Rick Ribeiro foi diagnosticado com uma doença neurológica degenerativa, a esclerose lateral amiotrófica (ELA) em 2008. Aos poucos, ele foi perdendo os movimentos e até mesmo a capacidade de falar, atualmente se comunica por um instrumento que usa leitor ótico. No entanto, isso não o impediu de fazer suas atividades, além de continuar se aperfeiçoar no estudo da mobilidade urbana sustentável.
Rick Ribeiro fundou o portal Mobilize Brasil, em 2011, e tem graduação em Administração Pública com mestrado em Sustentabilidade. Ele foi um dos palestrantes do IOT Solutions Congress, evento realizado entre os dias 06 e 07 de junho na capital paulista, onde falou sobre mobilidade urbana sustentável.
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“Para analisar a sustentabilidade de um local, devemos considerar as três dimensões do desenvolvimento sustentável: a ambiental, a social e econômica. A mobilidade deve ser ambientalmente correta, socialmente justa e economicamente viável”, ele enfatiza.
De acordo com Ribeiro, “grande parte dos problemas urbanos vêm da mobilidade com base no transporte individual motorizado de carro e moto”. Segundo ele, o modo atual de locomoção nas cidades gera consumo elevado de energia, de recursos naturais, de espaço público e causa problemas como poluição, acidentes, doenças e perda de produtividade.
Para ele, há movimentos para mudar a mobilidade urbana que temos hoje, mas eles deveriam ter começado há mais tempo. “Hoje em dia muito se fala em novo normal, mas o que existia antes da pandemia não era nada normal”, diz.
Por fim, o palestrante enfatiza a importância da mobilidade urbana sustentável estar de acordo com as metas da Agenda 2030 da ONU. “Tem relação direta com o ODS 11, que trata, entre outras coisas, de transporte público, qualidade do ar, acessibilidade, urbanização e espaços públicos”, explica.
Normano Ribeiro, CEO da Able-ON Mobility e também palestrante do IOT Solutions Congress, afirma que o caminho é conhecido. “A sugestão que temos é sempre por uma mobilidade mais coletiva e menos motorizada ou com combustíveis não fosseis”, afirma.
Para Normando, dispositivos inteligentes instalados em cidades podem promover a mobilidade urbana sustentável. “Eles têm um papel fundamental de conectar a vida real com a virtual, medindo o mundo real e o trazendo para o virtual”, diz. Como exemplo, o palestrante aponta que é possível programar lâmpadas para que acendam rapidamente, semáforos e outras funções em uma cidade.
“Em Amsterdam [capital da Holanda], por exemplo, eles coletam dados e colocam à disposição da população, todos podem criar soluções de mobilidade para as cidades ou sugerir ações do poder público”, afirma.
A cidade de São Paulo já faz uso de IoT. De acordo com Normano Ribeiro, dispositivos estão instalados em semáforos desde outubro de 2023. “O projeto é de atingir 200 semáforos inteligentes em São Paulo, esses funcionam sob demanda e estão ligados a uma câmera. E possível observar o movimento dos carros, liberando o tráfego onde há mais fila, sem alterar no tempo do pedestre [para atravessar na faixa]”.
Os semáforos inteligentes também conseguem priorizar o transporte público, fechando apenas após a passagem de um ônibus e tornando as viagens nesse modal mais rápidas.
São Paulo também aplica IoT para tornar a gestão de estruturas cicloviárias mais inteligente desde janeiro de 2016. Segundo Normano Ribeiro, esses censores “medem o volume diário médio dos ciclistas na ciclovia. É muito importante ter dados para entender se aquela via é realmente utilizada, se existem outras para serem criadas e qual é a manutenção que tem que dar ali”, afirma.
A contagem de ciclistas é feita por meio de câmeras, censores móveis e fitas instaladas no chão, que medem o número de bicicletas que passaram por cima de um local.
Ribeiro também cita o monitoramento de vias por câmeras, medida já conhecida pelos paulistanos. Por meio delas é possível detectar motoristas usando o celular, sem cinto de segurança, sem capacete e até mesmo locais em que houve acidentes com pedestres ou animais.
“O próprio equipamento já tem muita inteligência embarcada nele, ele faz as análises e depois só envia o resultado: placa, qual é a multa, o horário e o local”, enfatiza. De acordo com ele, a IoT impede erros humanos que poderiam ocorrer na aplicação de multas, além de retirar a subjetividade do processo.
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