Tecnicamente, a Motz se considera uma transportadora. Mas, da mesma forma como o Uber não tem carro próprio, a startup criada em abril de 2020 não tem nenhum caminhão para chamar de seu. A despeito da ausência de frota, o CEO da empresa, André Pimenta, afirma que a startup movimentou 15 milhões de toneladas no ano passado e este ano o número já está em quase 19 milhões de toneladas – crescimento de 27%.
Por meio de um aplicativo (mais uma vez, como no Uber), a Motz faz a conexão entre o cliente que tem uma carga a ser transportada (que Pimenta chama de “embarcador”) com o motorista autônomo, que normalmente não tem o suporte de uma transportadora.
“A gente facilita a vida do motorista autônomo, que consegue procurar a carga de forma digital, sem ter de se deslocar”, diz o CEO da startup. “Se ele está em uma determinada cidade, basta olhar no aplicativo para ver se tem carga que seja de seu interesse, ver se dá ‘match’ com o caminhão”, diz.
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De acordo com o executivo, o sistema é útil para as duas “pontas” da operação. “Para o embarcador, é uma vantagem, porque a Motz tem mais de 50 mil motoristas cadastrados em sua base, uma ampla oferta de caminhão. Pelo prisma do caminhoneiro, ele pode encontrar carga o tempo todo, não fica parado. Se entregou um frete, não volta com uma ‘perna vazia’ (sem carga)”, diz.
Segundo Pimenta, isso não seria possível “sem o arcabouço tecnológico por trás da operação”. “Não daria para fazer sem a garantia de estabilidade do sistema. Isso permite velocidade entre o momento de dar ‘o aceite’ da carga e o pagamento. Esse é o grande diferencial nosso”, afirma, lembrando que o motorista não paga nada pelo serviço. De acordo com o executivo, a operação é remunerada pelo embarcador, que é o contratante do serviço. “Negociamos (com o embarcador) como uma transportadora tradicional. O motorista apenas dá o aceite e não paga nada.”
O executivo acrescenta que a operação da empresa vai além de aproximar carga e caminhão. De acordo com ele, a Motz é responsável por todo o processo da carga, incluindo seguro e emissão de documentos. Nesse aspecto, ele reforça que a startup “tem similaridade” com uma transportadora tradicional.
Além disso, ele garante que o processo de pagamento é feito eletronicamente. De acordo com o executivo, o processo de pagamento é uma “dor” para o motorista no sistema convencional – que ele chama de “analógico” -, muitas vezes envolvendo pagamentos em cheque ou carta-frente. “Não emitimos papel”, garante, acrescentando que o motorista tem garantia de recebimento. Segundo ele, o profissional recebe um adiantamento quando sai para fazer a viagem, com pagamento transferido eletronicamente. Ao realizar a entrega e fazer a quitação da viagem pelo aplicativo, recebe automaticamente o restante.
O executivo diz que a digitalização dos motoristas autônomos é um processo que está em evolução, mas que não deve ser adotado em massa no curto prazo. “Tem motoristas que operam na estrada há 20, 30 anos, que faziam o processo analógico”, informa, numa referência ao processo de contratação das viagens e do recebimento. Por isso, ele diz que a transição está sendo mais cadenciada, e em determinadas bases da empresa (são mais de 100 espalhadas pelo País) o atendimento é pessoal.
“Antes, ele falava com alguém, então é um processo”, diz, acrescentando que o número de motoristas que aderiram ao sistema vem subindo, mas é “uma jornada que ainda deve demorar cinco ou dez anos”. “O mercado digital vem crescendo há cerca de seis anos”, afirma, acrescentando que a Motz está “entre as três maiores” do segmento no País, em termos de volume transportado.
De acordo com Pimenta, o profissional autônomo interessado em adotar a modalidade deve baixar o aplicativo da Motz e fazer o cadastro, com seus dados pessoais e do caminhão. Ao contrário do Uber, que estabelece um ranking com estrelas tanto de motoristas quanto de usuários, o executivo diz que o aplicativo da Motz ainda não faz classificação dos motoristas. Porém, ele diz que, com o uso cada vez maior de inteligência artificial, será possível em breve estudar a “recorrência” do motorista, e a partir de seu comportamento oferecer a carga mais adequada a seu perfil.
Atualmente, ele diz que o cliente (dono da carga) pode exigir alguns requisitos específicos, relacionados ao tipo de caminhão, itens de segurança, histórico dos motoristas etc., para selecionar o tipo de transportador que deseja.
Pimenta também informa que a plataforma tem buscado parcerias com empresas que possam oferecer benefícios aos motoristas que utilizam o aplicativo. Ele diz que recentemente fechou parceria com uma empresa para concessão de desconto na compra de pneus, e acrescenta que tem buscado também concretizar promoções com postos de combustíveis, para obtenção de descontos em óleo diesel, e também com restaurantes. “O preço do diesel tira rentabilidade do negócio dele (motorista)“, diz.
A Motz nasceu, em 2020, com capital integral da Votorantim Cimentos, e no início operava apenas movimentando as cargas da Votorantim. Após um ano de trabalho exclusivo para a empresa “mãe”, a startup passou a atender outros clientes. O foco, no entanto, continua a ser as cargas de grande volume, como produtos do agronegócio, mineração, fertilizantes e também a indústria cimenteira, incluindo as concorrentes da Votorantim.