Cruzeiros poluem mais que 1 bilhão de carros na Europa, aponta estudo

Barcelona é a cidade que apresenta maior volume de poluição por cruzeiros. Foto: Caftor/Adobe Stock

Há 3h - Tempo de leitura: 4 minutos, 26 segundos

Depois da pausa forçada pela pandemia de covid-19, os cruzeiros voltaram a navegar em peso pelas águas europeias. Com isso, o retorno da poluição. Conforme um levantamento da organização Transport & Environment, só em 2022, os 218 navios de cruzeiro que operaram na Europa emitiram mais dióxido de enxofre (SOx) do que 1 bilhão de carros.

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Portanto, isso significa que a frota de cruzeiros despejou 4,4 vezes mais enxofre na atmosfera do que todos os carros de passeio registrados no continente no mesmo período.

Mais cruzeiros, mais poluição

O estudo “The Return of the Cruise” (O retorno dos cruzeiros) comparou os números de 2022 com os de 2019, período pré-pandemia. Em três anos, o número de cruzeiros ativos, o tempo de operação nos portos e o consumo de combustível cresceram cerca de 24%.

Dessa forma, a emissão de poluentes também aumentou. De acordo com a pesquisa, houve crescimento de 9% de SOx, 18% a mais de NOx (óxidos de nitrogênio) e 25% a mais de material particulado fino (PM2.5), que são partículas inaláveis nocivas à saúde.

O levantamento também aponta uma contradição: os navios poluíram mais mesmo transportando menos passageiros do que antes da pandemia.

Barcelona lidera o ranking de poluição

Quando o foco é a poluição nos portos, Barcelona, na Espanha, lidera como o destino europeu mais afetado pelas emissões dos cruzeiros. Em seguida vem Civitavecchia, na Itália, e Pireu, na Grécia. Nesses locais, o estudo identificou que a quantidade de poluentes lançados pelos navios foi várias vezes superior ao total emitido pelos carros registrados nesses municípios.

Por outro lado, algumas cidades registraram melhora. Caso de Veneza, que caiu da primeira para a 41ª posição no ranking de poluição. Isso ocorreu após a implementação de um decreto, em 2021, que proibiu a entrada de grandes cruzeiros na lagoa da cidade. Como resultado, a emissão de SOx no local despencou 80%.

Itália é o país mais poluído

Na comparação por países, a Itália ultrapassou a Espanha e agora ocupa o primeiro lugar como a nação com maior emissão de poluentes por cruzeiros. Apesar de receber menos navios e ter menos horas de navegação do que a Espanha, os cruzeiros que passaram pela costa italiana são maiores e mais poluentes, segundo o estudo.

Além de Itália e Espanha, Grécia e Noruega também aparecem no topo do ranking. Portanto, o grande volume de poluição não está limitado ao sul da Europa.

Uma única empresa domina a emissão de poluentes com cruzeiros

Quando a análise foca nas companhias de cruzeiros, o destaque negativo da pesquisa vai para o grupo Carnival Corporation, responsável por marcas como Costa e Aida. Juntas, as 63 embarcações controladas pela empresa emitiram 43% mais dióxido de enxofre do que todos os carros de passeio da Europa.

Já a MSC Cruises foi a empresa individual que mais poluiu. Os navios da frota emitiram quase o mesmo volume de SOx de toda a frota automobilística do continente.

Soluções que viraram problema

Em resposta a regras mais rígidas de emissão de enxofre, operadoras adotaram scrubbers, sistemas de limpeza de gases que permitem o uso de combustíveis mais baratos, como o óleo combustível pesado (HFO). Apesar de reduzirem as emissões atmosféricas de SOx, esse método descarta a água utilizada para “lavar” os gases poluentes diretamente no mar. Portanto, despeja metais pesados e outras substâncias tóxicas.

Outra tendência apontada como preocupante é a adoção crescente de motores movidos a gás natural liquefeito (LNG). Embora esses navios emitam menos enxofre e material particulado, eles apresentam um fenômeno methane slip”. Conforme a pesquisa, parte do metano (gás com efeito estufa até 80 vezes mais potente que o CO₂) escapa sem queimar. Um único navio, o MS Iona, foi responsável por uma emissão de metano equivalente à de 10.500 vacas em um ano.

Propostas para reduzir os impactos

Ainda na pesquisa sobre a poluição dos cruzeiros, a Transport & Environment ressalta algumas medidas necessárias para reduzir os impactos. Na conclusão, o estudo defende estender a obrigatoriedade de zero emissão também para navios fundeados, e não apenas atracados nos portos.

Além disso, sugere criar corredores marítimos de emissão zero nas rotas de cruzeiros mais populares e proibir o uso de scrubbers de circuito aberto em todas as águas europeias. Por fim, a Transport & Environment defende o desestímulo ao investimento em navios movidos a LNG e o incentivo a tecnologias de emissão zero, como baterias e hidrogênio.

O estudo também lembra que a partir de 2025, o Mar Mediterrâneo passará a ser uma nova zona de controle de emissões (SECA), reduzindo ainda mais o limite de enxofre permitido no combustível marítimo.

Apesar das novas regulamentações, o estudo alerta para a insuficiência da escala de mitigação dos impactos ambientais dos cruzeiros adotadas.

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