Francisco Christovam

Diretor executivo da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU)

O transporte urbano e a COP-30


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Entre os dias 10 e 21 de novembro, em Belém, no Pará, ocorre a 30ª edição da Conferência das Partes (Conference of the Parties), a COP-30, que reunirá representantes de nações signatárias de convenções internacionais, voltadas para questões ambientais.

Na programação da COP-30 serão apresentadas análises e propostas relacionadas às mudanças climáticas, com o objetivo de discutir as causas e buscar soluções para mitigar os impactos das atividades humanas sobre o meio ambiente, que impactam a vida no planeta.

O Brasil responde por cerca de 3,1% das emissões globais de gases de efeito estufa (GEE). Este cenário evidencia a relevância das políticas públicas e das ações voltadas à redução de poluentes, especialmente quando se considera o papel do transporte coletivo urbano.

Estudo do Observatório do Clima revela que, ao longo das últimas três décadas, os setores “Mudanças de uso da terra e floresta” e “Agropecuária” respondem por 42% e 29% do total das emissões de gases de efeito estufa no País, respectivamente.

Importância setorial

O setor “Energia”, no qual está inserida a categoria “Transportes”, é responsável por 20% das emissões. Em 2024, foi emitido no Brasil um total de 2,145 Gt CO2eq (bilhões de toneladas de gás carbônico equivalente) de gases de efeito estufa.

Documento da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP), de 2024, intitulado ‘Rotas Tecnológicas de Descarbonização do Transporte Coletivo no Brasil’, mostra que os ônibus a diesel (urbanos, rodoviários e de fretamento), representam uma parcela pouco significativa das emissões nacionais de gás de efeito estufa, se comparados ao total das emissões brutas de GEE do País (os 2,1 GtCO2eq) contribuem com 22 MtCO2eq, pouco menos de 1% das emissões nacionais.

Ainda assim, mudar a matriz energética dos ônibus urbanos, buscando-se soluções para mitigar a poluição em áreas densamente povoadas e tornar as cidades mais sustentáveis e ambientalmente mais equilibradas, é um processo fundamental.

Iniciativas e desafios

Nas últimas décadas, o Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve), impulsionou o desenvolvimento tecnológico da indústria nacional e promoveu melhorias consideráveis na qualidade dos combustíveis utilizados.

A introdução da nova geração de motores a diesel, EURO 6, a partir de 2023, reduziu as emissões de poluentes e contribuiu para a melhoria da qualidade do ar nas cidades brasileiras.

Atualmente, as principais opções para substituir o uso de combustíveis fósseis, incluem ônibus equipados com motores elétricos, com baterias ou células de hidrogênio, além de veículos com motores a combustão, que utilizam gás biometano ou biocombustíveis.

São soluções que exigem aportes expressivos de recursos, tanto em infraestrutura de abastecimento, como na aquisição de novos veículos. Além disso, os investimentos iniciais e os custos operacionais
atuais dessas tecnologias ainda superam os montantes exigidos pelos ônibus movidos a diesel, de porte similar.

Foco no transporte coletivo

Atualmente, 30 municípios brasileiros operam mais de mil ônibus elétricos, de diferentes fabricantes, e quase todos enfrentam os problemas próprios de uma mudança tecnológica adotada sem muito planejamento e sem a elaboração de um projeto, que considere as questões técnicas, econômico-financeiras, operacionais e, principalmente, de infraestrutura viária e de infraestrutura elétrica, para a carga e recarga das baterias dos veículos.

Mas, mudar as condições climáticas dos grandes centros urbanos não depende apenas da simples troca de tecnologia. É preciso incentivar o uso do transporte coletivo, que polui, em média, oito vezes menos por passageiro transportado do que o transporte individual, diminuindo, de forma expressiva, a poluição ambiental e, assim, potencializando as futuras iniciativas de descarbonização da frota e de inovação tecnológica.

É fundamental que as recomendações e as propostas da COP-30 priorizem o fortalecimento do transporte coletivo em relação ao transporte individual. Além disso, é importante considerar novas estratégias de financiamento, tanto para os investimentos em infraestrutura e aquisição de ônibus, como para o custeio da manutenção e da operação dos sistemas.

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