Nos últimos anos, o usuário passou a ter contato com novas tecnologias e novas formas de utilização do automóvel. Com a modalidade de assinatura – opção que recentemente passou a ser oferecida por diversas empresas -, o interessado em um determinado modelo não precisa necessariamente realizar a compra. “A assinatura permite acesso a um carro exclusivo, como um 4×4, e pode mudar o propósito de vida do cliente por 12 meses”, resume Alexandre Aquino, vice-presidente da Jeep para a América do Sul. O executivo refere-se à possibilidade de usar um automóvel capaz de chegar a locais de difícil acesso, mais próximo da natureza.
A assinatura foi um dos temas debatidos no painel “Futuro da Indústria de Veículos e Comportamento do Consumidor Brasileiro, Carros por Assinatura, Locação e Compartilhamento”, do qual participaram também Marina Willisch (vice-presidente de Comunicação, Relações Governamentais e ESG da GM na América do Sul), Jamyl Jarrus (diretor executivo de Vendas e Marketing da Movida) e José Augusto Amorim (analista de mercado automotivo da GlobalData).
A assinatura permite trocar despesas de aquisição e demais gastos fixos (como licenciamento, IPVA, manutenção e seguros) por uma mensalidade que inclui todos os custos. Aquino ressalta que não se trata de uma modalidade concorrente da compra tradicional, mas uma opção adicional.
“Há pessoas que são mais apegadas à posse, que dão nome ao carro. O veículo é um pet para elas”, diz. Segundo ele, quem tem esse tipo de perfil compra carro. Em contrapartida, “clientes mais racionais e apegados ao lado financeiro são mais propensos a optar pela assinatura”, diz.
A tendência é confirmada por Jarrus, da Movida. Ele diz que o público típico que opta pela assinatura é “o jovem, com maior desapego do bem”. “Ele está mais interessado na usabilidade e menos na posse”, resume.
A assinatura é considerada uma locação de longo prazo. As empresas oferecem planos que normalmente vão de 12 a 48 meses. Além do prazo estendido, a maior diferença em relação ao aluguel convencional é que no primeiro caso o veículo é 0-km.
De acordo com o executivo da Movida, “o potencial de crescimento (da modalidade) é gigantesco”. Segundo ele, em vez de avaliar o preço total do veículo, “a pessoa vê se (a mensalidade) cabe no bolso dela”.
É o mesmo raciocínio do analista de mercado José Augusto Amorim, da GlobalData. “O consumidor olha a mensalidade, não o custo total.” Para acompanhar a tendência, além das locadoras, seguradoras e até as montadoras entraram no negócio. “De produtoras de automóveis, as montadoras passaram a ser provedoras de serviço”, atesta o analista de mercado.
Além do cliente pessoa física, Jarrus informa que a assinatura tem tido “crescimento exponencial” também no segmento comercial, com carros de entrega para os grandes varejistas, além de ter crescido ainda no segmento de pequenas e médias empresas.
Já a locação, embora não seja uma modalidade recente, também está em expansão. Segundo Jarrus, o volume de aluguel triplicou em 20 anos, e tem possibilidade de crescer ainda mais.
Tanto na locação como na assinatura, a Movida tem elevado a oferta de automóveis elétricos. O executivo diz que a empresa já tem mais de 600 unidades do gênero na frota, incluindo modelos destinados ao transporte de carga e veículos subcompactos de uso urbano (caso do Fiat 500e).
Embora a procura ainda seja pequena por veículos elétricos (menos de 2%, nas estimativas de Jarrus), o diretor diz que “é importante olhar a curva de crescimento”, para avaliar a aceitação.
Marina Willisch concorda e vai além. De acordo a vice-presidente de Comunicação, Relações Governamentais e ESG da GM, “depois de dirigir um carro elétrico, dificilmente (o motorista) volta para um modelo com motor a combustão”. Além do prazer ao volante, Marina ressalta que as pessoas estão se preocupando cada vez mais com o “E” e o “S” da sigla ESG (meio ambiente, social e governança, na sigla em inglês). Isso significa que o fato de o carro não poluir e a preocupação social estão ganhando protagonismo.
A parceria da GM com a Honda, que resultará na produção de carros elétricos a partir de 2027, deverá baixar custos. De acordo com a executiva, a tecnologia é cara e exige investimentos “bilionários”, o que justifica a união das duas empresas no projeto.
Mas soluções como bateria dividida em módulos, adaptável às necessidades do cliente, dá flexibilidade. “Dá para usar mais ou menos material, e isso pode resultar em economia no preço final”, afirma.
Marina diz que ainda falta uma estrutura para carregamento de automóveis elétricos, principalmente nas estradas. Mas, o que atualmente é visto como um empecilho, especialmente para quem pretende viajar, a executiva informa que prefere ver como oportunidade para oferecer ovos negócios e também serviços aos usuários.