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As cidades cresceram absurdamente no século passado, e o processo de urbanização foi inevitável. Com o ser humano avançando sobre a natureza, ela foi suprimida e passou a ser aparentemente apenas um pano de fundo, como uma paisagem secundária. Nessa relação, a necessidade de espaço e mobilidade fez com que os rios fossem canalizados para melhor acomodarem pessoas e automóveis. Contudo, a natureza acaba sempre cobrando o seu preço, que vem, na maioria das vezes, na forma de enchentes, causando prejuízos e atingindo a população mais frágil.
Hoje, cidades como São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ) e Belo Horizonte (MG) sofrem com os rios que foram cobertos ou canalizados e causam muitos danos com o aumento das chuvas. Já existem organizações que tentam conscientizar sobre a importância da revitalização dessas áreas e mudar um pouco o cenário dos rios encarcerados.
Desde o começo do século XX, era possível ver obras de canalização tanto nos Estados Unidos quanto na Europa. Em 1950, com a chegada de indústrias ao País — principalmente de automóveis, durante o governo de Juscelino Kubitschek —, o surgimento de Brasília e o êxodo rural crescendo por causa da mecanização do campo e pelo aumento na demanda de trabalho nas fábricas, as cidades começaram a crescer, e a necessidade de suportar a população fez com que as autoridades se apressassem para organizar os espaços.
O crescimento do uso de automóveis e o surgimento de inúmeros imóveis obrigou os governos a canalizarem os rios para melhorar o tráfego de carros, criando mais vias e estradas, uma forma de tornar a cidade apta a receber os veículos, que eram vistos como progresso e modernização. O outro ponto é que, com a criação das vias asfaltadas, as cidades começaram a ficar mais bonitas aos olhos da época.
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Soma-se a isso a necessidade de combater a poluição das águas e o mau cheiro dos rios, como forma de higienizar os grandes centros, que buscavam ser pontos de qualidade de vida. A canalização foi adotada como solução para esses problemas, com muitos córregos passando por baixo das cidades. Hoje, pouca gente sabe que rios correm sob seus pés.
Outra função das canalizações era combater as enchentes. Ao reter os rios, a ideia era fazer com que eles não transbordassem e seguissem seu fluxo, principalmente em áreas próximas a eles, conhecidas como várzea. Como as cidades cresciam rápido e mais pessoas viam a necessidade de ocupar essas regiões, o perigo de inundação era cada vez maior.
Por mais que a canalização seja vista hoje por alguns especialistas como um problema, na época de desenvolvimento do País foi entendida como uma forma eficiente de resolver casos urgentes.
Consequências da canalização
Uma das consequências geradas é justamente o que a técnica buscava solucionar: a poluição das águas. Muitos esgotos foram direcionados para os córregos, sujando a água e aumentando o mau cheiro, como pode ser visto no rio Tietê, em São Paulo.
A população começou a ocupar as margens dos rios que sobraram, construindo casas e lançando esgoto e lixo diretamente nas águas. A falta de saneamento nessas áreas só contribuiu para que a poluição tomasse maiores proporções.
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Outro grande impacto é a impermeabilidade do solo, já que a água não tem como ser absorvida e acabar correndo, encontrando muitas vezes bueiros e bocas de lobo entupidas com lixo, fazendo com que as chuvas não tenham por onde escorrer e acabem tomando conta das áreas mais baixas das cidades.
O ponto crucial é que, ao canalizar um rio, ele ganha mais volume e velocidade quando as chuvas se intensificam, agindo com maior violência e se transformando em uma força difícil de ser contida, mas que está apenas seguindo o seu caminho natural.
Revitalização
Para alguns, a solução é revitalizar os rios para que voltem a seguir seus trajetos e fazer o processo natural de drenagem. Um exemplo desse pensamento é o projeto Rios e Ruas, do geógrafo Luiz de Campos e do arquiteto José Bueno, que tem como objetivo trazer de volta os rios e córregos cobertos pelo processo de urbanização.
A iniciativa visa, entre outras coisas, reduzir inundações, restabelecer as vidas vegetal e animal, combater a poluição e permitir que as áreas se tornem espaços de lazer. Dessa maneira, revitalizar os rios ajudaria na transformação urbana e proporcionaria melhor qualidade de vida aos moradores.
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