Um trem de passageiros passará pela primeira vez, após 25 anos, pelo trecho da antiga Estrada de Ferro Minas e Rio, na cidade de Cruzeiro (SP). O turístico Expresso Mantiqueira tem pré-inauguração marcada para o final de semana dos dias 5 e 6 de julho. Ele percorrerá 10 km, aos pés da serra de mesmo nome, saindo do centro do município até a Estação Rufino de Almeida.
A Locomotiva 3507, diesel-elétrica norte-americana construída em 1958, será conectada a um carro jardineira com 52 lugares. A primeira viagem sairá às 9h30, com duração de uma hora e 30 minutos. Ela passará por um túnel e paisagens naturais, além, portanto, do trecho urbano.
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Cada bilhete custa R$ 50 por pessoa. As vendas serão exclusivamente no local, a partir das 9h dos dias 5 e 6. A previsão é que se realizem quatro a cinco viagens por dia, com a última partida por volta das 17h30. Crianças de até cinco anos não pagam.
A reconstrução e operação do ramal coube à Associação Brasileira de Preservação Ferroviária, entidade sem fins lucrativos fundada em 1977. De acordo com Bruno Sanches, diretor regional de São Paulo da ABPF, a entidade embarcou na missão de restaurar a ferrovia após a cessão pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) em 2018. As obras duraram, assim, entre 4 e 5 anos, com verbas da própria entidade.
A entidade opera, além disso, os ramais turísticos Trem da Serra da Mantiqueira, em Passa Quatro (MG), e a Viação Férrea Campinas-Jaguariúna. Toda a receita da entidade, segundo Sanches, vem desta operação. Receoso com empréstimos e com uso de verbas públicas de grande porte, o diretor da ABPF se orgulha da conquista que é a reinauguração do trem em Cruzeiro com próprio caixa, o que ele descreve, dessa forma, como um “trabalho de formiguinha” sobre bases sólidas. O empreendimento contou, além disso, com doações da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) e o DNIT.
A pré-estreia do Expresso Mantiqueira ocorre durante o 1º Encontro de Ferromodelismo de Cruzeiro. O evento gratuito, organizado pela Prado Trens, contará com exposições de materiais históricos da ferrovia, pertencentes ao Museu Ferroviário, como a última locomotiva Hartmann no Brasil, de 1925, e a Sentinel, de 1931. Além disso, haverá mostras de maquetes de modelos diversos e venda de produtos voltados ao ferromodelismo.
O evento e o pré-estreia são um ponta pé nos planos de consolidar o turismo na cidade. O objetivo, nesse sentido, é viabilizar as obras de recuperação da Estação Central Ferroviária de Cruzeiro, a construção de um Museu Ferroviário, recuperar totalmente da linha férrea que liga Cruzeiro ao Sul de Minas, em Passa Quatro – unindo os dois trajetos turísticos realizados pela ABPF –, e a reforma total e construção de ponto turístico e de visitação no Túnel da Mantiqueira.
A cidade conta com uma rede de hotéis e pousadas, restaurantes próximos à estação onde ocorre o encontro e, além disso, o Bosque Municipal, aberto para visitação gratuita. Segundo o diretor da ABPF, é uma opção, portanto, para passar o final de semana com conforto e opções de lazer. Com a facilidade, aliás, de visitar o outro trem turístico na cidade vizinha, em Passa Quatro (MG).
Quando inaugurada, a Estrada de Ferro Minas e Rio rasgava um território no qual predominavam as tropas, com carros de boi, carroças e lombos de burros figurando como principais meios de transporte. A ferrovia foi construída por investidores ingleses a partir de 1880, como Minas and Rio Railway. Ela era tão importante para o desenvolvimento do País que recebeu visita de Dom Pedro II para sua inauguração, em 1884. A construção contou com participação do Barão de Mauá.
Em 1932, a cidade foi palco de um dos mais importantes conflitos da Revolução Constitucionalista. Revolucionários e tropas federais combateram ferozmente pelo controle do Túnel Grande, parte do trecho ainda desativado. Foi lá onde morreu o Coronel Fulgêncio, dando a partir daí nome à estação que fica no local.
O ramal fez parte, após a década de 1910, de diversas redes ferroviárias como a Rede Sul-Mineira e Rede Mineira de Viação. Em 1971, se tornou parte da Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima. Os trens de passageiros foram suprimidos em 1966 entre Varginha e Juréia, em 1978 entre Três Corações e Varginha e em 1983 entre Cruzeiro e Três Corações. A partir de 1990, os trilhos caíram no abandono, com uma curta operação turística pela própria ABPF, que não se sustentou financeiramente depois dos anos 2000.