Morador da comunidade Aglomerado da Serra, em Minas Gerais, Rafael Freire da Silva Ferreira, de 28 anos, retrata a comunidade com outras lentes. Há sete anos o “fotógrafo da favela”, como é conhecido, mostra histórias locais em um projeto social.
Rafael conta que sempre gostou de fotografia, mas se via impedido de iniciar nesse ramo por sua condição financeira. Essa percepção mudou com a ajuda de uma amiga e também com o incentivo de uma professora.
Quando trabalhava em uma papelaria, conheceu uma amiga que o questionou sobre seus sonhos. Rafael respondeu que gostava de sonho de chocolate, mas, no fim, contou que gostaria de ser fotógrafo. A moça comprou uma máquina fotográfica e entregou a ele, afirmando que era um empréstimo. Além de pagar a câmera, Freire iria fotografar o casamento da amiga.
Motivado e com vontade de voltar a estudar — ele tinha deixado a escola para trabalhar e ajudar sua mãe —, Rafael Freire ingressou na Educação de Jovens e Adultos (EJA). Por lá, conheceu Fátima, uma professora. Ela o incentivou a seguir nos estudos e, conhecendo seu trabalho, indicou Rafael para uma vaga de fotógrafo na própria escola.
Há alguns anos, uma guerra entre facções criminosas deixou a comunidade do Aglomerado da Serra deserta. Freire fotografou as ruas vazias, os comércios fechados, a ausência de pessoas. Ao levar as imagens à escola onde trabalhava, incentivou as crianças a escreverem o que sentiam. Uma das alunas disse, em forma de poesia, que se sentia triste por não achar uma flor amarela na favela.
A resposta aguçou a sensibilidade visual de Freire, que, após algumas pesquisas, descobriu que favela é um tipo de arbusto que nasce nos locais mais difíceis, de seca extrema, e produz frutos e flores brancas. O conhecimento foi fundamental para a escolha do nome do projeto social: Favela, a Flor que se Aglomera.
O objetivo do Favela, a Flor que se Aglomera é resgatar a autoestima e mostrar a potência das pessoas da comunidade, fazendo ensaios fotográficos gratuitos para jovens sem condição financeira poderem mostrar suas habilidades. Os trabalhos feitos até agora resultaram em oportunidades de emprego, muitas em agências de modelos.
“Meu projeto é uma forma de resistir. É a minha forma de mostrar a beleza das pessoas que vivem em comunidade. Quero fazer com que sonhos se tornem realidade para pessoas pretas. Hoje ainda não consigo ajudar todos que chegam a mim, mas eu espalho essas histórias para outras pessoas que podem ter condição de ajudar”, diz Freire.
Atualmente, o projeto é feito só pelo fotógrafo, mas pessoas que moram na favela sempre contribuem. Seu desejo é alcançar várias comunidades e percorrer o mundo.
Na internet — Nas redes sociais, o trabalho de Rafael pode ser visto e compartilhado no YouTube e no Instagram (@aflorfavela e @rafaelfreiiire). Dá para contribuir financeiramente. O link está na biografia dos perfis.