Travessias ‘consertadas’ pela prefeitura de SP continuam inseguras, diz Corrida Amiga

Prefeitura disse que “semáforos que apresentaram tempo reduzido de travessia no estudo do Instituto Corrida Amiga, de 2024, estavam com defeito e passaram por manutenção”. Foto: adobe.stock.com

Há 3 dias - Tempo de leitura: 2 minutos, 54 segundos

O Instituto Corrida Amiga, em resposta a uma declaração feita pela Prefeitura de SP à reportagem do Estadão Mobilidade, verificou 25 travessias apontadas como críticas na última campanha Travessia Cilada. Ao contrário do que foi divulgado pela gestão municipal, que afirmou que todas haviam passado por manutenção, o instituto identificou que 90% continuam sem tempo de travessia seguro para crianças e pessoas com deficiência.

A pesquisa, que já teve duas edições, fiscaliza locais inseguros para travessia de pedestres, as “ciladas”. Em 2024, última da campanha, 167 travessias inseguras foram mapeadas em 21 cidades brasileiras.

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O Estatuto do Pedestre de São Paulo determina que o tempo suficiente para uma travessia deve levar em conta velocidades seguras. As velocidades, nesse sentido, são de 0,6 m/s para crianças e PCDs, 0,8 m/s para idosos e 1 m/s para adultos. Ou seja, um cruzamento de 10 metros, o tempo mínimo seria de seis segundos.

44% das travessias têm entre 4 e 5 segundos de tempo verde

Segundo verificou o Instituto Corrida Amiga, 44% dos semáforos que a Prefeitura teria “consertado” mantêm entre 4 e 5 segundos no sinal verde. É, assim, o mesmo valor encontrado no estudo para a campanha de 2024. Em todos os locais analisados, a largura da via é maior que 10 metros. Em um deles, por exemplo, na faixa de pedestres entre as avenidas Sumaré e Turiassu, zona oeste da capital, a distância chega a 32 metros. Seriam necessários 19 segundos para uma pessoa com deficiência fazer a travessia em segurança neste cruzamento.

Outro problema para segurança dos pedestres é o tempo muito longo de sinal vermelho. A espera excessiva estimula comportamentos de risco entre os pedestres, afirma o estudo. Em 2024, o tempo médio de espera do pedestre foi de 2 minutos e 11 segundos, contrastando com um tempo médio de travessia de 7 segundos.

No caso das 25 travessias reanalisadas, o tempo médio de espera caiu de 120 para 98 segundos, mas mais da metade das travessias ainda ultrapassa 90 segundos. Uma delas ultrapassou 3 minutos. Os ciclos de curta duração ideais variam entre 60 e 90 segundos, conforme o relatório de uma agência de transporte municipal de São Francisco de 2013.

O que disse a Prefeitura de São Paulo

A Prefeitura de São Paulo, através da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), disse à reportagem do Estadão Mobilidade durante o Maio Amarelo que vem trabalhando na reprogramação do tempo de travessia em diversos cruzamentos da capital paulista. Nos últimos quatro anos, 32 importantes corredores viários da cidade passaram por adequação do tempo de travessia dos cruzamentos, de acordo com nota da Prefeitura de SP. Os “semáforos que apresentaram tempo reduzido de travessia no estudo do Instituto Corrida Amiga, de 2024, estavam com defeito e passaram por manutenção”, disse a CET, nesse sentido.

Contudo, para Silvia Stuchi, coordenadora da pesquisa de 2024 e da última atualização, a readequação semafórica anunciada pela CET é insatisfatória. “Mantém a lógica da regulação semafórica que privilegia a fluidez dos veículos, em detrimento do deslocamento a pé. Crianças, idosos e pessoas com deficiência seguem desassistidas em quase 90% das travessias analisadas. É vital que essa pauta continue ganhando visibilidade, com a urgência e a importância que exige, pois estamos falando, acima de tudo, da priorização das vidas”, ressalta.