Apesar da crise econômica e da pandemia, o ano de 2020 representou importantes avanços para a mobilidade elétrica no Brasil. O mais evidente deles foi o aumento de 66,5% nos emplacamentos em relação a 2019, de acordo com a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE). Ocorreram ainda movimentos importantes em áreas como locação de veículos, pesquisas sobre ônibus e aviões elétricos, além da entrada de um número maior de players no mercado.
O estudo Big Push para a Mobilidade Sustentável: Cenários para Acelerar a Penetração de Veículos Elétricos Leves no Brasil, da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), da Organização das Nações Unidas, mostrou que o País precisa de estímulos para ampliar o alcance dos elétricos. Os resultados revelam que as políticas de incentivo podem elevar a participação dos elétricos a até 20% das vendas de automóveis em 2050, um crescimento bastante significativo em relação aos 3,8% atualmente estimados, quadro que não leva em conta a influência dessas medidas.
Do outro lado do Atlântico, a Europa segue investindo no segmento. A Ford anunciou que produzirá apenas carros elétricos no continente em 2030, mesmo ano em que a União Europeia pretende ter 30 milhões de unidades elétricas em seu território. Os incentivos para atingir essa marca são econômico-fiscais, regulatórios, de infraestrutura de recarga e planejamento urbano. Reconhecendo as particularidades, acredito que podemos adotar algumas dessas práticas no Brasil para estimular ainda mais a mobilidade elétrica e trazer grandes benefícios ambientais.
Portugal, por exemplo, foi um dos países pioneiros na adoção de novos modelos de mobilidade elétrica. Em 2010, o país estabeleceu a legislação e regulação das atividades de mobilidade elétrica no país, bem como regulamentou os incentivos à utilização de carros elétricos e procedeu ao estabelecimento de uma rede piloto de âmbito nacional.
A Alemanha, por sua vez, definiu um programa de governo para a eletromobilidade, além de uma legislação específica para esse fim. Já a Noruega foi o primeiro país do mundo a superar 50% de carros elétricos vendidos. Os noruegueses conseguiram isso graças a estímulos como acesso a faixas exclusivas de ônibus, isenção de taxas de estacionamento, pedágios e de impostos para aquisição de veículos elétricos, além de financiamento para investimentos em estações de recarga.
Em comum, todas essas iniciativas têm a participação decisiva do Estado. Por mais que o setor privado faça diversos esforços, são os países os responsáveis por definir suas políticas de transporte e meio ambiente. Elas são primordiais para estabelecer o ritmo de crescimento dos elétricos.
No Brasil, já temos boas iniciativas, como a redução do IPI para veículos elétricos, o programa de P&D da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e decretos estaduais e municipais que estabelecem alíquotas diferenciadas de IPVA para veículos elétricos.
Precisamos de um esforço concentrado a fim de ampliar esses benefícios de forma coordenada. Isso pode englobar diversas iniciativas, como campanhas de conscientização da população ou acesso exclusivo de veículos elétricos em regiões mais adensadas da cidade, além do estímulo ao transporte coletivo elétrico. O primordial é entender para onde o País pretende ir. O planejamento tem papel fundamental para aumentar nossa velocidade.