Nos grandes centros urbanos, o espaço entre as calçadas e a faixa de tráfego, local tradicionalmente destinado para estacionamento de veículos, tem sido cada vez mais disputado. Bicicletas, patinetes, acessos a garagens, serviços de entrega e veículos por aplicativo, todos competem pelo mesmo pedaço de asfalto.
Fazer a organização desses espaços, ou a gestão do meio-fio, nome usado pelos especialistas, é um dos grandes desafios atuais da mobilidade. Entretanto, enquanto o Brasil engatinha nesse campo com medidas como corredores para ônibus e ciclofaixas ainda gerando polêmica, outros países avançam nesse sentido com usos diferenciados e adaptados à dinâmica da população.
De acordo com Luis Antonio Lindau, diretor de cidades do WRI Brasil, no País ainda há predominância de soluções estáticas, como uso de sinalização horizontal e vertical. “Por exemplo, zonas de carga e descarga, que estão delimitadas e vão operar o dia todo, nos horários especificados, ou mesmo placas de proibido estacionar”, explica.
Mas o que ocorre atualmente em diversas cidades do mundo é o uso de uma sinalização dinâmica. “De modo que um local onde é proibido estacionar possa, em outro momento, ter indicação permitindo a parada”, diz.
Nesse sentido, os dados coletados pelas empresas de aplicativos da movimentação de pessoas ou mesmo das autoridades de trânsito e outras têm ajudado os gestores urbanos a darem vocações melhores para esses espaços. Confira, a seguir, alguns exemplos.
São Francisco, na Califórnia (EUA) adotou o Demand-Responsive Parking Pricing, um sistema em que os preços para estacionar veículos no meio-fio variam de acordo com a região da cidade e com o horário.
Assim, a tabela vai de estacionamento gratuito ao pagamento de mais de US$ 6 por hora, dependendo da movimentação do local – levando em conta todos os modais, embarque e desembarque de passageiros e os serviços – e os horários de pico das vias.
Dessa forma, a população pode fazer a consulta por um mapa da cidade, disponível no site ou mesmo no aplicativo da autoridade de trânsito local.
Singapura também adota a precificação dinâmica para o estacionamento no meio-fio. A tarifa varia de acordo com a demanda, sendo mais alta em horários de pico e em áreas mais movimentadas. “Esse sistema busca equilibrar a demanda pelo espaço público e desincentivar o uso prolongado de veículos em áreas congestionadas”, explica Lindau.
O Departamento de Transporte da Cidade de Los Angeles está implementando um projeto piloto chamado Code the Curb, que está fazendo um inventário digital dos usos do meio-fio na cidade, além dos diferentes equipamentos disponíveis.
Isso inclui sinalização, pinturas do meio-fio que descrevem os usos permitidos, entre outros. Como resultado, a tecnologia da plataforma permitirá, no futuro, ir além da precificação dinâmica de estacionamento, mas orientar os entregadores em tempo real sobre o melhor local para descarga ou entrega de mercadorias, por exemplo.
Estocolmo, capital da Suécia, adota um sistema de gestão dinâmica dos espaços entre as calçadas e a faixa de tráfego, capaz de ajustar o uso das áreas de meio-fio com base na demanda em tempo real. Esses locais são utilizados para diversos fins em diferentes horários do dia, como estacionamento, entrega de mercadorias e áreas de circulação para pedestres e ciclistas, com sinalizações dinâmicas.
Nova York (EUA) tem implementado plano de ação abrangente para requalificar o uso do meio-fio na cidade com a ajuda da inteligência artificial e participação da população. “No fim de 2023 a cidade iniciou o piloto do Smart Curbs, zonas de meio-fio inteligentes que buscam maximizar o uso dinâmico dessas áreas para diferentes atividades, como estacionamento, carga e descarga, e áreas para táxis e caronas”, diz Lindau.
A população participa, podendo informar em um mapa os tipos de uso do meio-fio observados no dia a dia, como estacionamento em fila dupla, vagas desocupadas, locais para embarque e desembarque de pessoas, entre outras situações. As informações vão ajudar a cidade a fazer um inventário dos usos do meio-fio e irão servir de subsídios para a criação de Políticas Públicas.