De acordo com estimativas da Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos (Anip), o ano para o setor de pneus como um todo deve fechar “no zero a zero” em relação a 2021. E o destaque mais negativo fica para os pneus de carga. “As vendas para o mercado de reposição em 2022 estão consideravelmente abaixo de 2021 e, considerando as vendas acumuladas nos últimos quatro meses, temos o pior resultado dos últimos sete anos”, explica Klaus Curt Muller, presidente executivo da entidade.
O próximo ano também anuncia desafios, especialmente porque o setor dos modelos para carga já espera uma queda nas vendas para as montadoras como um efeito rebote da mudança do padrão Euro. “Caso o imposto de importação continue a zero e mantendo os níveis atuais de importação atual, o cenário fica bastante complexo e revisões em relação à produção e aos investimentos produtivos serão inevitáveis”, revela Muller. “Nos demais segmentos, espera-se uma continuação da retomada nas vendas, mas com uma força relativa, principalmente considerando que 2023 não deve ser um ano com um avanço econômico significativo, tanto no Brasil como no mundo.”
Enquanto o mercado nacional está abaixo do esperado, as importações seguem em alta. “A única exceção fica para o segmento de pneus de motocicleta, o qual apresentou um bom volume para a indústria brasileira”, reflete Muller. No caso dos modelos de carga, a importação acumulou, nesse mesmo período, o maior valor dos últimos dos últimos 22 anos: em agosto, foram importados 432 mil pneus — enquanto em 2016 o total foi de 835 mil pneus. O valor de agosto de 2022, inclusive, foi o maior dos últimos 12 anos, seguido pelo mês de março, com 356 mil pneus importados.
Para o presidente da Anip, essa invasão do mercado brasileiro é consequência da medida tomada em janeiro de 2021 pelo governo brasileiro de zerar o imposto de importação de pneus de carga, facilitando a entrada desse produto no País. “Esse segmento é extremamente relevante para a maioria das empresas instaladas no Brasil”, pontua. “E só não apresentou queda ainda maior por conta da movimentação no mercado gerada pelas obrigações impostas pela nova fase do Programa de Controle de Emissões Veiculares (Proconve). Mesmo assim, o cenário para o segmento de carga é de fechar o ano sem crescimento na comparação com 2021.”
Muller também explica que o surto de importação causado pela redução do imposto de importação de pneus de carga não afetou apenas vendas, mas também congelou ou suspendeu investimentos e redução de pessoal. “No caso dos modelos de carga, a medida do governo federal tomada em quatro dias úteis é a maior preocupação”, alerta. “Trouxe uma insegurança jurídica incompatível com uma indústria que investe centenas de milhões para manter 21 fábricas, 3 pistas de testes, 16 laboratórios, 30 mil empregos diretos e uma capacidade de produzir mais de 1.000 tipos diferentes de pneus com a mesma tecnologia e qualidade das matrizes globais.”
Desde 2020, ainda em reposta ao impacto inicial da pandemia de covid-19, o setor de pneus tentando facilitar a aquisição de pneus para os caminhoneiros por meio de financiamento junto ao governo brasileiro. “As propostas passaram, inclusive, por questões ambientais e sugeria incentivar não apenas pneus, mas todos os produtos que são alvo de logística reversa eficiente têm preocupações ambientais como o setor a indústria brasileira de pneus”, explica Muller.
De modo prático, seriam taxas de juros mais acessíveis por meio dos bancos públicos e de desenvolvimento direcionadas aos produtos que são comprovadamente responsáveis ambientalmente, como é o caso dos pneus, além de metas de destinação ambientalmente adequada são cumpridas em mais de 100%, de acordo com o Ibama. “Trata-se de um excelente incentivo para produtos ambientalmente corretos. Porém, infelizmente não recebemos resposta do governo em relação as nossas propostas”, resume.