Um dos temas cada vez mais populares quando o assunto é mobilidade urbana é a tarifa zero. São 128 cidades brasileiras que adotaram essa política, com alguns exemplos emblemáticos de como essa medida vem funcionando e quais são os resultados observados a longo prazo. Dentro desse debate, muitas vezes a tarifa zero acaba surgindo como uma solução mágica, sem considerar o contexto e múltiplos fatores que compõem a mobilidade urbana de uma cidade.
Se observarmos Agudos, cidade no interior de São Paulo, com cerca de 37 mil habitantes, é possível ver que houve aumento de 30% no número de usuários no sistema a partir do momento que a tarifa zero foi implementada no transporte público em 2021. Para além dos resultados esperados dessa política, que dinamiza o acesso a serviços básicos, como saúde e educação, se observamos mais a fundo, o aumento de usuários no sistema não trouxe investimento para o aumento da frota.
Agudos é um dos muitos exemplos que nos levam a reflexão de que a tarifa zero não pode ser um tiro no pé, ou seja, com o aumento do número de usuários a qualidade do serviço não pode ser precarizada para o usuário que depende do transporte público para os deslocamentos diários.
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É importante apontar também que a tarifa zero não é uma realidade para todas as cidades brasileiras. Em grandes centros urbanos, em que o sistema já demanda subsídios elevados, a gratuidade está longe de ser um objetivo concreto a curto prazo.
Quando pensamos em soluções para uma área tão complexa, é necessário considerar uma multiplicidade de fatores, sempre focando nos recortes sociais de cada município e eficiência no uso de recursos públicos.
Isso não significa que não devemos almejar a tarifa zero, muito pelo contrário, como já disse o jornalista e escritor uruguaio Eduardo Galeano (1940-2015), a utopia está lá no horizonte para que a gente não deixe de caminhar. Sozinha, a tarifa zero não resolve os problemas da mobilidade urbana nas cidades, mas, se implementada da maneira correta, é um dos principais componentes para reduzir a desigualdade no acesso ao transporte.
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Acredito que a grande utopia a ser alcançada é uma mobilidade urbana composta de diversos modais de transporte funcionando concomitantemente com qualidade e rapidez. No final do dia, o cidadão, nós, devemos conseguir chegar aos nossos destinos com conforto e segurança, considerando modais atrelados a sustentabilidade e aproveitamento máximo dos recursos estatais.
Enquanto especialistas em mobilidade urbana devemos evitar modelos únicos. Cada município exige soluções multifacetadas que exigem diferentes planejamentos e visões, considerando as particularidades econômicas e sociais de cada local.