao fim dos 20 anos de concessão, as balsas elétricas serão de propriedade do Estado. Além disso, a empresa não terá controle sobre a política tarifária.
“Ao final do contrato, lá dos 20 anos do contrato essas embarcações vêm para o Estado, então são é o que a gente chama de bens reversíveis”, explica Benozatti. Entretanto, o edital não estabelece exatamente quais embarcações devem ser adquiridas, isso fica a critério da empresa ganhadora.
“A gente não define o modelo ou quem de quem que vai comprar o tipo porque isso é um parceiro privado, é da inteligência dele”, diz o presidente. Entretanto, os parâmetros dos nove modelos pré-estabelecidos devem ser cumpridos.
Ademais, a remuneração da empresa vencedora vai acontecer por quantidade de viagens realizadas. O que, segundo Edgard, vai promover mais qualidade e rapidez para os usuários
De acordo com o projeto inicial, o governo do Estado de São Paulo prevê um investimento de cerca de R$ 1,05 bilhão. Esse valor deve ser divido entre as necessidades de embarcações e infraestrutura das 14 travessias, litorâneas e no continente.
A maior parte do valor será destinado aos investimentos para aquisição das balsas elétricas, flutuantes e ampliação dos atuais flutuantes. Para que isso seja concretizado, o Estado prevê R$ 928 milhões.
Além disso, a construção de novos terminais, ampliações, bicicletários, aquisição de novos sistemas de operação e controle, automação da cobrança, comunicação e segurança dos usuários deve custar R$ 129 milhões.
“A gente tem uma expectativa muito grande em relação eh ao quanto que esse projeto pode movimentar aos estaleiros aqui no Brasil ou indústria normal, porque é uma encomenda é muito grande”, diz o presidente do CPP.
Ele ainda conta que tem conversado com parceiros estrangeiros, que ressaltaram que o projeto paulista é um dos maiores do mundo. “Projetos grandes que acontecem na Europa, eles estão onde a aquisição de 10 a 20 embarcações, aqui a gente tá falando de é 48 novas, então é muita coisa, então a gente quer deixar aberto para que a indústria naval possa se aproveitar da melhor maneira possível”, conta ele.
Além disso, haverá investimento socioambiental calculado em R$ 9 milhões. Conforme o projeto, esse investimento corresponde a regularização ambiental, implantação de programas de sustentabilidade e mitigação de riscos ambientais.
Quando começou a ser divulgado, o projeto determinou que seriam 44 embarcações movidas a propulsão elétrica. Entretanto, Benozatti comenta que novos estudos estão mostrando divergências quanto essas convicções. Segundo ele, existes travessias que o ganho logístico e operacional de instalar balsas elétricas não é tão benéfico quanto esperado.
Por isso, até a publicação do edital final, o CPP realiza novos estudos para entender se o projeto inicial será mantido na sua integridade ou pode passar por alterações.
“Tanto do ponto de vista se é possível eletrificar ali na região, como também se faz sentido do ponto de vista do ganho ambiental e do ganho operacional”, explica o presidente. “Também [no âmbito] da confiabilidade, se todas as 44 [embarcações] de fato fazem sentido ou se esse número vai variar um pouco, então a gente tá nesse momento de avaliação do projeto”, argumenta Benozatti.
Cada travessia de São Paulo tem uma característica diferente. Enquanto alguns trajetos demoram apenas alguns minutos e ocorrem durante todo dia, outros têm frequência reduzida e extensão ampliada. Ou seja, é possível passar horas ou minutos em uma balsa. E isso vai determinar a autonomia de cada bateria e a gestão das viagens.
Conforme Benozatti, em travessia como a de São Sebastião a Ilhabela, o sistema de carregamento deve ocorrer entra um desembarque e novo embarque. Desse modo, serão instalados carregadores com ímãs. A partir do momento que a embarcação atraca, ela começa a carregar. Já que é um trecho bastante movimentado, será difícil que as baterias sejam completamente carregadas antes da próxima viagens.
“Com a nova tecnologia, de modo geral, se você fica rodando muito tempo com uma carga baixa, você diminui a expectativa de vida da bateria, a vida útil dela”, ele explica. Entretanto, o balanço entre a troca de novas baterias e a logística das viagens é algo estudado pelo mercado e pode ser equilibrado, ressalta Benozatti.
Já uma travessia mais longa com a de Cananéia, que dura cerca de 3 horas, outro tipo de carregamento será implementado. Visto que o trajeto é realizado apenas algumas vezes por semana, as baterias podemos ser carregadas nos momentos de ócio, garantindo o uso integral da capacidade dela.
