O que é o SUM? Sistema Único de Mobilidade

SUM tem diferentes interpretações, uma defende a tarifa zero e outra busca encontrar meios alternativos de custear um sistema único de transporte. Foto: Carlos/Adobe Stock

Há 2 dias - Tempo de leitura: 9 minutos, 1 segundo

Em entrevista ao Mobilidade Estadão, o coordenador-geral de Regulação da Mobilidade Urbana dos Ministérios da Cidade, Antonio Espósito, contou o que é o SUM, qual é a situação atual, como o sistema pode ser financiado e uma forma para população opinar. 

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O que é o SUM?

“A proposta do SUM começou, na verdade, em 2017, em um congresso da ANTP, que é a Associação Nacional dos Transportes Públicos”, conta Espósito. Desde então, diversas entidades no Brasil se voltaram ao tema e promovem debates e estudos para implementar o Sistema Único de Mobilidade no Brasil. 

O SUM retoma o SUS, o Sistema Único de Saúde, reconhecido e celebrado em diversas regiões do mundo como uma política pública de referência. Portanto, a ideia é padronizar o sistema de mobilidade nacionalmente, com apoio do governo feral, aliado aos Estados e municípios. 

“O SUS já tem muito tempo, de história e é um sistema muito robusto, para mobilidade teriam que ser feitas adaptações para um setor que é muito diferente do da saúde”, ressalta o coordenador-geral. Para isso, ele e o Ministério das Cidades estão promovendo debates, palestras e encontros em todo o País. Isso tudo é para desenvolver o debate locamente, nas cidades, e regionalmente, nos Estados. Enfim, em outubro de 2025, haverá a Conferência Nacional das Cidades em Brasília. 

A mobilização popular, que deu origem a proposta do SUM, deve se unir as propostas que já circulam no poder Legislativo.

“Você tem que melhorar a parte de dados, de sistemas, de governança, de capacidades institucionais e várias outras frentes. Então, é um processo longo. Não é rápido instituir um sistema único”, avalia Espósito. 

SUM: interpretações possíveis

Desde a retomada o Conselho das Cidades em 2023, parado desde 2017, o SUM voltou ao debate. Apesar de diversas entidades e representantes do poder público defenderem o início da implementação do sistema, há diferentes interpretações sobre como isso pode se dar. 

Espósito diz que as diferenças são pontuais e que servem para enriquecer o debate. Por exemplo, na primeira reunião do conselho, os presentes aprovaram uma moção favorável à implementação do SUM.

Em um seminário realizado em Brasília no início deste ano, duas entidades defenderam suas perspectivas, o Instituto do Movimento de Defesa do Transporte (MDT) e a Coalização Triplo Zero. Conforme o coordenador-geral, a proposta da coalização vê a tarifa zero como um elementos indispensável do SUM. 

“Enquanto a proposta do MDB, ela se preocupa mais em estruturar o sistema, ah, criar outras fontes de recurso que seu autor, mas não obrigatoriamente com a implementação da tarifa zero”, explica Espósito. 

Ele ainda ressalta que o debate do financiamento é central na pauta do SUM, pois atualmente a divisão das competências federativas relacionadas à mobilidade urbana é mais focada no âmbito municipal. Por exemplo, a política tarifária é uma decisão exclusiva do município, a União não tem influência direta.

Debate no Legislativo: situação atual do SUM

O coordenador-geral de Regulação da Mobilidade Urbana dos Ministérios da Cidade acredita que a emenda constitucional 90, que incluiu o transporte como direito social constitucional, cria um ambiente jurídico favorável a tramitação de outras duas propostas. Portanto, com o direito ao transporte no mesmo nível de importância de saúde, educação e trabalho, o Estado precisa garantir ao cidadão a mobilidade. 

Para isso, tramitam em diferentes velocidades o marco legal da Política Nacional de Mobilidade Urbana (PL 3278/2021) e a PEC 25/2023. Para Espósito, o caminho que o Ministério das Cidades vê para acelerar a implementação e as discussões sobre o SUM é o PL 3278. Isso porque já foi aprovada no Senado e agora aguarda votação nas comissões da Câmara de Deputados. 

A autoria do projeto é do senador Antonio Anastasia (PSD-MG), que visa atualizar o marco legal vigente. De acordo com o representante do Ministério das Cidades, o PL já circulava desde 2021, mas tinha um texto mais fraco. Em conversa com o relator, senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB), o ministério convenceu o parlamentar a incluir um substitutivo.

Espósito explica que esse novo texto o Fórum Consultivo de Mobilidade Urbana construiu o novo texto, reunindo as principais entidades do setor, desde os fabricantes de veículos, operadores, municípios, Frente Nacional dos Prefeitos e o Instituto de Defesa de Consumidores (Idec). 

“A gente entende que ele é um caminho, é um começo do caminho para chegar lá na frente no SUM, que é uma proposta muito mais robusta. Mas o marco legal já começa a subir algumas lacunas, [em comparação com a] que existem na legislação”, explica ele. 

A expectativa dele agora é que os deputados coloquem o projeto em pauta para ele ter fôlego para chegar com alguma atualização em outubro, quando acontece a Conferência Nacional das Cidades. Entretanto, o texto segue parado na Comissão de Desenvolvimento Urbano, sem um relator designado. 

