Como estudos geotécnicos ajudam os ‘tatuzões’ na construção de novas linhas do metrô?

Tatuzões são personalizados para cada obras, em todo o mundo; por isso, custo da operação é alto. Foto: Negro Elkha/Adobe Stock

Há 3h - Tempo de leitura: 3 minutos, 1 segundo

Antes que um túnel seja aberto por escavadeiras gigantes como os “tatuzões”, o subsolo de São Paulo precisa ser conhecido em detalhes. A tarefa de entender que tipo de solo está sob os pés de quem vive na cidade é do time de geologia do Metrô, que atua desde os anos 1970 e é responsável por um dos maiores acervos geotécnicos do País.

Leia também: Linha 20-Rosa do Metrô-SP: governo diz que obras começarão pelo ABC; o que se sabe sobre o projeto

“O estudo geológico ocorre previamente à engenharia. Ele é o subsídio”, resume Hugo Rocha, geólogo do Metrô. Ele trabalha há décadas na área e participou de projetos em todas as zonas da cidade. De acordo com o geólogo, a análise do solo define, entre outras coisas, se uma escavação deve ocorrer com tuneladora (os chamados ‘tatuzões’) ou por métodos manuais e convencionais.

O que tem abaixo do asfalto de São Paulo?

Durante as escavações das últimas décadas, Rocha e sua equipe identificaram formações geológicas de milhares de anos. Entre os achados estão granitos com mais de 500 milhões de anos na Zona Norte, troncos fósseis sob a Estação da Luz e até um maciço de argila entre Santana e Tucuruvi que indica a existência de um antigo deserto há 40 milhões de anos.

Aliás, esses dados fazem parte do acervo de cerca de 30 mil amostras de solo e rocha armazenadas nas proximidades da estação Brás. Portanto, o material serve para orientar desde a escolha do tipo de máquina até a espessura do concreto usado nas paredes de poços e túneis.

“O subsolo dita o que é possível. Se for rocha, você precisa de explosivos ou ferramentas reforçadas. Se for solo mole, entra um outro tipo de equipamento. Sem conhecer isso, não há projeto que se sustente”, explica Rocha.

Quando usar os tatuzões?

A decisão de usar uma tuneladora envolve vários fatores, além do tipo de solo. Conforme o geólogo, o uso só vale a pena quando o túnel tem ao menos 3 km de extensão, segue um traçado constante e atravessa um terreno relativamente homogêneo. “A máquina tem que ser dimensionada para aquele material. Não existe tatuzão para toda situação”, diz.

Ele lembra que, na Linha 4-Amarela, os estudos previam uso de máquinas de ambos os lados do trajeto. Mas, por decisão do consórcio responsável pela obra, a tuneladora compôs apenas um dos trechos. “Foi mais caro não usar a máquina no outro trecho. Esses erros custam caro”, afirma.

Solo ideal não existe

De acordo com Rocha, não há solo ‘proibitivo’. Mesmo áreas com alta pressão de água, solos instáveis ou grande densidade urbana, como é comum em São Paulo, podem receber linhas subterrâneas. Porém, a execução dessas obras depende que de estudos aprofundados e uma engenharia preparada.

“O que a geologia faz é determinar os limites do que é possível. A engenharia decide como fazer. Se o solo for instável, tratamos. Se a pressão de água for alta, projetamos contenções específicas. A questão é conhecer para poder agir”, explica.

“Se a geologia for conhecida, ela determina as possibilidades. Se for ignorada, ela impõe os resultados”, conclui Hugo Rocha.

Leia também: Linha 5-Lilás: quais estações já contam com barras de segurança nas portas, após acidente?