Foto: Arthur Caldeira
Muitos motociclistas sonham em manter na garagem todas as motos que, de alguma forma, marcaram sua vida ou tenham algum significado afetivo. Poucos e endinheirados, entretanto, conseguem tornar esse sonho realidade. Um deles é o norte-americano Robert Talbott, ávido motociclista e famoso magnata dos vinhos, que criou uma incrível coleção particular, avaliada em mais de US$ 6 milhões (cerca de R$ 34 milhões), que acabou se tornando um museu de moto.
Desde 2015, a Moto Talbott Collection reúne mais de 170 motocicletas históricas em uma charmosa cabana de madeira no Vale de Carmel, costa central da Califórnia. O local tornou-se destino comum dos turistas e motociclistas que viajavam pela costa californiana.
Para supresa de todos, recentemente, o proprietário Robb Talbott anunciou que seu museu particular irá fechar as portas no próximo mês de setembro.
“Como um museu sem fins lucrativos, infelizmente, enfrentamos os mesmos problemas que muitos outros museus enfrentaram antes de nós. A Covid e o Estado da Califórnia nos forçaram a fechar nossas portas por 14 meses em 2020/2021. Esse, realmente, foi o começo do fim para nós; baixa frequência, economia, etc. é o resto da história”, lamentou o proprietário do museu em post nas redes sociais.
Mas o próprio Talbott gosta de dizer que seu museu é diferente dos outros, pois os modelos não estão ali expostos por algum motivo histórico ou cronológico. Todos os exemplares foram escolhidos a dedo por Robb Talbott para integrar seu museu.
Não há uma lógica na sua coleção particular, além do mais óbvio: reúne motos e objetos dos quais Robb gosta. Estão ali, segundo ele, porque representam sua paixão pelas motos.
“Não acredito que você possa construir algo digno de nota sem paixão”, diz. Contaminado pelo “vírus” das motos desde jovem, quando andou em uma Honda Dream emprestada de um amigo, o caso de amor de Robb e as motocicletas o acompanhou ao longo de sua vida. Sempre fez parte de suas aventuras mais memoráveis.
Ainda jovem, participou da subida de montanha de Pikes Peak, em pleno inverno, e de muitas provas do desafio Canadá Estados Unidos, na década de 1960, em sua amada Yamaha RT1 360.
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Quando foi fazer faculdade no Estado do Colorado, raspava os joelhos em corridas amadoras de dirt-track e gostava de restaurar carros antigos e caminhões. Mais tarde, de volta à Califórnia, fez a sua vida plantando uvas, sempre mantendo pelo menos uma motocicleta como companheira.
Um século e muitas motos mais tarde, nasceu a ideia de montar sua própria coleção e exibi-la para quem apreciasse a união entre metal, velocidade e arte que é uma motocicleta.
Robb leu um exemplar do catálogo da exposição “A Arte da Motocicleta” do Museu Guggenheim, realizada no início dos anos 2000. Para Talbott, a exposição foi uma epifania: ali, emoldurada pelo magnífico edifício, viu as motos mais importantes da história em um contexto artístico.
“Pela primeira vez, percebi que as motocicletas podem ser qualificadas como arte”, diz ele. “Comecei a ficar muito animado com essa ideia. Quando você vê as linhas de uma MV Agusta, você percebe que é arte.” Daí nasceu a ideia de colecionar motos.
O empresário então começou a comprar motos pelo puro prazer de ter na garagem aquelas obras de arte. Algumas ele restaurou, e outras deixou como estavam, com as marcas da idade e de seu passado glorioso ou não.
“Eu sempre amei motos de celeiro”, diz Robb. Logo, seu celeiro estava cheio. E em pouco tempo, veio a ideia de transformar aquilo em um museu. Em 2015, após 33 anos de trabalho árduo, ele vendeu a Vínicola Talbott, que criou, e começou a dedicar todo o seu tempo ao conceito da Moto Talbott Collection, uma organização sem fins lucrativos dedicada à preservação, restauração e educação sobre a história das motos. Até então ele já havia acumulado mais de 140 motos de 12 países.
Atualmente, existem mais de 170 motocicletas expostas de 16 países. Os modelos da incrível coleção do senhor Talbott podem ser classificados em três grandes categorias: motos off-road antigas, MV Agusta e todas as coisas italianas; e motos pequenas, 175cc, de antes do Motogiro de 1957.
Existem até mesmo algumas bicicletas antigas. Cada país, cultura e época tem uma estética inconfundível. O museu tem motos que remontam a 1911 ao lado de modelos mais recentes, como um arrojado Decopod de 2016. Todas são preciosas, mas algumas são particularmente valiosas.
Caso da raríssima BMW R37 de 1926, uma obra de arte em preto e branco que foi adquirida por mais de US$ 350 mil (cerca de R$ 2 milhões), porém em seu atual estado deve valer mais. Há uma Harley-Davidson WLA da década de 1940, embora o próprio Talbott não seja um fã da marca, mas que está lá pela sua raridade. Trata-se de um exemplar utilizado para dar treinamento técnico para os soldados que iam pilotar a moto na Segunda Guerra Mundial.
O prédio que abriga o Museu Moto Talbott tem mais de 500 m² com dois andares de pura beleza em duas rodas. No andar subterrâneo, ficam as motos off-road dos anos de 1970, restauradas.
Algumas delas, inclusive, que já pertenceram a Robb. Ele compra as motos em leilões de família, na internet, ou até mesmo de celeiros nos confins dos Estados Unidos. Há modelos, como a flat-tracker #11, que foi adquirida do próprio piloto Don Castro, famoso naquela região da Califórnia.
“Infelizmente, fecharemos permanentemente em 29 de setembro de 2024, então, venha visitar suas motocicletas e memorabilia favoritas uma última vez antes que nossos portões fechem. Construir a Moto Talbott Collection será para sempre uma honra que nunca esquecerei, obrigado por fazer parte deste sonho e das minhas aventuras de pilotagem!”, convida o proprietário.
Com um valor total estimado em mais de US$ 6 milhões, a impressionante Coleção de Motos Talbott fica no coração de Carmel Valley Village, a leste de Monterey, Califórnia, e abre de terça a domingo, das 11h às 17h. Pelo menos até o próximo dia 29 de setembro. Caso esteja viajando pela região, os ingressos variam de US$ 7 a US$ 12 e, definitivamente, valem cada centavo.