As travessias são divididas em cinco regiões: Paraibuna, Litoral Norte, Litoral Centro, Litoral Sul, RMSP.
Na região de Paraibuna, existem três travessias: Porto Paraitinga, Porto de Varginha e Porto Natividade da Serra. Nessa região, o Estado prevê quatro ferryboats.
Confira o que está previsto em cada local:
A frequência das operação ocorrem sob demanda. A embarcação destinada ao trajeto tem capacidade de levar 12 veículos, um aumento de 140%, segundo o PPI.
Comércio:
Varginha:
Assim como a travessia Comércio – Varginha, o trajeto entre Capim D’Angola e Ribeirão Branco vai ocorrer sob demanda. Além disso, a embarcação também tem capacidade de levar 12 veículos.
Capim D’Angola:
Ribeirão Branco:
O trajeto também ocorrerá sob demanda, com duas balsas-empurradoras, que tem capacidade de levar 24 veículos. Segundo o projeto, isso representa um aumento de 100% na capacidade de operação.
Natividade da Serra
Bairro Alto:
Pouso Alto:
No Litoral Norte, a travessia é entre São Sebastião e Ilhabela. Para essa operação, o projeto prevê nove ferryboats e três lanchas.
Esta travessia deve ocorrer a cada 30 minutos nos horários de pico, com previsão para viagens extras. Para isso, 12 embarcações de três modelos diferentes serão destinadas a travessia, com capacidade de levar 570 veículos e 1,4 mil passageiros.
São Sebastião:
Ilhabela:
No Litoral Centro, existem três travessias: Santos a Vicente de Carvalho, Santos ao Guarujá e Bertioga ao Guarujá. Para isso, devem ser destinados 13 ferryboats e seis lanchas.
Segundo o plenajemento, devem ocorrer seis viagens por hora nos horários de pico. Serão 10 embarcações de dois modelos com capacidade para transportar 376 veículos.
Santos:
Guarujá:
Já nesta travessia, a operação deve contar com seis embarcações, que tem capacidade de transportar 1,5 mil passageiros, uma redução de 15% na capacidade. Entretanto, conforme o plano, essa redução será balançeada com mais viagens e confiabilidade das operações.
Santos:
Vicente de Carvalho:
Neste trecho, a CPP prevê quatro viagens por hora através de três embarcações. Porém, a capacidade de cada balsa é de apenas 96 veículos, uma redução de 20% em comparação com a operação atual. Conforme a apresentação do projeto, o aumento da frequência das viagens vai compensar essa redução.
Bertioga:
Guarujá:
No Litoral Sul são quatro trechos: Cananéia ao continente, Cananeia a Ilha Comprida, Cananeia a Ariri e Iguape a Juréia. Essa operaçãod eve contar com sete ferryboats e uma lancha.
Neste trajeto, são esperadas duas viagens por hora. Para isso, o trecho receberá três embarcações com capacidade de transporte de 84 veículos, um aumento de 75% na capacidade.
Cananéia:
Ilha Comprida:
Já neste trajeto, os usuários podem esperar uma viagem a cada 45 minutos. Serão duas embarcações com capacide de 36 veículos.
Cananéia:
Continente:
Neste trajeto, serão realizadas quatro viagens por semana, com uma embarcação. Porém, a capacidade da embarcação é reduzida em 60%, com espaço para 100 passageiros. “A frequência de viagens não demanda a existência de embarcação adicional, o que leva a uma melhora na eficiência e na qualidade do serviço prestado”, diz a apresentação do projeto.
Marujá:
Ariri:
Esta travessia deve ocorrer a cada 25 minutos. Para isso, serão utilizadas duas embarcações com capacidade para transportar 36 veículos.
Iguape:
Juréia:
A região continental do RMSP conta com três travessias: Bororé a Grajaú, Taquecetuba a Bororé e João Basso a Taquecetuba. Para isso, a região deve receber cinco ferrryboats.
Neste trecho, são esperadas quatro partidas por hora, com viagens adicionais caso necessário. O projeto prevê duas embarcações com capacidade para 80 veículos, um ganho de mais de 100% de capacidade.
João Basso:
Riacho Grande:
Conforme o projeto apresentado, este trecho terá duas viagens por hora. Uma embarcação será destinada ao trajeto, com capacidade de 18 veículos, o que representa uma redução de 60%. “O sistema RMSP terá um aumento de 25% da frota, esta frota adicional poderá ser realocada em função da demanda”, diz a apresentação.
Taquacetuba:
Bororé:
Já neste trajeto serão quatro partidas por hora. A operação será realizada por duas embarcações, com capacidade de transportar 36 veículos.
Bororé:
Grajaú:
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