A cidade de São Paulo vive contagem regressiva para começar a utilizar somente ônibus elétricos no transporte urbano. De acordo com a Lei 16.802, publicada em 18 de janeiro de 2018, as emissões de poluentes dos veículos devem ser reduzidas pela metade em um período de 10 anos e chegarem a zero em 20 anos.
As concessionárias de transporte coletivo se movimentam para cumprir as novas regras do jogo. É o caso da Auto Viação Transcap, que comprou nove ônibus D9W da fabricante chinesa BYD, em agosto.
Dona de uma frota de 320 veículos, a Transcap – que atua na região sudoeste do município de São Paulo – prepara o terreno para a transição em suas operações.
Dessa forma, depois de ser emplacado, receber a catraca e passar por vistoria técnica, o modelo D9W será usado na linha 809 L-10 Lapa-Campo Limpo, com 22 quilômetros de extensão. Cada ônibus da linha, que funciona das 4h20 às 23 horas, transporta, em média, 400 passageiros por dia.
Os nove veículos recentemente entregues são só o primeiro passo da Transcap para eletrificar a frota e atender à determinação municipal. “Já encomendamos mais 47 ônibus da BYD”, afirma Valter da Silva Bispo, proprietário da Transcap.
Antes de receber os ônibus elétricos, a empresa preparou a infraestrutura necessária em sua garagem, em um investimento de R$ 12 milhões, além de receber o aval técnico da SPTrans, órgão gestor do transporte público de São Paulo.
Hoje, as instalações contam com 19 carregadores, capazes de suportar o reabastecimento de cada ônibus em aproximadamente quatro horas. A recarga será feita sempre à noite, ao final da jornada diária, após os veículos passarem primeiramente pelas revisões preventiva e preditiva e pela lavagem.
Segundo Bispo, a previsão da Transcap é comprar 138 ônibus elétricos até 2025. Mas o plano esbarra em um problema: “A infraestrutura complexa é a principal barreira. A concessionária de energia elétrica precisa garantir o fornecimento para suprir nossa demanda, que crescerá a partir de agora”.
A escolha do modelo da BYD aconteceu depois do período de testes de um ano, com os ônibus elétricos de várias fabricantes enfrentando as ruas muitas vezes esburacadas do percurso. “Gostei mais da tecnologia da BYD. O D9W é silencioso, tem torque rápido, dá segurança e me pareceu que a bateria dos concorrentes descarregava mais rapidamente”, explica.
Com autonomia de 250 quilômetros, o D9W de 12 metros é encarroçado pela empresa Caio e transporta 71 pessoas. Ele tem piso baixo para facilitar a acessibilidade e vem equipado com ar-condicionado, wi-fi e tomadas USB.
Assim, segundo a BYD, o ônibus 100% elétrico deixa de emitir 118,7 toneladas de dióxido de carbono (CO2) por ano. Atualmente, há 101 ônibus elétricos da montadora circulando em 23 cidades brasileiras – 18 deles na capital paulista.
A infraestrutura complexa é a principal barreira. A concessionária de energia elétrica precisa garantir o fornecimento para suprir nossa demanda, que crescerá a partir de agora.
Valter da Silva Bispo, proprietário da Transcap
Selecionado o modelo, a Transcap promoveu um treinamento com 200 motoristas da companhia. “Fizemos um primeiro filtro com os melhores profissionais e, em seguida, realizamos a qualificação para eles conhecerem o ônibus elétrico”, lembra Bispo.
“A adaptação é necessária, porque existem muitas diferenças entre ônibus a combustão e elétrico. Depois do treinamento, os motoristas não querem outra coisa e estão ansiosos para estrear a nova tecnologia”, afirma o executivo.
A vida útil também conta a favor dos novos modelos elétricos. Bispo calcula que eles ficarão em operação ao longo de 10 anos, ao passo que o modelo convencional permanece sete anos em circulação.
Assim, a exemplo dos condutores, Bispo mostra-se empolgado com a transição que, além de aumentar a qualidade do serviço oferecido ao usuário, mexerá diretamente nas finanças da empresa. “Se dependesse de mim, toda a frota da Transcap já estaria eletrificada. É o futuro”, afirma.
Ele ainda não sabe qual será o impacto financeiro com os ônibus elétricos, mas acredita que a redução na planilha de custos será drástica. “Os veículos com motor a combustão exigem mais manutenção. Com os veículos elétricos não haverá gastos com troca de óleo, diesel e componentes como o chicote do ar-condicionado. A economia é enorme”, comemora.
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