O Dia do Ferroviário, comemorado em 30 de abril, tem um marco especial neste ano. Afinal, é quando a ferrovia brasileira completa 170 anos. Em 1854, D. Pedro II inaugurou o primeiro trecho da Estrada de Ferro Petrópolis, no Rio de Janeiro.
Portanto, há mais de um século e meio, ferroviários constroem a carreira com a paixão pelos trilhos e movem as maiores metrópoles do país. Este ano, Andréa Karla Monteiro, supervisora de tráfego das Linhas 8 e 9, comemora 30 anos de ferrovia. Em 1993, participou do primeiro concurso da Fepasa para maquinistas que aceitou candidatas mulheres. Começou a trabalhar no ano seguinte e foi se apaixonando cada vez mais pelo ofício.
“Quanto mais a gente aprende, mais a gente se envolve. Não conduzimos somente um trem, transportamos milhares de pessoas cheias de esperança e sonhos. Hoje, dou treinamento para as novas turmas e falo que a ferrovia funciona como uma engrenagem que envolve os times de controle, manutenção, operação e atendimento. Quando todos dão o melhor de si, o carrossel gira em perfeita sintonia e isso é encantador”, afirma Andréa.
Para muitos ferroviários, a paixão pelos trilhos vai além de uma profissão e se torna um legado. É o caso de Fernando Nunes, gerente executivo de manutenção da Linha 5-Lilás, que faz parte da quarta geração de ferroviários do Estado de São Paulo. Começou a carreira com 18 anos, como eletricista na Fepasa. Além disso, seguiu os passos do bisavô, que foi porteiro na Estação Luz da SPR (São Paulo Railway), do avô, supervisor de comunicação e energia da SPR e da Rede Ferroviária Federal, e do pai, que começou a trabalhar com 11 anos como aprendiz de telegrafista.
“É mais do que uma profissão, é uma paixão que corre pelas nossas veias”, afirma. “É gratificante fazer parte desta história de desenvolvimento e contribuir para as inovações tecnológicas que tornam os sistemas mais modernos, seguros e confortáveis para os passageiros”.
Já Hamilton Trindade, gerente executivo de atendimento da ViaMobilidade está há mais de 37 anos na ferrovia, segue os passos do pai e do avô. Ingressou como agente de bilheteria da CBTU (Companhia Brasileira de Trens Urbanos) na década de 80. Ao longo da carreira, foi encarregado, supervisor, analista, chefe de departamento e gerente executivo de atendimento do Metrô Bahia e da ViaQuatro.
“Eu nasci e fui criado em uma casa de colaboradores da ferrovia, em Poá. Sou filho único, então carrego comigo a responsabilidade de perpetuar esse legado. Sinto uma satisfação imensa, pois é muito gratificante contribuir para que milhares de pessoas utilizem os trens todos os dias. É uma missão nobre que quero transmitir para os meus netos. Inclusive, já os trouxe para conhecer o sistema ferroviário e eles já ganharam trenzinhos de brinquedo”, conta.
Para Rousevelt Louro, chefe de maquinista das linhas 7 e 10 da CPTM, é impossível esconder sua paixão. Afinal, seu nome faz referência à antiga Estação Rousevelt, que hoje todos conhecem como Brás.
Filho e neto de ferroviário, não pensou duas vezes antes de se entregar à profissão apaixonante. “Meus amigos até brincam comigo, dizendo que meu nome será Brás e não mais Rousevelt”, diz. Até mesmo sua filha é casada com um ferroviário e ele trabalha com o sogro da filha na CPTM. “Não adianta fugir, nossa família está na ferrovia”.
A estação também fez história na vida de Elias Pereira da Silva, agente de segurança da Estação Brás. Afinal, seu pai, José, chegou em São Paulo, vindo de trem a vapor de Itabaiana, Sergipe, em 1950, e desembarcou na estação Roosevelt, onde foi “boia fria” na região de Vera Cruz. Em 1952, foi pra Paranapiacaba ser auxiliar de serviços gerais na Estrada de Ferro Santos-Jundiaí, em Paranapiacaba, e se aposentou em 1981 como agente de estação.
Já o avô materno de Elias, Deodoro, chegou de Coimbra, Minas Gerais, em São Paulo em 1937, de trem. Foi para Paranapiacada, ser ferroviário e se aposentou em 1967. Então, Elias entrou na ferrovia em julho de 1989, onde trabalha até hoje.
Mais do que o sustento, a ferrovia foi o berço da família de Elias. “Meu pai, migrante nordestino, foi morar no barracão de solteiros em Paranapiacaba, onde conheceu minhã mãe, filha do Deodoro, que lavava roupa dos operários solteiros no rio”, conta.
Já o assistente administrativo do Departamento de Meio Ambiente da CPTM, Ruy Grobel, tem a ferrovia como parte de seu trabalho e de sua vida pessoal. Afinal, desde os oito anos de idade, ele usa a arte do modelismo para recriar miniaturas de trens, aviações e barcos, como hobby.
São exatos 57 anos dedicados ao aeromodelismo, que é a recriação, em escala menor, de modelos de carros, trens, aeronaves. “Pego um objeto em tamanho real e reduzi para uma escala específica. Na ferrovia, por exemplo, diminuí 87 vezes o tamanho. Há escalas que são reduzidas 1×160 ou 1×220 vezes”, explica Ruy.
Da sua primeira criação, uma caravela, até hoje já ganharam vida umas 15 locomotivas de passageiros, 90 vagões de carga, 15 barcos e uma infinidade de outros objetivos. “Apesar de recriar vários modelos, foquei mais na ferrovia, porque dá a possibilidade de movimento e de sempre incluir mais itens”, afirma.