“A gente tem uma boa perspectiva de aprovar ainda esse ano”, deseja o coordenador-geral. Enfim, em relação à PEC, Espósito acredita que terá uma tramitação mais longa, pois se trata de uma emenda ao texto constitucional. 

Além disso, ele pede que a população acesse a página destinada à votação popular sobre a PEC.

Interesse dos prefeitos

É evidente que a instituição de um Sistema Único de Mobilidade atraia o interesse dos prefeitos. Isso ocorre, pois a responsabilidade maior da maioria dos transportes está no município, que arca financeiramente com subsídios e obras de infraestrutura. 

Portanto, o Ministério das Cidades afirma que a aprovação do novo marco legal vai trazer mais segurança jurídica. “Aprovando essa lei, a gente dá mais segurança jurídica e mais respaldo na lei federal para que o prefeito, o secretário municipal, possa modernizar suas leis, seus contratos. Hoje, existem muitas lacunas e muita margem para a interpretação por deficiência da legislação, que acabam deixando os gestores municipais inseguros, ou então travando e punindo alguma coisa, causando o risco deles serem responsabilizados futuramente por não estar completamente respaldado na lei”, explica Espósito. 

Ele ainda ressalta que esse projeto é essencial para fazer a transição energética no País, com a implementação de ônibus elétricos. “É um projeto suprapartidário, inter federativo, vai ser bom para o governo federal, estadual, municipal”, defende o coordenador. 

O que diz o Marco Legal?

O marco legal do transporte público coletivo urbano prevê uma rede única, integrada e intermodal adequada ao desenvolvimento urbano sustentável. Para isso, há necessidade do aperfeiçoamento da gestão pública e maior transparência. 

Portanto, o marco deve garantir a conectividade e integração dos transportes de modo a facilitar o uso de modais coletivos e ativos. Para isso, o conjunto dos governos deve determinar novas fontes e mecanismos de financiamento.

Esse marco tem o objetivo de promover inclusão social, redução das emissões de gases de efeito estufa e fomento ao desenvolvimento da indústria nacional de transporte público. Enfim, o texto prevê a integração física, tarifária e operacional dos diferentes modais, nas cidades, regiões e áreas metropolitanas. 

Conforme o marco legal em tramitação, a receita seria oriunda dos poderes federais, estaduais, distritais e municipais, com receita direta e indireta. Ou seja, prevê a criação de mecanismos de financiamento como subsídios cruzados de outro setores. 

O que é a PEC 25?

Já a PEC 25, de autoria da então deputada federal Luiza Erundina (Psol-SP), oferece diretrizes para o SUM instituir uma nova política de custeio do transpote público coletivo urbano. No texto, a deputada estabelece que o acesso a um sistema único deve ser universal, gratuito, descentralizado, planejado em conjunto com a população e buscando a sustentabilidade. 

Para isso, a PEC 25 acrescenta um capítulo à Constituição Federal em que coloca a obrigação da União, Estados e Municípios como responsáveis por arcar os custos do SUM. Isso seria definido por meio de um percentual do produto da arrecadação dos impostos. Além disso, o texto ainda prevê o uso de outros recursos,  como a receita de estacionamento públicos. 

Somado a isso, a PEC defende o repasse dos custos de um transporte coletivo para todos. Conforme o texto, a justificativa se dá quando a melhora do transporte se reflete no trânsito, meio ambiente e mobilidade. Portanto, proprietários de veículos próprios e empregadores devem entrar na conta. 

“Hoje, com o Vale Transporte é descontado um valor de 6% do salário do empregado. Então, na verdade, o vale-transporte, compensa [para o empregado] até um valor de salário, talvez R$ 2.500, R$ 2.000”, diz o coordenador. “Para quem recebe mais do que isso, já não compensa pedir o vale-transporte.”

Por isso, a PEC quer mudar essa regra de forma a fazer com que as empresas contribuam com a mobilidade, proporcionalmente ao número de empregados.

Melhor distribuição dos recursos

 De acordo com Espósito, essa proposta se baseia no sistema utilizado na França.

“Os franceses fizeram isso, porque, na verdade, mesmo quem não usa o transporte coletivo acaba se beneficiando dele”, defende Espósito. Ele explica que as principais externalidades positivas, sentidas por todos, são a ampliação do espaço para os automóveis e a redução da poluição.

“Essa lógica enxerga a mobilidade como uma política que é de todos, mesmo de quem não usa”, diz ele.  Entretanto, o coordenador ressalta que, para isso ocorrer, precisa de um alinhamento entre as áreas econômicas em todas as esferas.

“Porque a gente tem recursos limitados e tem outras prioridades mais importantes no Brasil, e você já tem uma carga tributária relativamente elevada e tem dificuldade de criar nossos tributos”, explica ele. 

Portanto, Espósito defende a criatividade na hora de aplicar e captar recursos. Isso incluir direcionar melhor o que já existem. “Hoje, por exemplo, a gente, o Brasil, né, ele investe muito dinheiro em obras de pavimentação, inclusive com emendas parlamentares. Uma parte desse recurso poderia ir para o transporte coletivo, não só para pavimentação”, afirma.

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