‘Dia Total’ promove atividades físicas em parque na zona leste de São Paulo

Participantes de um dos encontros diários do Dia Total: saúde e bem-estar ao ar livre. Foto: divulgação

04/05/2022 - Tempo de leitura: 3 minutos, 50 segundos

Todos os dias, dezenas de pessoas se reúnem em um parque de Guaianases, extremo leste da cidade de São Paulo. Das 6h às 8h, o grupo faz exercícios físicos e dança, mas não há passos certos ou coreografias. Movimentar o corpo e fugir do sedentarismo é o principal objetivo da iniciativa voluntária Dia Total. Os encontros são gratuitos.

Criador e coordenador do projeto de promove as atividades físicas ao livre, Felipe Bezerra, de 31 anos, conta que o nome surgiu após uma reflexão sobre como muitas pessoas, com o passar do tempo, apenas contam os dias. “O conceito Dia Total mostra que o único momento onde podemos fazer algo é hoje. É no hoje que devemos dar 100% de entrega em todas ações, das mais simples até as mais complexas”, afirma. Além de coordenar o Dia Total, Felipe é formado em educação física, tem pós-graduação em Educação Especial e dirige uma escola pública na região.

Participantes se exercitam no Dia Total: estímulo aos idosos. Foto: divulgação

Público-alvo — De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), São Paulo está entre os estados com maior número de idosos. Cerca de 11,6% dos habitantes têm mais de 60 anos. No Brasil, essa população representa 10,8% das pessoas.

“Nosso maior público são mulheres que variam entre 30 e 67 anos. Elas são da periferia, e vêm sendo sobrecarregadas durante anos com suas jornadas duplas de trabalho, que cuidam dos filhos, dos netos, da casa e que, no final de todo um dia, não conseguiram cuidar de si em questões de saúde física e mental”, pontua Felipe Bezerra.

SOBRE O DIA TOTAL

Criado em outubro de 2016 em Guaianases, no Parque Linear Guaratiba, o projeto Dia Total oferece exercícios ao ar livre. A ideia surgiu após Felipe ficar três meses internado no hospital depois de um assalto que sofreu. Na internação percebeu que muitas mortes de idosos eram decorrência do sedentarismo ou de doenças que poderiam ser prevenidas com exercícios físicos.

COMO PARTICIPAR

Os encontros têm duração de uma hora. É só chegar.
Endereço: Rua Salvador Gianetti, 305, Guaianases, São Paulo (SP) Seg. a sex (6h às 7h); sáb. (7h às 8h)

O professor de educação física Felipe Bezerra coordena o Dia Total, que tem o apoio de outros professores voluntários. Foto: divulgação

Como funciona — Felipe, junto a outros professores de educação física nascidos na região, fazem aulas públicas ao ar livre com atenção especial para os idosos, de segunda a sábado. Uma vez por mês um domingo é escolhido para a Aulão da Gratidão, quando são recebidas doações de alimentos para entidades que as distribuem ao público mais velho em situação de vulnerabilidade social.

Funcionando diariamente desde 2016, o Dia Total já contabilizou mais de 2 mil horas de atividades físicas para mais de 3,2 mil pessoas. “Onde moramos carece demais de projetos como esse”, diz Bezerra.

Por muitos anos os cuidados preventivos com a saúde foram arrancados das pessoas nas periferias. Foram gerações dizimadas por diversas doenças, como diabetes, obesidade, osteoporose, artrite e doenças psicológicas, o que na pandemia piorou (Felipe Bezzera, coordenador do Dia Total)

Sem parar — Para não que o público se exercitando na pandemia, a equipe do Dia Total ensinou os idosos a usar as mídias sociais, ofereceu aulas ao vivo nas redes sociais e treinos gravados para grupos de WhatsApp.

“As pessoas da periferia já morrem por dentro por conta de olhares, preconceito e racismo”, diz Felipe. “A importância desse projeto para as comunidades é de devolver a construção da autoestima e a vida além do trabalho que foi retirada das pessoas das periferias.”

CENÁRIO BRASILEIRO

Na pesquisa Covitel, um levantamento desenvolvido pela Vital Strategies e a Universidade Federal de Pelotas (UFPel), com apoio da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), 13% dos participantes afirmaram não fazer nenhuma atividade física no lazer, trabalho ou deslocamento antes da pandemia. Em 2022, esse número subiu para 18%.

Quando se trata das pessoas que praticam o mínimo recomendado pela Organização Mundial da Saúde (150 minutos de atividade física de intensidade moderada por semana), o número caiu de 37% para 30%.

Ainda segundo a Covitel, 13,5% dos brasileiros haviam recebido diagnóstico médico de depressão no primeiro trimestre de 2022, diante de 9,6% em 2019.