Mais do que uma forma de locomoção de um ponto a outro, algumas pessoas encontraram na mobilidade um propósito, um estilo de vida. Pessoas que, de fato, transformaram sua jornada em destino, e têm inspirado outros a fazerem o mesmo. Esse é o caso de Nestor Freire, 55 anos, engenheiro e criador do projeto Giraventura, que consiste em percorrer, durante 15 anos, vários países com sua bicicleta e fazer o registro da expedição.
Ele conta que seu amor pela bike começou bem cedo, na infância. “Eu passava alguns finais de semana em Itapecerica da Serra, região metropolitana de São Paulo, no rancho do meu avô. Eu tinha 6 anos na época, e me encantava com as estradas de terra que cortavam a região, pedalando em uma bicicleta que ganhei dos meus pais”, conta.
Em 2012, uma amiga o convidou para uma viagem com um grupo na região da Patagônia, na Argentina. “Voltando de lá, senti que a bicicleta poderia ser mais do que uma experiência física, mas um estilo de vida. Então, criei um projeto de viagens de bicicleta por 15 anos pelo mundo. O que, a princípio, era um hobbie foi tomando forma”, explica Freire. Esse foi o início do Giraventura, que, como o criador explica, foi inspirado na obra Jornada do Herói, do escritor Joseph Campbell (1904–1987).
A virada de chave veio, em 2017, quando o ciclista percebeu que o registro que fazia de sua jornada encantava as pessoas, e que poderia ser uma profissão. “Fiz um planejamento financeiro e de vida para deixar meu trabalho, como engenheiro de vendas, e me transformar em escritor. Passei a viajar de bike para escrever e escrever para voltar a viajar”, explica.
Mais do que curiosidade, ele percebeu que as pessoas se inspiravam em sua jornada. “Eu sempre associava aprendizados e os encontros das viagens de bike com autoconhecimento, e isso levava as pessoas a refletirem sobre seu estilo de vida”, explica. De lá para cá, Freire já pedalou 43 mil quilômetros, em 24 países, e, no momento em que deu esta entrevista, estava na Islândia, na fase 10 do projeto. “O ciclismo proporciona muitas coisas, principalmente novos relacionamentos. Isso me trouxe muito conhecimento e a certeza da missão da minha vida: sou encantado em inspirar pessoas, e fico grato por servir de base para a mudança de vida delas.”
Entre tudo o que já viu pedalando sua bike, Freire destaca locais que mais chamaram sua atenção. “Sempre digo que cada país tem a sua peculiaridade. Se a Holanda é um exemplo mundial de ciclomobilidade e mobilidade ativa, o Brasil também tem seus atrativos, como Afuá, na Ilha do Marajó, nosso maior exemplo de como a mobilidade ativa pode ser integrada à sociedade, mesmo com um baixo índice de educação, comparativamente com outros países, como Holanda e Dinamarca”, diz.
A atriz Aline Jones, 31 anos, e o empresário Andre Diamond, 48, encontraram, nas viagens longas de aventura, uma paixão comum. O veículo usado é uma Kombi 1996, comprada, em 2015, por Aline, em um leilão do Exército. “Logo que começamos a namorar, a minha paixão por ecoturismo se uniu à da Aline pelas viagens de Kombi, e passamos a fazer isso juntos”, diz Diamond.
O casal já viajou do litoral do Estado do Rio Grande do Sul (RS) ao de Santa Catarina (SC), contabilizando quase 500 quilômetros de estrada. Hoje, se preparam para uma jornada mais longa. “Vamos até Ushuaia, na Argentina, e iremos percorrer mais de 5.700 quilômetros. Para isso, neste momento, a Kombi está passando por uma revisão para termos certeza de que o veículo estará nas condições devidas para chegarmos ao nosso destino”, explica Diamond.
Para eles, um aspecto muito importante dessas viagens é o estado de presença que a aventura possibilita. “Uma viagem de Kombi te propõe um outro tempo, um outro ritmo. É um veículo que atinge 80 quilômetros por hora, e o objetivo não é chegar rápido a Ushuaia, mas sim aproveitar o caminho até lá”, explica o empresário. Para ele, estar em um ambiente com menos conforto nos faz valorizar outras situações cotidianas que acabam passando despercebidas. “As viagens de aventura têm como primeiro ponto o de te desafiar, e nos fazem valorizar um momento que estamos dormindo numa cama, por exemplo, justamente porque sabemos como é o outro lado”, finaliza.