‘Investir em metrôs significa desenvolver cidades e nações’, diz especialista

Da esq. para a dir.: André Costa (diretor na ViaMobilidade), Eleonora Pazos (head of Latin America office na UITP), Joubert Flores (presidente do conselho da ANPTrilhos) e Mauricio Portugal Ribeiro (mediador). Foto: Diego Leão
Daniela Saragiotto
19/06/2024 - Tempo de leitura: 3 minutos, 36 segundos

Investir no transporte metroferroviário vai muito além de oferecer um transporte público eficiente e de alta capacidade para a população. Os benefícios desse tipo de iniciativa podem significar melhorias no ar e na saúde da população, na segurança viária, qualidade de vida e na economia.

Todos esses aspectos, além dos rumos do País no que diz respeito ao avanço da malha metroferroviária, foram discutidos em um painel que reuniu alguns dos maiores especialista do segmento durante o Parque da Mobilidade Urbana, evento realizado entre os dias 13 e 14 de junho na capital paulista.

Eleonora Pazos, head of Latin America office na União Internacional de Transporte Público (UITP), comentou que os gestores brasileiros têm dificuldade em enxergar o potencial de modais como o metrô. “Eles normalmente consideram o tamanho da população como preponderante na decisão de investir ou não nessas infraestruturas, mas acredito que nesta conta deveriam entrar muitos outros quesitos”, afirma.

A especialista trouxe exemplos internacionais, como Lausanne, na Suíça, considerado o menor metrô do mundo e Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, locais com populações modestas e curta extensão territorial. “São cidades pequenas que implementaram metrôs, uma decisão não pode ser classificada como cara ou barata. A meu ver, é uma questão de priorização em função do retorno que essas estruturas trazem para a sociedade”, afirma.

Joubert Flores, presidente do conselho da Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos (ANPTrilhos), comentou que a rede metroferroviária do Brasil é pequena na comparação com outros locais, com 1.139 km de trilhos. “Esses investimentos são importantes, mas talvez para os tomadores de decisão eles não sejam. No passado achávamos que a questão era pneus versus trilhos, mas hoje sabemos que os modais são complementares”, afirma.

Fontes de financiamento

André Costa, diretor na ViaMobilidade Linhas 8 e 9, maior operadora privada de trilhos da América Latina, trouxe para a discussão as externalidades positivas do transporte. “Quando investimos em metrôs tiramos carros das ruas e salvamos vidas, já que nosso trânsito é um dos mais violentos do mundo. E quanto custa uma vida, a segurança viária, o ar, a revitalização de centros históricos levando um volume maior de pessoas? E quanto custa aproximar as pessoas do seu local de trabalho?”, questionou.

Para Flores, as fontes de financiamento desse sistema de transporte deveriam ter relação direta com esses impactos, especialmente os negativos. Defendendo fontes alternativas de financiamento, o especialista fez a seguinte provocação: “O pedágio urbano, cobrado dos automóveis particulares, não deveria custear o transporte público? Eu acho que sim”, declara o presidente do conselho da ANPTrilhos.

Exemplos de outras cidades

Ele menciou o exemplo da Praia de Ipanema, no Rio de Janeiro, um dos metros quadrados mais caros do mundo e onde um motorista consegue estacionar seu carro por algumas horas pagando apenas R$ 2. “É muito barato e dessa forma as pessoas são incentivadas a usarem seu automóvel. Em Londres, por exemplo, é caríssimo entrar em regiões mais centrais, fazendo com que as pesoas evitem modos individuais de transporte”, explica.

Eleonora trouxe a inciativa bem-sucedida da cidade de Nova York, nos Estados Unidos. “Lá em torno de 60% do transporte é patrocinado por outras receitas, como parte dos pedágio das pontes, aluguel de imóveis, taxa para as empresas de acordo com o número de empregados, imposto do combustível, entre outras. Aqui poderíamos fazer algo parecido, mas é necessário criatividade e um marco regulatório muito potente e bem construído”, argumenta.

Mauricio Portugal Ribeiro, sócio na Portugal Ribeiro & Jordão Advogados e mediador da conversa, levantou a questão da necessidade de um plano plano nacional para os transportes, com investimentos vindos do governo federal, como o PAC recentemente anunciado, prevendo investimentos em 21 metrópoles brasileiras.

“Essa toada de deixar na mão dos Estados ou municípios não tem funcionado há tempos. A dinâmica da sociedade mudou e é necessário que a união assuma como um plano de nação”, finaliza Eleonora.

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