“O recorde mundial de eficiência de gasolina, feito na competição de 2009, é de 3.771 km por litro. Não conheço as distâncias do Brasil, mas na Europa isso seria o suficiente para ir de Londres a Roma e voltar”, conta Norman Koch, gerente geral global da Shell Eco-Marathon, tradicional competição de eficiência energética em veículos que reúne estudantes universitários.
Na edição brasileira de 2024, que ocorre no Rio de Janeiro entre os dias 28 e 30 de agosto, 41 automóveis foram inscritos por competidores do Brasil, Bolívia, México, Colômbia e Peru. “Para vocês terem uma ideia, em 15 km os carros usam apenas uma colher de chá de combustível”, enfatiza o organizador.
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Os padrões de eficiência energética da Shell Eco-Marathon impressionam, mas são realidade apenas em eventos do tipo. Os carros ultra-leves, em forma de gota e com bancos inclinados e desconfortáveis, podem até ser mais econômicos, mas são impraticáveis no dia a dia. No entanto, ainda assim a competição tem um papel importante: o de gestar inovação e formar engenheiros que tenham visão focada em eficiência energética.
“O ponto da competição é estimular a mente dos engenheiros. O futuro são as ideias que eles têm para tornar os carros mais leves, com menos fricção e mais eficiente. Nenhum time tem uma solução completa, mas todos têm um milhão de ideias que promovem a eficiência”, explica Koch.
De acordo com o organizador, a corrida incentiva os estudantes a desenvolverem tecnologias com foco em eficiência de automóveis, que posteriormente podem ser aplicadas nas ruas, e também capacita engenheiros para pensar em soluções inovadoras nessa área.
Um exemplo de tecnologia que foi testada na competição nos anos 80 e 90 e depois se propagou nas ruas é o desligamento automático do motor quando o carro para. “Por que vou precisar gastar gasolina se meu carro está parado?”, argumenta o gerente da competição.
Por fim, o organizador enfatiza que “a tecnologia não é nossa, nós apenas oferecemos a plataforma. As universidades têm a missão de proteger suas propriedades”.
A Shell Eco-Marathon aceita dois modelos de veículos. Em primeiro lugar, os protótipos, que “são aerodinâmicos, achatados e com forma de gota, possuem três rodas e um banco inclinado. Nessa categoria queremos que os participantes implementem qualquer ideia possível, o céu é o limite. Tudo pode ser feito nesse carro para promover a eficiência”, explica Koch.
A segunda categoria é a de carros de conceito urbano. “Eles também precisam ser eficientes energeticamente, mas são desenhados para emular um carro de cidade, algo que eu e você podemos dirigir no futuro”. Por isso, os automóveis dessa categoria têm quatro rodas, portas, limpadores de para-brisa e outros equipamentos de um veículo tradicional.
Dentro de cada uma das categorias podem ser inscritos carros com diferentes fontes de energia: motor a combustão interna (movidos a diesel, gasolina ou etanol), bateria elétrica e hidrogênio. Sendo assim, há seis subdivisões diferentes em que os estudantes podem competir e seis vencedores na competição.
Um carro movido à hidrogênio de conceito urbano, por exemplo, só vai disputar com outros com as mesmas características. O objetivo é testar quão eficientes podem ser essas energias e incentivar o desenvolvimento de ferramentas que tornem os carros ainda mais econômicos.
“Diferentemente da Fórmula 1, na Shell Eco-Marathon os automóveis correm um por um. Eles têm que cumprir 10 quilômetros em um tempo fixo, podem ir o mais rápido que conseguirem, mas não o mais devagar que quiserem, porque, logicamente, quanto mais devagar, maior a eficiência energética”, explica Koch.
A velocidade mínima que os carros podem chegar é 25 km/h. “Quando eles voltam, medimos quantos mililitros de combustível por quilômetros eles usaram, ou quantos quilowatts de energia ou metros cúbicos de hidrogênio”, detalha.
Vale lembrar que antes de correr os automóveis passam por uma inspeção técnica de 120 itens. O objetivo é verificar a segurança dos automóveis e a adequação com as regras da corrida. Por exemplo, evitando baterias ou tanques de combustíveis escondidos.
Os primeiros lugares ganham US$ 1.500 em cada uma das categorias, o segundo lugar US$ 1.000 e o terceiro US$ 500. No entanto, “há muitas outras razões para estudantes se inscreverem na Shell Eco-Marathon. A maior delas é obter conhecimento, muitos querem fazer algo significativo e testar o conhecimento na prática”, ressalta Koch.
“Ao mesmo tempo, o programa coloca estudantes em evidência, pois muitas empresas contratam quem participou da Shell Eco-marathon. A Ferrari, por exemplo, tem um projeto de estágio de seis meses para quem esteve no evento”, ele explica. Por fim, a competição também ajuda os futuros profissionais a conhecerem a realidade do mercado, trabalhando com dinheiro e tempo limitado, além de promover o trabalho em equipe.
* O jornalista viajou ao Rio de Janeiro a convite da Shell