Ciclovia da Paulista: os resultados após quatro anos


12/07/2019 - Tempo de leitura: 4 minutos, 22 segundos

Do entregador de mercadorias ao operador do mercado financeiro. Do estudante do fundamental ao doutorando. De crianças a idosos. De turistas a moradores da região com seus animais de estimação. De gente que mora perto aos que veem de muito longe. Desde que a ciclovia da Paulista foi inaugurada, só cresce o número e a diversidade de usuários.

Uma amostra pode ser vista ao longo desse texto, em cliques feitos pelo fotógrafo e ciclista Ivson Miranda, que há anos acompanha o dia a dia de quem usa a bicicleta na cidade.

Se antes, até pelo risco de pedalar entre carros, motos, caminhões e ônibus, só os mais experientes usavam a via no trajeto cotidiano, a faixa exclusiva estimulou o acesso. E foi bem rápido. Em junho, o mês da inauguração, uma pesquisa da ONG Ciclocidade mostrou que a circulação na avenida era de 997 ciclistas por dia. Exatamente um ano depois, o número mais que dobrou. Um levantamento da CET computou 2148 viagens diárias de bicicleta. E para deixar ainda mais evidente a tendência, em 2017 o contador de ciclistas instalado na R. Vergueiro, próximo ao acesso à ciclovia da Paulista, registrou um numero surpreendente de 6158 passagens.

Se um tanto desses novos usuários fazia caminhos alternativos – mais longos e íngremes – muitos outros só criaram coragem de botar a bike na rua após saberem que era possível cruzar o espigão da cidade sem riscos. Um estudo feito em 2015 em parceria entre as ONGs Ciclocidade, Transporte Ativo e Observatório das Metrópoles mostrou que 40% dos ciclistas paulistanos usavam a bicicleta havia menos de um ano, período em que os primeiros trechos do programa Ciclovia 400 km haviam sido inaugurados.

No caso da Paulista, entre esses novos ciclistas está gente que trocou o carro ou o metrô pela magrela e outros que nunca se imaginavam por ali. Mães com filhos em cadeirinhas em uma segunda-feira às 17h, uma cena comum hoje em dia, era impensável até junho de 2015. Turistas pedalando com calma enquanto observam os prédios e os parques da região também não se cogitava.

E como ocorre em outras vias da cidade pelas quais as bikes circulam, a Paulista ganhou benefícios ambientais. Cada um que opta por ir e voltar do trabalho de bike em vez de pilotar um carro por ali reduz diariamente em 2 kg a emissão de gás carbônico para a atmosfera. No total de viagens na avenida, são duas toneladas a menos de poluentes todos os dias.

Dá para somar a isso a economia com tratamento médico – já que pedalar evita doenças como hipertensão, colesterol e AVC – e, por fim, provavelmente o ganho mais rápido que um ciclista tem: a redução do estresse. Quem pedala entre 30 a 60 minutos todos os dias pode reduzir em até 50% os riscos da depressão. A atividade estimula a liberação de substâncias como a endorfina, que provoca o relaxamento, e a serotonina, que ajuda a manter o bom humor.

Isso sem contar os ganhos subjetivos. A bicicleta é uma máquina de fazer amigos. Sem o isolamento de qualquer lataria, fica muito mais fácil bater papo com quem aparece pelo caminho.

No aspecto urbanístico, a ciclovia era o elemento que faltava para que a Paulista possuísse uma estrutura de mobilidade urbana completa, contando agora com espaços para todos os modais. E de quebra, ela foi o pretexto que tornou a via um imenso parque aos domingos, com o bloqueio da circulação de automóveis, medida que sobreviveu praticamente inalterada a troca de gestão municipal.

Provavelmente, como se notam em medições recentes, os resultados foram determinantes para blindar o projeto a humores políticos. Lançada em maio de 2019, a pesquisa “Avaliação de Impacto da Paulista Aberta na Vitalidade Urbana”, desenvolvida por organizações como o Laboratório de Mobilidade Sustentável da UFRJ e o instituto ITDP Brasil, registrou que 66% do comerciantes locais afirmam que suas vendas aumentaram após a implantação do projeto e 71% dos moradores são a favor da Paulista Aberta.

Obviamente, por mais amplos que sejam os benefícios da ciclovia da Paulista, uma enorme massa de ciclistas e pessoas que desejam pedalar em segurança permanecem desamparados, seja por causa da situação de abandono na qual se encontram as ciclovias da cidade ou por conta da ausência de políticas públicas que garantam a segurança dos ciclistas. Enquanto isso, o sonho de ver São Paulo tornar-se uma cidade de bicicletas aparenta estar cada vez mais distante, evidenciado de forma cruel no aumento das mortes de ciclistas na cidade nos últimos anos.

De qualquer forma, a pista de bikes mais famosa da capital serve de estímulo para ONGs, coletivos e grupos ativistas pressionarem o poder público, cobrarem a construção de outras ciclovias ‘padrão Paulista’ pela cidade.

Afinal, o peso simbólico da obra é signifcativo: uma ciclovia implantada no mais famoso cartão postal de São Paulo é o reconhecimento do papel da bicicleta como instrumento de promoção de uma cidade melhor.