O sistema de entregas rápidas com motoboy por aplicativo conquistou espaço nas últimas décadas graças ao diferencial da agilidade. Para os profissionais da área foi a oportunidade de melhorar o faturamento e de ter flexibilidade para determinar a própria carga horária, trajeto ou demanda. Há cerca de cinco anos, quando empresas como a Loggi, Ifood, Rappy ainda eram novidade no mercado, um único motoboy chegava a receber cerca até R$ 8 mil ao longo do mês em uma cidade como São Paulo.
A diferença, comparada à média dos profissionais contratados por empresas de entregas rápidas, era significativa na época: quase três vezes mais.
É o caso de Roberto Amato Neto, que está há dez anos na profissão e há três trabalhando com aplicativos. Como contratado, a conta era simples, afirma. Ele sabia quanto precisava trabalhar e o quanto ia receber ao final do mês.
Atraído pelos valores dos fretes e pela flexibilidade de horário, deixou o emprego e investiu na novidade, assim como muitos dos seus colegas. Só que serviços similares surgiram no mercado. Com a concorrência, o valor do frete baixou. Atualmente, Amato Neto recebe aproximadamente R$ 2 mil, fazendo a mesma carga horária e alega que mesmo que triplicasse o horário não chegaria à antiga remuneração.
Erick Ronald Nunes de Arauo é autônomo e já trabalhou com aplicativo. Quando era interessante, chegava a ganhar cerca de R$ 5 mil por mês, trabalhando das 8h às 17h. Desistiu da novidade porque a remuneração diminuiu muito. Para manter aquele salário precisaria trabalhar pelo menos 13 horas por dia numa cidade como São Paulo.
Se por um lado as facilidades da tecnologia, como o serviço de geolocalização, foram benéficas para melhorar a conexão com os serviços e com os clientes, por outro lado promoveu o que Rodéric Tobler de Morais chama de “sucateamento da profissão”. Para o motoboy, as empresas de aplicativo entraram no mercado vendendo uma ilusão que não se manteve por muito tempo. Segundo ele, hoje quem discorda das regras é dispensado e bloqueado pelo aplicativo.
Na Motoboy.com, que surgiu em 2013, o CEO Jonathan Pirovano explica que os motoboys ganham, em média, R$ 30 por corrida numa cidade do porte de São Paulo, enquanto a meta diária é alcançar R$ 200 por dia. Segundo ele, alguns profissionais chegam a faturar acima de R$ 4 mil por mês. A empresa tem sede em Joinville (SC), mas está presente em 140 cidades brasileiras, com mais de 50 mil entregadores cadastrados e 130 mil clientes atendidos.
A reportagem também tentou entrar em contato com a Loggi, mas ao longo de duas semanas não obteve nenhuma resposta da empresa.
O impacto em todo setor pode ser verificado com o número de empresas de entregas rápidas que encerraram suas atividades. De acordo com Fernando Souza, presidente do Sindicato das Empresas de Distribuição das Entregas Rápidas do Estado de São Paulo (Sedersp), das 12,5 mil empresas existentes em 2016 em todo o estado, hoje esse número caiu para menos da metade. São apenas 4,2 mil. Hoje, em São Paulo, os profissionais celetistas ganham piso de R$ 2,7 mil mais benefícios.
Para Gilberto Almeida, presidente do Sindicato dos Motoboys do Estado de São Paulo (Sindimoto), os serviços de aplicativos representam um retrocesso de mais de uma década para a categoria. Além de achatar os salários e acabar com os empregos formais, provocou uma mudança no perfil dos trabalhadores, que hoje encaram a profissão como um “bico”.