Descarbonizacao
Descarbonização é a palavra do momento. O transporte rodoviário de cargas é responsável pela movimentação de 66% dos bens dentro do Brasil. Em compensação, aparece como um dos principais emissores de gases de efeito estufa (GEE) nas estradas (54%).
Para fomentar as discussões sobre como desenvolver a descarbonização no País, o WRI Brasil, instituto de pesquisa que atua na área da sustentabilidade, lançou, no dia 2 de julho, a plataforma nacional e-Fast Brasil (electric freight accelerator for sustainable transport ou acelerador do transporte de carga sustentável).
Apresentada no evento “Caminhos para a descarbonização do transporte de carga”, realizado em Brasília (DF), a plataforma é uma iniciativa estratégia que funcionará como incubadora de novas discussões e ideias de governo, setor privado e sociedade civil em busca de soluções que viabilizem a eletrificação da logística rodoviária.
“A descarbonização do transporte de carga é um desafio coletivo e exige ações de todos os agentes envolvidos”, afirma Magdala Arioli, gerente de descarbonização do transporte do WRI Brasil.
“Ao reunir diversos personagens da transição energética, a e-Fast Brasil abre espaço para alinhar esforços, criar sinergias e promover a transformação para um modelo mais limpo e eficiente.”
Ela acrescenta: “A redução de emissões dos transportes rodoviário e urbano é fundamental não só para o cumprimento das metas climáticas do País, mas também para a melhoria da qualidade do ar nas cidades onde a poluição é a causa de milhares de mortes prematuras anualmente”.
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Flávia Consoni, coordenadora do livro que aborda as experiências de cidades do mundo na eletrificação, fala das estratégias que poderiam servir de lição para o País
Um dos pontos cruciais que motivou o nascimento do e-Fast são as políticas públicas, que alavancam, principalmente, a venda de automóveis elétricos e a eletrificação de ônibus urbanos. “Enquanto isso, o setor de logística ainda carece de diretrizes e incentivos específicos para a descarbonização”, destaca Arioli.
Para não depender das ações de todas as esferas do governo, a e-Fast pretende estimular a construção conjunta de soluções para beneficiar a descarbonização, como políticas públicas, financiamento facilitado e projetos-piloto.
As possibilidades de participação são amplas. A plataforma quer atrair transportadores, embarcadores, fabricantes de veículos e de infraestrutura de recarga, operadores de eletropostos, instituições financeiras e governos.
Para cada um desses players, a plataforma poderá contribuir em pontos críticos no processo de transição. “Para transportadoras, por exemplo, a e-Fast poderá proporcionar apoio técnico ao planejamento, tomada de decisão e acesso a capital para aquisição de caminhões elétricos”, revela a executiva.
Aos embarcadores, ela poderá gerar conexões com transportadores e fabricantes de veículos em projetos-piloto e na identificação de formas de mitigar as emissões.
A e-Fast Brasil se inspirou na experiência da e-Fast Índia, em curso desde 2023. O programa indiano faz a ponte entre governo e setor privado para implantar 15 mil caminhões elétricos em cinco anos.
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Depois de anunciar a venda de 50 aeronaves elétricas de decolagem e pouso vertical (eVTOLs), a Eve Air Mobility – subsdiária da Embrar – assinou protocolo de intenções com a empresa americana de mobilidade aérea urbana Future Flight Global para a entrega de 54 ‘carros voadores’, que deverão ser inseridos nos mercados de Brasil e Estados Unidos.
“A colaboração com a Future é um propulsor na oferta de viagens aéreas eficientes e sustentáveis em cidades de alta demanda”, afirma Megha Bhatia, diretora comercial da Eve. “Estamos construindo uma base sólida para pedidos futuros na medida em que as frotas sejam expandidas.”
Segundo Karan Singh, CEO da Future Flight Global, a companhia usará sua expertise operacional para atender ao mercado do transporte áreo brasileiro. “Queremos transformar a mobilidade urbana em escala global, implementando eVTOLs que reduzem o tempo de viagem e aliviam o congestionamento nos grandes centros urbanos”, diz.
Singh conta que a Future está pronta para operar no Brasil, mas aguarda o sinal verde da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), responsável pela certificação e implantação das aeronaves no País.
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Enquanto a fabricante chinesa BYD inaugurava sua nova fábrica em Camaçari (BA), dia 1º de julho, do outro lado do mundo, na China, ela anunciava a realização de testes de campo com baterias de estado sólido, tecnologia capaz de multiplicar a autonomia dos carros elétricos para até 1.875 km.
Segundo Sun Huajun, diretor técnico da divisão de baterias da BYD, os protótipos equipados com essa tecnologia estão em avaliações reais, embora o nome do automóvel “cobaia” não tenha sido revelado.
A densidade energética das novas baterias chega a 400 Wh/k (watt hora por quilograma), quase o dobro das baterias de íon de lítio. A BYD garante que esse avanço significa autonomia de 1.500 km com apenas 12 minutos de recarga (ou 80% da capacidade do componente).
Se o desempenho se confirmar, a tecnologia de estado sólido – objeto de pesquisa da BYD há uma década – será uma nova revolução no mundo da eletromobilidade, ao substituir o eletrólito líquido por um sólido. “A segurança, a estabilidade térmica e a eficiência energética vão melhorar”, comemora Huajun.
O diretor afirma que os testes terminarão em 2027 e o inicio da produção da bateria está previsto entre 2027 e 2029, com escala comercial a partir de 2030 e custos comparáveis aos dos atuais modelos de lítio.
A BYD sabe, porém, que não está sozinha na corrida para dominar o mercado de baterias de estado sólido. A Nissan planeja lançar um carro elétrico com a tecnologia em 2028, e Mercedes-Benz, Volkswagen e Stellantis igualmente vêm investindo em experimentos.