Desde o século 19, quando medições climáticas começaram a ser feitas — e o mundo viveu a Revolução Industrial —, a temperatura média do planeta aumentou em 1,1º Celsius. Isso aconteceu principalmente por causa das emissões de dióxido de carbono — e outros gases que se acumulam na atmosfera, impedem a irradiação do calor e transformam o planeta em uma estufa.
Em meio à onda de calor extremo que se alastra pelo hemisfério norte neste verão, o secretário-geral das Nações Unidas, Antonio Guterres, lançou um alerta para representantes de mais de quarenta países reunidos na última segunda-feira para o Diálogo Climático de Petersberg, na Alemanha. “Nós temos uma escolha”, afirmou, pedindo mais ações contra o aquecimento global. “Ação coletiva ou suicídio coletivo. Está em nossas mãos.”
No dia 19 de agosto, o secretário-geral da Organização Meteorológica Mundial (OMM), Petteri Taalas, seguiu a mesma linha de Guterres. “As ondas de calor vão ser cada vez mais frequentes e extremas; que a atual situação (da Europa) sirva de alerta para políticos do mundo inteiro.”
EUROPA EM CHAMAS
“O aumento médio da temperatura global é de 1,1ºC, o que parece pouco. Mas uma elevação equilibrada. Isso significa que, em alguns lugares vai esfriar e, em outros, vai esquentar muito. Para uns, a situação será difícil; para outros, impossível”, explicou o secretário executivo do Observatório do Clima, Márcio Astrini.
“O sexto relatório do IPCC divulgado no ano passado, por exemplo, mostra que, em média, o semiárido brasileiro registra dois eventos de seca extrema por década. Entretanto, dependendo do aumento médio das temperaturas, pode passar a registrar até cinco eventos desses por ano, o que inviabiliza a agricultura, porque não haverá tempo hábil para a recuperação do solo.”
BRASIL NA CONTRAMÃO
“Estamos completamente na contramão mundial”, afirma o climatologista Carlos Nobre, um dos principais pesquisadores de mudanças climáticas no País. “As nossas emissões explodiram nos últimos anos, vivemos uma situação trágica. Em termos de emissões brutas, já alcançamos 10,5 toneladas por habitante por ano, um número bem similar ao da China e da Alemanha, por exemplo. Isso nos coloca numa situação muito preocupante para alcançar as metas assumidas em 2016 de reduzir em até 50% as emissões do país até 2030″
O pesquisador José Marengo, do Cemaden, lembra que, no Brasil, extremos climáticos também já estão mais frequentes. É o caso das secas e das enchentes deste ano, que desde dezembro passado já deixaram mais de 500 mortos.