Metrô da Bahia. Programa de inclusão amplia participação de mulheres na área de manutenção

De acordo com a empresa, o número de mulheres participando dos processos seletivos da CCR aumentou 35% desde o início do projeto. Foto: CCR Metrô Bahia

11/03/2024 - Tempo de leitura: 4 minutos, 15 segundos

Entre 2022 e janeiro de 2024, 60 mulheres foram contratadas para a área de manutenção na CCR Metrô Bahia por meio do projeto Mulheres na Manutenção. Em 2021, apenas quatro mulheres integravam o quadro de funcionários da empresa que detém a concessão pública do sistema metroviário da cidade de Salvador.

O projeto para ampliar a participação de mulheres em cargos de manutenção na empresa existe desde 2022. Além de abrir vagas exclusivas para mulheres, a ação organiza visitas a escolas técnicas, instituições do setor tecnológico e universidades.

“No mundo, a proporção é em torno de 15% entre homens e mulheres no setor industrial. Por isso, surge a necessidade de compor um quadro mais diverso”, explica Juliana Romão, gerente executiva de manutenção da CCR Metrô Bahia.

Desde a criação do projeto, a participação de mulheres nos processos seletivos tem crescido. “A gente tinha uma dificuldade grande para atrair mulheres, era abaixo de 5%. Agora, temos um nível significativo. Ainda é mais difícil, mas hoje o percentual é bem maior, entre 30% e 35% já são candidatas mulheres”, afirma Juliana.

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Mulheres na manutenção

“Eu atuo no setor de manutenção de infraestrutura desde 1998 e posso te garantir que a gente era ‘mosca branca’. Não tinha mulher num setor que era majoritariamente masculino”, conta a executiva.

Juliana Romão, gerente executiva de manutenção da CCR Metrô Bahia, atua no mercado desde 1998. Foto: CCR Metrô Bahia

Ser “mosca branca”, no âmbito profissional e de mercado de trabalho, descreve algo ou alguém difícil de ser achado. Para as empresas, representa um tipo de funcionário ou cargo difícil de encontrar, recrutar e manter no ambiente de trabalho.

“[Naquela época] eu era a única mulher dentro da empresa que atuava na operação, na manutenção mesmo. Acompanhei muitas atividades: troca de trilhos, atividades pesadas, [e ao mesmo tempo] o local onde era a base da manutenção não tinha nem sanitário feminino, era muito desafiador”, afirma. Segundo Juliana, o desafio se estendia para os homens da empresa, que precisavam lidar com a presença de uma mulher no time. “As brincadeiras eram mais polidas”, explica.

Apoio do pai

Para Eliade da Paixão, hoje líder de atendimento da manutenção na Via Permanente (trilhos), a tensão entre gêneros antes de entrar na área parecia mais tênue graças à influência do pai na escolha da sua carreira. “A manutenção persiste em mim desde a infância, por espelho do meu pai, que era da área e acabou espelhando esses dotes em mim”, conta.

“Eu tive total apoio dele, [ainda que] há 22 anos atrás já existisse esse tabu. Foi difícil lutar contra esse preconceito que existe até hoje”, explica Eliade. Em 2011, ela foi a primeira mulher a ingressar na área de manutenção da Bosch, multinacional de engenharia e tecnologia. “Tive de engolir muito a seco para estimular outras mulheres nesse passo.”

Na CCR, Eliade foi admitida em outubro de 2022 pelo programa Mulheres na Manutenção como agente de manutenção. Em um ano e um mês de trabalho, recebeu uma promoção para ser líder de atendimento da área preventiva da via permanente. A área responde por toda parte de prevenção e correção, além da máquina chave que faz a movimentação do sentido do trem.

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Oportunidades no setor

Mesmo com o crescimento de mulheres no setor, as oportunidades na área ainda são escassas. Juliana Nascimento, atualmente técnica de atendimento de manutenção na CCR, permaneceu três anos sem encontrar emprego. “Me formei em eletrotécnica e logo após a conclusão tive muita dificuldade na área, apenas procurando [emprego] e não conseguindo me inserir no mercado”, relata.

A primeira oportunidade de trabalho no setor de manutenção para Juliana foi por meio do programa da CCR. Hoje, a técnica em eletrotécnica realiza manutenções preventivas e corretivas nos trens, de segunda a sexta. “Fui a primeira mulher na área que atuo hoje aqui”, ressalta.

Eliade da Paixão entrou na CCR pelo programa Mulheres na Manutenção e foi promovida em cerca de um ano. Foto: CCR Metrô Bahia

Para Juliana Romão, gerente executiva de manutenção da CCR Metrô Bahia, o projeto Mulheres na Manutenção traz benefícios em diversos âmbitos para a empresa. “Promover a diversidade e um ambiente cada vez mais inclusivo, traz outras narrativas, promove a criatividade, a integração, e isso enriquece no nosso dia a dia”, reforça.

“[Nós temos] dons inexplicáveis, visões completamente diferentes, uma delicadeza um conceito por trás de tudo isso”, afirma Eliade. Para a líder de atendimento, estimular essas mulheres através do programa é dar meios para que elas sigam seus sonhos em qualquer ambiente que desejam.